"O sentimento secreto de que nada restará de nós. De que tudo o que fizemos, pensamos, construímos, imaginamos, será cedo ou tarde levado pela 'vassoura do nada', como já dizia Rumi há nove séculos." - Jean-Claude Carrière - Fragilidade
Desde
a mais remota pré-história, os humanos vivem em constantes deslocamentos,
procurando alimento e melhores condições climáticas para viver. Nosso
antepassado, o homo ergaster, que
viveu entre 1,8 e 0,7 milhões de anos atrás, foi a primeira espécie de
hominídeo a deixar o continente africano. Seu descendente direto, o homo erectus, lentamente foi ocupando a
Ásia, até chegar em regiões afastadas como a China e a Indonésia. A segunda
“saída da África”, como estas migrações são chamadas pela ciência, ocorreu há
cerca de 70 mil anos, quando nossa espécie homo
sapiens deixou solo africano em direção ao Oriente Médio, Ásia e Europa. Do
sudoeste asiático chegaram à Austrália, por volta de 50 mil antes de nossa era
(AEC). Em constante busca de
alimentos, seguindo deslocamentos de suas presas e evitando regiões onde
houvessem predadores carnívoros (tigres, leões, ursos), nossos antepassados
avançaram à procura de climas amenos, onde a sobrevivência fosse promissora.
O
clima é um impulsionador na evolução de nossa espécie. Antropólogos e
paleontólogos defendem a tese de que o surgimento da atividade agrícola se deu
devido ao rareamento da caça, no final do último Período Glacial, há 10 mil
anos. Com o aquecimento do clima, espécies como o boi almiscarado, o mamute, o
cavalo selvagem e os bisões, estavam se deslocando para regiões setentrionais. Nesse
período também foram extintos cerca de 40% dos mamíferos da chamada megafauna. Reduzida
a oferta de caça, essas populações que já conheciam o processo de plantio,
passaram a praticar a agricultura em larga escala. Assim, ao longo de alguns
milênios, surgiram sociedades complexas, desenvolveu-se a tecnologia e surgiram
os primeiros estados e religiões organizadas.
Ao
longo da história as mudanças do clima tiveram forte influência nas atividades
humanas, provocando migrações. Na China ocorreram deslocamentos populacionais
ao longo dos últimos dois mil anos, provocados por períodos de secas e
inundações. O mesmo foi constatado na região nordeste do Peru, ao longo dos
últimos 10 milênios. Estas migrações estão associadas ao colapso de
civilizações, provocadas pelas mudanças do clima. Assim ocorreu com a civilização
maia (1000 a.C. – 900 d.C.), no México, a de Harappa (2.500 a.C.), no atual
Paquistão, e a hitita (1.600 a.C.), na atual Turquia.
A
tendência, segundo especialistas, é que as migrações provocadas por impactos
climáticos aumentem em todo o planeta, principalmente nos países pobres.
Inundações, tempestades, secas prolongadas afetarão milhões de pessoas, em países
sem suficientes recursos para fazer frente a estas catástrofes. A grande parte
da população restará como único recurso emigrar para outras regiões ou países.
Para milhões de pessoas um futuro de privações, sofrimentos e morte.
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