"Vivemos, ainda, sob o reinado da Lógica: este é, naturalmente, o ponto aonde eu queria chegar. Mas, hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas de interesse secundário." - André Breton - Manifesto do Surrealismo
(continuação parte 2. - Descobertas / críticas)
Em
1988 o físico James Hansen, funcionário da Agência espacial americana (NASA)
foi o primeiro cientista a ser convocado pelo congresso americano a fim de dar
seu testemunho sobre o fenômeno da mudança do clima provocada pelos humanos.
Gradualmente, a partir do final do século XX a ciência consegue reunir um
número cada vez maior de dados que comprovam a influência antrópica (humana)
sobre o clima da Terra, de forma acentuada, segundo os registros, especialmente
a partir do final do século XVIII e início do XIX, quando começa a Revolução
Industrial, com ampla utilização de combustíveis fósseis; carvão mineral e
derivados de petróleo.
As mudanças
climáticas não foram rapidamente aceitas como forma de interpretação científica
dos fenômenos que estavam ocorrendo. Setores da economia mundial,
principalmente as companhias petrolíferas, se colocaram contra a teoria, chegando
a financiar pesquisas que pudessem falsificar a ideia científica. Segmentos
econômicos como o da geração de energia no hemisfério Norte, com uso intensivo
de carvão mineral; indústrias de fertilizantes que liberam óxido nitroso (N²O);
setor de transporte rodoviário, marítimo e aéreo, com emissões de CO²; a cadeia
produtiva de toda a indústria petroquímica; e o setor agropecuário. Todavia, o
setor da economia mundial imediatamente mais afetado caso a origem antrópica do
aquecimento definitivamente fosse comprovada seria a indústria petrolífera,
pois certamente haveria necessidade de reduzir o uso dos combustíveis fósseis
ou propor sua taxação.
Assim,
durante grande parte dos anos 1990, grandes conglomerados do setor petrolífero contrataram
universidades, equipes de cientistas e laboratórios a peso de ouro – além de organizarem
um forte lobby junto aos governos,
principalmente o dos EUA – para reunir dados que pudessem provar que o fenômeno
não era influenciado pelas emissões de gases resultantes da queima de
combustíveis. Todavia, indícios e provas científicas comprovavam, cada vez mais,
o fato de que as emissões das atividades humanas estavam acelerando o
aquecimento da atmosfera – e dentre estas, os maiores volumes de gases eram
gerados pela queima de combustíveis fósseis.
Há
alguns anos a imprensa americana revelou que nos anos 1960 a Universidade de
Stanford já havia preparado um relatório para o American Petroleum Intitute (Instituto Americano de Petróleo), atestando
que as emissões de dióxido de carbono, resultantes da queima dos derivados de
petróleo, poderiam provocar o efeito estufa no planeta (então já conhecido e
explicado pela ciência); o que ocasionaria o aumento da temperatura da
atmosfera, derretimento de geleiras e aumento do nível dos oceanos. O setor
petrolífero, a exemplo do que também fez por longo período a indústria de
cigarros americana, fez de tudo ao longo das três décadas seguintes para omitir
os dados pesquisados pela universidade e desacreditar outras pesquisas que
chegavam a conclusões semelhantes. Um desses estudos publicado na revista Nature,
“atribuiu
um nível de confiança na casa dos 90 por cento ao facto de ‘a influência humana
ter, no mínimo, duplicado o risco de uma onda de calor que exceda [um] limiar
de magnitude’ das temperaturas médias de verão, como aconteceu na Europa em
2003 e em mais nenhum outro ano desde 1851. As ligações tornar-se-ão cada vez
mais claras no futuro, tanto porque a ciência está a ficar melhor como porque
os eventos de clima extremo se estão a tornar cada vez mais extremos.” (Wagner
& Weitzman, 2016)
No
entanto, apesar do acúmulo de comprovações da teoria das mudanças climáticas e
de sua origem antrópica, ainda existem grupos e (poucos) cientistas que colocam
em questão o fenômeno. Estes, dividem-se basicamente em duas categorias: 1) os
que terminantemente negam a ocorrência de um gradual aquecimento da atmosfera
terrestre; e 2) os que aceitam a possibilidade do aquecimento mas
definitivamente discordam de que seja de origem antrópica. Entre os cientistas
estão aqueles que, em sua maioria bem intencionados e sem vínculos com
entidades e grupos de interesse, interpretam os indícios até agora disponíveis
como inconclusivos. Segundo a Wikipedia,
estes cientistas “negacionistas climáticos” representam cerca de 1% dos
climatologistas em atividade; um número muito reduzido, portanto.
Outros
grupos de negacionistas das mudanças do clima são formados por grandes
indústrias, políticos e formadores de opinião, geralmente representados por think tanks financiados por estas
agremiações. São geralmente grupos de tendência conservadora e libertário, como
o norte-americano Heartland Institute, fundado em 1984. Na década de 2000 o
instituto tornou-se um dos principais patrocinadores do negacionismo climático.
(Wikipedia). No Brasil estes grupos são praticamente inexistentes. Segundo
estudo da Universidade de Oxford em parceria com a agência Reuters, no Brasil o
espaço reduzido dos céticos ambientais se devia a uma “combinação entre cultura
jornalística, poucos ou nenhum grupo de pressão ligados ao setor petrolífero e à virtual ausência de vozes fortes céticas na elite científica, política e
econômica.” (Wikipedia).
(Imagens: pinturas de Hans Grundig)
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