Mudanças climáticas e o litoral de São Paulo (2ª parte)

sábado, 20 de julho de 2019
"Vivemos, ainda, sob o reinado da Lógica: este é, naturalmente, o ponto aonde eu queria chegar. Mas, hoje em dia, os métodos da Lógica só servem para resolver problemas de interesse secundário."   -   André Breton   -   Manifesto do Surrealismo 


(continuação parte 2. - Descobertas / críticas)


Em 1988 o físico James Hansen, funcionário da Agência espacial americana (NASA) foi o primeiro cientista a ser convocado pelo congresso americano a fim de dar seu testemunho sobre o fenômeno da mudança do clima provocada pelos humanos. Gradualmente, a partir do final do século XX a ciência consegue reunir um número cada vez maior de dados que comprovam a influência antrópica (humana) sobre o clima da Terra, de forma acentuada, segundo os registros, especialmente a partir do final do século XVIII e início do XIX, quando começa a Revolução Industrial, com ampla utilização de combustíveis fósseis; carvão mineral e derivados de petróleo.

As mudanças climáticas não foram rapidamente aceitas como forma de interpretação científica dos fenômenos que estavam ocorrendo. Setores da economia mundial, principalmente as companhias petrolíferas, se colocaram contra a teoria, chegando a financiar pesquisas que pudessem falsificar a ideia científica. Segmentos econômicos como o da geração de energia no hemisfério Norte, com uso intensivo de carvão mineral; indústrias de fertilizantes que liberam óxido nitroso (N²O); setor de transporte rodoviário, marítimo e aéreo, com emissões de CO²; a cadeia produtiva de toda a indústria petroquímica; e o setor agropecuário. Todavia, o setor da economia mundial imediatamente mais afetado caso a origem antrópica do aquecimento definitivamente fosse comprovada seria a indústria petrolífera, pois certamente haveria necessidade de reduzir o uso dos combustíveis fósseis ou propor sua taxação.

Assim, durante grande parte dos anos 1990, grandes conglomerados do setor petrolífero contrataram universidades, equipes de cientistas e laboratórios a peso de ouro – além de organizarem um forte lobby junto aos governos, principalmente o dos EUA – para reunir dados que pudessem provar que o fenômeno não era influenciado pelas emissões de gases resultantes da queima de combustíveis. Todavia, indícios e provas científicas comprovavam, cada vez mais, o fato de que as emissões das atividades humanas estavam acelerando o aquecimento da atmosfera – e dentre estas, os maiores volumes de gases eram gerados pela queima de combustíveis fósseis.

Há alguns anos a imprensa americana revelou que nos anos 1960 a Universidade de Stanford já havia preparado um relatório para o American Petroleum Intitute (Instituto Americano de Petróleo), atestando que as emissões de dióxido de carbono, resultantes da queima dos derivados de petróleo, poderiam provocar o efeito estufa no planeta (então já conhecido e explicado pela ciência); o que ocasionaria o aumento da temperatura da atmosfera, derretimento de geleiras e aumento do nível dos oceanos. O setor petrolífero, a exemplo do que também fez por longo período a indústria de cigarros americana, fez de tudo ao longo das três décadas seguintes para omitir os dados pesquisados pela universidade e desacreditar outras pesquisas que chegavam a conclusões semelhantes. Um desses estudos publicado na revista Nature,

atribuiu um nível de confiança na casa dos 90 por cento ao facto de ‘a influência humana ter, no mínimo, duplicado o risco de uma onda de calor que exceda [um] limiar de magnitude’ das temperaturas médias de verão, como aconteceu na Europa em 2003 e em mais nenhum outro ano desde 1851. As ligações tornar-se-ão cada vez mais claras no futuro, tanto porque a ciência está a ficar melhor como porque os eventos de clima extremo se estão a tornar cada vez mais extremos.” (Wagner & Weitzman, 2016)

No entanto, apesar do acúmulo de comprovações da teoria das mudanças climáticas e de sua origem antrópica, ainda existem grupos e (poucos) cientistas que colocam em questão o fenômeno. Estes, dividem-se basicamente em duas categorias: 1) os que terminantemente negam a ocorrência de um gradual aquecimento da atmosfera terrestre; e 2) os que aceitam a possibilidade do aquecimento mas definitivamente discordam de que seja de origem antrópica. Entre os cientistas estão aqueles que, em sua maioria bem intencionados e sem vínculos com entidades e grupos de interesse, interpretam os indícios até agora disponíveis como inconclusivos. Segundo a Wikipedia, estes cientistas “negacionistas climáticos” representam cerca de 1% dos climatologistas em atividade; um número muito reduzido, portanto.

Outros grupos de negacionistas das mudanças do clima são formados por grandes indústrias, políticos e formadores de opinião, geralmente representados por think tanks financiados por estas agremiações. São geralmente grupos de tendência conservadora e libertário, como o norte-americano Heartland Institute, fundado em 1984. Na década de 2000 o instituto tornou-se um dos principais patrocinadores do negacionismo climático. (Wikipedia). No Brasil estes grupos são praticamente inexistentes. Segundo estudo da Universidade de Oxford em parceria com a agência Reuters, no Brasil o espaço reduzido dos céticos ambientais se devia a uma “combinação entre cultura jornalística, poucos ou nenhum grupo de pressão ligados ao setor petrolífero e à virtual ausência de vozes fortes céticas na elite científica, política e econômica.” (Wikipedia). 

(Imagens: pinturas de Hans Grundig)

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