"Existem duas maneiras de ser feliz nesta vida, uma é fazer-se de idiota e a outra sê-lo." - Sigmund Freud - citado em Homens que mudaram a história, volume IV
(publicado originalmente no livro Bench Mais - As 85 melhores práticas em gestão socioambiental do Brasil)
O conceito de desenvolvimento sustentado ou sustentável é bastante recente, tendo surgido na década de 1980. Foram nestes anos, que diversos acontecimentos em todo o mundo passaram a indicar aos especialistas de que algo estava definitivamente mudando. A explosão em 1984 da fábrica da Union Carbide em Bhopal, na Índia, matou milhares de pessoas, tonando-se o maior acidente ambiental provocado por uma indústria até aquela data. Em 1986, ocorre na Ucrânia a explosão de um dos reatores nucleares da usina de Chernobyl, e colocou toda a Europa em estado de alerta, devido ao material radiativo que se espalhou na atmosfera. Com estes fatos, a opinião pública acordou – principalmente nos países desenvolvidos. Tornou-se evidente de que acidentes ambientais podiam matar milhares de pessoas e que um só evento poderia colocar em risco milhões de vidas, em extensas regiões. Ao mesmo tempo os cientistas, através de estudos de campo, identificavam cada vez mais indícios na fauna, na flora e no clima, indicando graves mudanças. Alguns anos antes, em 1979, o filósofo alemão Hans Jonas escrevia em sua obra Das Prinzip Verantwortung (O princípio da Responsabilidade) que “somente com a supremacia do pensamento e com o poder da civilização técnica dela resultante, uma forma de vida – o homem – foi colocada na situação de ameaçar todas as outras, e com isso também a si mesmo. (Jonas, 247).
(publicado originalmente no livro Bench Mais - As 85 melhores práticas em gestão socioambiental do Brasil)
O conceito de desenvolvimento sustentado ou sustentável é bastante recente, tendo surgido na década de 1980. Foram nestes anos, que diversos acontecimentos em todo o mundo passaram a indicar aos especialistas de que algo estava definitivamente mudando. A explosão em 1984 da fábrica da Union Carbide em Bhopal, na Índia, matou milhares de pessoas, tonando-se o maior acidente ambiental provocado por uma indústria até aquela data. Em 1986, ocorre na Ucrânia a explosão de um dos reatores nucleares da usina de Chernobyl, e colocou toda a Europa em estado de alerta, devido ao material radiativo que se espalhou na atmosfera. Com estes fatos, a opinião pública acordou – principalmente nos países desenvolvidos. Tornou-se evidente de que acidentes ambientais podiam matar milhares de pessoas e que um só evento poderia colocar em risco milhões de vidas, em extensas regiões. Ao mesmo tempo os cientistas, através de estudos de campo, identificavam cada vez mais indícios na fauna, na flora e no clima, indicando graves mudanças. Alguns anos antes, em 1979, o filósofo alemão Hans Jonas escrevia em sua obra Das Prinzip Verantwortung (O princípio da Responsabilidade) que “somente com a supremacia do pensamento e com o poder da civilização técnica dela resultante, uma forma de vida – o homem – foi colocada na situação de ameaçar todas as outras, e com isso também a si mesmo. (Jonas, 247).
O acúmulo de pesquisas e de fatos de diversas fontes, dando conta da situação do meio ambiente, aumentou a preocupação de organizações internacionais, de governos, empresários e cientistas; tempos críticos haviam chegado. O perigo de um futuro colapso do sistema produtivo, tendo como causa a exploração excessiva dos recursos naturais – tema já abordado desde o final da década de 1960 pelo Clube de Roma e em 1972 por Dennis Meadows em seu relatório Os Limites do Crescimento – ficava cada vez mais evidente; era apenas uma questão de tempo. Em 1986, por exemplo, o governo da Alemanha publicava dados em que informava perdas de cerca de 103,5 bilhões de marcos (atualmente cerca de R$ 125 bilhões) ao ano, com a poluição atmosférica e dos recursos hídricos, com a contaminação de solos e com a poluição sonora. Como reação a esta situação, que também ocorria na maioria dos países industrializados, a legislação ambiental torna-se mais rígida e instituem-se programas de reciclagem de resíduos subsidiados pelos governos (como o Ponto Verde da Alemanha).
Em 1983 as Nações Unidas criaram a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, cujos membros passaram a estudar a crescente degradação do ambiente humano e dos recursos naturais. Os resultados das discussões desta comissão foram publicados em 1987 com o título de Nosso Futuro Comum. Neste documento é utilizado pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável, significando um desenvolvimento que atenda as necessidades da gerações atuais, sem comprometer os recursos necessários à sobrevivência das gerações futuras, nas mesmas condições. Entre outras considerações, o relatório fez uma série de recomendações aos países, tais como: limitar gradualmente o crescimento populacional; implementar medidas para garantir os recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; preservar a biodiversidade e os ecossistemas; diminuir o consumo de energia e desenvolver tecnologias baseadas em fontes renováveis; introduzir medidas de controle da urbanização desordenada; desenvolver políticas públicas que visam atender às necessidades básicas da população (saúde, escola, moradia); incentivar o uso de novos materiais na construção; apoiar políticas de reciclagem de materiais; apoiar o consumo racional de água e de alimentos, entre outras medidas.
