"O universo é infinito. Pois aquilo que é limitado possui um extremo, mas um extremo só pode ser percebido comparando-o com algo diferente. (Ao lado do universo, porém, nada é perceptível.) Já que o universo não possui limite, e já que não possui limite, deverá ser limitado e infinito." Epicuro - Carta a Heródoto
O aumento médio da
temperatura da Terra nos últimos anos está trazendo verões mais quentes, com
trovoadas mais fortes e maior número de relâmpagos. Segundo o Grupo de
Eletricidade Atmosférica (Elat), ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE), morrem no Brasil cerca de 120 pessoas anualmente devido às
descargas de raios. A tendência é que quanto mais alta a temperatura, maior a
incidência destas descargas elétricas. Devido à sua localização geográfica e
extensão territorial, o Brasil é o país no mundo com maior incidência destes
fenômenos atmosféricos.
Os raios são gigantescas
faíscas de eletricidade estática, geradas durante uma tempestade. A
eletricidade forma-se dentro de nuvens do tipo cumulonimbus, que alcançam 18 quilômetros
de altitude, onde as temperaturas estão em torno dos 60ºC negativos. As faíscas
elétricas ocorrem dentro de uma mesma nuvem, entre duas nuvens e entre uma nuvem
e o solo. Como e porque se formam estas imensas descargas, ainda não está
completamente explicado pela ciência. O ar em torno de um relâmpago chega a
30.000 graus Celsius (a temperatura da superfície do Sol é de 6.000ºC) e estas
partículas aquecidas da atmosfera são chamadas de plasma, emitindo a luz característica
da faísca. A tensão contida num raio chega a 100 milhões de volts, com uma
intensidade de 30 mil ampères (cerca de mil vezes a intensidade de um chuveiro
de banho).
Segundo a revista Super
Interessante, cerca de 3,15 bilhões de raios caem sobre a Terra por ano. As
regiões de sua maior incidência são a África Central (Congo e Ruanda) e a
região do Lago Macaraibo, na Venezuela. O Brasil recebe descargas anuais de
cerca de 100 milhões de raios, em sua maior parte na região Sudeste, nos
estados de São Paulo e Minas Gerais.
Os raios sempre tiveram um
papel importante na história da vida na Terra. Segundo os cientistas, nos
primórdios do planeta há 3,8 bilhões de anos, as descargas elétricas tiveram um
importante papel na formação de aminoácidos – moléculas básicas para a vida – catalisando
reações químicas entre substâncias como amônia, metano e hidrogênio. Ao longo
da evolução da vida, os relâmpagos sempre estiveram presentes nas tempestades,
produzindo óxido de nitrogênio (NOx), que reagindo com a luz do Sol e outros
gases da atmosfera gera o gás ozônio. Este, próximo ao solo, pode afetar a
saúde de todos os seres vivos; plantas, animais e o homem. Nas partes mais
elevadas da atmosfera, na troposfera com altura de até 12 km, o ozônio é
causador do efeito estufa. Na estratosfera, entre 12 e 50 quilômetros, o ozônio
passa a atuar como bloqueador da radiação solar ultravioleta, causadora do
câncer de pele.
Pesquisas recentes, ainda em
andamento, parecem indicar que o volume de geração de óxido de nitrogênio (NOx)
através dos relâmpagos é bem maior do que era estimado até o momento. Especulam
os cientistas que maior quantidade de NOx na troposfera deva acelerar o efeito
estufa, aquecendo ainda mais a atmosfera. Esta aquecida, aumentam as trovoadas
e os raios, que por sua vez elevam os volumes de NOx. Até o momento, dada a
extrema complexidade dos fenômenos atmosféricos e dos ainda incalculáveis
fatores que podem influenciar e retroalimentar este processo, não há uma
explicação clara sobre seu funcionamento. Enquanto continuam pesquisando,
convêm continuar a tomar cuidado com os raios.
(Imagens: fotografias de humoristas americanos - Gordo e Magro e Três Patetas)
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