Foi baseado no Relatório Brundtland, que organizações como a Câmara Internacional de Comércio (ICC) e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council for Sustainable Development, fundado em 1995) incorporaram a questão ambiental, exercendo sua influência sobre os grandes grupos econômicos de atuação global, já que nos países desenvolvidos, os impactos ambientais eram em grande parte exercidos pelas indústrias e seus produtos. O empresário e ambientalista Paul Hawken, em seu livro The Ecology of Commerce (A Ecologia do Comércio) refere-se a este período nos seguinte termos: “Todos os empresários gostam de pensar que estão adicionando valor, ao tomarem matérias primas ou produtos manufaturados e transformando-os em algo mais útil. (...) Mas, de fato, todos os produtos e empresas não adicionam valor. Muitos fazem quase o contrário(...) Vender produtos que geram resíduos, que são baratos, rapidamente descartados ou de pouca utilidade é mais comum do que deveria ser”. (Hawken, 155-156). Desta forma, até como medida de sobrevivência, em um mercado onde os consumidores estavam cada vez mais conscientes e a legislação mais rígida, era imperioso que as empresas mudassem seu posicionamento. A proteção ao meio ambiente começava a fazer parte do planejamento estratégico das grandes empresas. Entre 1973 e 1986, por exemplo, a média dos carros fabricados nos Estados Unidos se tornou duas vezes mais eficiente, aumentando de 13 para 27 o número de milhas rodadas por galão de gasolina. Seria só uma questão de tempo, até que a maioria das empresas – pressionadas pela legislação e por seus clientes – incluíssem o tema proteção em suas agendas.
Em 1992 realiza-se a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, a ECO-92, importante marco na questão do desenvolvimento sustentável, envolvendo 175 países. Nesta conferência foram gerados alguns documentos de grande importância para o encaminhamento das principais questões socioambientais em todo o mundo, como: a Agenda 21, um programa de ação global com vistas a implementação do desenvolvimento sustentado; A Declaração de Princípios sobre Florestas (definindo o uso e a proteção das florestas nativas); A Convenção sobre Diversidade Biológica (fixando a utilização e a proteção da diversidade biológica); e A Convenção-Quadro sobre Mudanças Climáticas (documento baseado no qual foi elaborado em 1997 o Protocolo de Kyoto).
A partir da ECO-92 ocorrem importantes mudanças em todo o mundo. A grande maioria dos países criou ou aprimorou sua legislação ambiental e o setor privado passou a atuar de forma mais responsável. O setor público, no entanto – principalmente nos países em desenvolvimento – ainda está longe de cumprir sua função como protetor do meio ambiente. No que tange ao gerenciamento e à fiscalização ainda é pouco eficiente e na área de serviços – tratamento de água, esgoto e gerenciamento de resíduos domésticos – continua sendo o maior dissipador dos recursos naturais.
Nos últimos dez anos, passou-se a utilizar cada vez mais freqüentemente o termo desenvolvimento sustentado ou sustentável, designando os esforços na preservação ambiental e na melhoria da situação social; idéia cuja origem está no Relatório Brundtland. Todavia, não há um consenso sobre o significado da expressão, tanto que existem até o momento mais de setenta interpretações diferentes. O desenvolvimento sustentado (ou sustentável) levanta, no mínimo, discussões conceituais. É possível um desenvolvimento que atenda as necessidade das gerações atuais, sem comprometer aquelas das gerações futuras? O principal argumento contra é que qualquer atividade humana tem um impacto sobre os recursos naturais. Não é possível conservá-los indefinidamente nem repô-los, na maioria dos casos, o que significa que depois de decorrido determinado tempo o desenvolvimento não se sustenta mais. Mesmo o “crescimento zero”, o steady state de Herman Daly, implicaria no uso de recursos finitos para manutenção da sociedade. Outros argumentam que não estão sendo consideradas as inovações tecnológicas, que deverão direcionar-se cada vez mais para o uso de recursos renováveis – a álcool química, por exemplo, poderá vir a concorrer com a petroquímica. Quanto aos metais, poderão ter sua taxa de reciclagem aumentada, alcançando índices equivalentes aos alumínio no Brasil (cerca de 95%).
Quanto as empresas sustentáveis são aquelas que – de acordo com o conceito do triple bottom line ou People, Planet, Profit (as pessoas, o planeta e o lucro) – contempla ações sociais, a proteção ambiental e a sobrevivência da empresa. O conceito foi desenvolvido pelo Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (ICLEI – International Council for Local Environmental Initiatives), entidade constituída por mais de 200 governos municipais de 43 países, estabelecida na ONU. No livro Cumprindo o Prometido, de Charles Holliday Jr., Stephan Schmidheiny e Philip Watts, Stuart Hart, professor de gestão estratégica e diretor da Sustainable Enterprise Initiative da Kenan-Flagler Business School, Universidade da Carolina do Norte, afirma que “a revolução ambiental já está aí há mais ou menos três décadas, mudando para sempre a maneira como as empresas fazem negócios. Quem pensa que a sustentabilidade é apenas uma questão de controle de poluição não está vendo o quadro mais amplo. Raramente se vincula conscientização ecológica à estratégia ou ao desenvolvimento tecnológico e, em conseqüência, a maioria das empresas não reconhece oportunidades cujo potencial assume proporções espantosas” (Holliday, Jr., Schmidheiny, Watts, 34-35). No novo ambiente da sustentabilidade as empresas são constantemente solicitadas por consumidores, órgãos de controle ambiental, opinião pública, pelos próprios funcionários e concorrentes. Para fazer face a estas demandas, a melhoria da qualidade, a redução dos riscos e dos custos só são possíveis através de constantes investimentos em inovações tecnológicas.
O vínculo entre a inovação tecnológica e o desenvolvimento ambiental já foi identificado há mais de trinta anos. Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, sediada em Estocolmo, foi a primeira vez que a comunidade internacional se reuniu para discutir o meio ambiente em seus aspectos globais e as interações deste com as necessidades de desenvolvimento das diversas nações. A conferência em seu décimo oitavo princípio, preconizava que a ciência e tecnologia, como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social, devem ser aplicadas para evitar, identificar e controlar os riscos que ameaçam o meio ambiente e para solucionar os problemas ambientais, em benefício do bem comum da humanidade. Tal compromisso foi reafirmado no Rio de Janeiro (ECO 92) e em Joanesburgo (Rio + 10).
A proposta do Prêmio Benchmarking Ambiental está totalmente alinhada com estes parâmetros. Em todas as suas edições o prêmio tem dado divulgação às “melhores práticas” tecnológicas de empresas privadas, públicas e de Organizações Não Governamentais (ONGs), visando sua difusão através da ferramenta de marketing do benchmarking. Philip Kotler em Administração de Marketing define o benchmarking como “a arte de aprender com empresas que apresentam um desempenho superior em algumas tarefas.(...) O objetivo é copiar ou aprimorar com base em melhores práticas.(...) Para manter custos sob controle, a empresa deve se concentrar em realizar benchmarking daquelas atividades fundamentais, que afetam profundamente a satisfação do cliente e os custos, e das empresas que possuem notoriamente um desempenho superior” (Kotler, 249).
Inovando a cada ano, o Prêmio Benchmarking Ambiental vem trilhando um caminho próprio dentre os prêmios ambientais existentes no Brasil. A começar pelo corpo de jurados, que é renovado a cada nova edição sendo formado por profissionais de grande destaque no mercado, todos especialistas em sua área de atuação e envolvidos com a questão da sustentabilidade. O maior benefício, todavia, que o Prêmio Benchmarking Ambiental oferece a todos os interessados, é a possibilidade de conhecer e copiar as melhores práticas de sustentabilidade, apresentadas em cada edição. A divulgação do conhecimento permite que qualquer empresa ou instituição possa aplicar, adaptar ou até melhorar os princípios ou técnicas desenvolvidas por outros, e desta forma agregar valor ao conhecimento absorvido.
Com relação a este ponto terminamos nossa contribuição com uma citação do filósofo Friedrich Engels, citado por John Bellamy Foster em A ecologia de Marx:: ”Assim, a cada passo somos lembrados de que nós absolutamente não governamos a natureza como um conquistador governa um povo estrangeiro, com alguém postado fora da natureza – mas que nós, com a carne, o sangue e o cérebro, pertencemos à natureza e existimos no seu meio, e que todo nosso domínio dela consiste no fato de que nós estamos em vantagem em relação a todas as demais criaturas, por podermos aprender as suas leis e aplicá-las corretamente." (Foster, 324).
Com relação a este ponto terminamos nossa contribuição com uma citação do filósofo Friedrich Engels, citado por John Bellamy Foster em A ecologia de Marx:: ”Assim, a cada passo somos lembrados de que nós absolutamente não governamos a natureza como um conquistador governa um povo estrangeiro, com alguém postado fora da natureza – mas que nós, com a carne, o sangue e o cérebro, pertencemos à natureza e existimos no seu meio, e que todo nosso domínio dela consiste no fato de que nós estamos em vantagem em relação a todas as demais criaturas, por podermos aprender as suas leis e aplicá-las corretamente." (Foster, 324).
(Imagens: pinturas de Wayne Thiebaud)
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