Amazônia e recursos hídricos

sábado, 12 de outubro de 2019
"Amazônia, ainda sob o aspecto estritamente físico, conhecemo-la aos fragmentos."   -   Euclides da Cunha   -   Obras completas 


As recentes notícias sobre o aumento dos índices de desmatamento da floresta amazônica preocupam não só os ambientalistas de todo o mundo, mas também empresas e organizações científicas. A interrupção ou mesmo a diminuição do fenômeno dos “rios voadores” pode significar grande mudança no regime hidrológico das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A diminuição das chuvas poderá provocar uma forte redução da atividade agrícola, pecuária e industrial nestas regiões, afetando uma economia de aproximadamente R$ 5 trilhões, onde se concentra 65% da população do país.

O vapor d’água lançado na atmosfera pelas árvores da Amazônia é carregado pelos ventos alísios em direção oeste, rumo à cordilheira dos Andes. Ali, não podendo mais avançar, estas nuvens encaminham-se para o sul. Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), constataram que uma árvore da região da floresta, com copa de 10 metros de diâmetro, bombeia diariamente para a atmosfera mais de 300 litros de água na forma de vapor. Uma árvore com copa de 20 metros de diâmetro pode evaporar mais de 1.000 litros em um dia. Por outro lado, estimam os pesquisadores, que a existam cerca de 600 bilhões de árvores em toda a floresta da região. Forma-se uma quantidade imensa de água – cerca de 20 trilhões de litros diários segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) - que na forma de nuvens se desloca constantemente da região Norte para o restante do Brasil. 

Se, por um lado, empresas retrógradas do setor madeireiro, pecuário e do agronegócio brasileiro continuam derrubando a floresta – somente em janeiro de 2019 o desmatamento aumentou em 54% em relação ao mesmo período de 2018 -, outras organizações mostram preocupação com a destruição do bioma. Para conservar a floresta e a evapotranspiração responsável pela formação do vapor de água dos “rios voadores”, organizações como a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) remuneram moradores das unidades de conservação através do Programa Bolsa Floresta, com o objetivo de combater a pobreza e manter a floresta em pé. Companhias de saneamento, localizadas nas regiões beneficiadas pelas água vindas da região amazônica, poderão futuramente subsidiar projetos de conservação da floresta. 

O crescente desmatamento da floresta já se faz sentir na região Sudeste, onde de acordo com pesquisas da Universidade da Califórnia, dos EUA, a estimativa é que nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santos as chuvas sejam menos frequentes e mais intensas. Segundo a Agência Nacional da Água (ANA), 38 milhões de pessoas de todo o país foram afetadas por secas e estiagens em 2017.

Desde o início da ocupação da região até março de 2019 foram derrubados 763 mil quilômetros quadrados de floresta, segundo dados da organização Observatório do Clima. Uma área equivalente a três Estados de São Paulo, ou pouco mais do que as áreas da França, Portugal, Áustria e Holanda somadas. Com o gradual desmantelamento dos órgãos de controle o desmatamento tem avançado ainda mais rapidamente. Segundo dados mais recentes, a derrubada da floresta aumentou 20% entre agosto de 2018 e abril de 2019, totalizando 2.169 quilômetros quadrados de árvores destruídas. Enquanto o mundo fala na preservação dos recursos naturais e das mudanças climáticas, o Brasil continua arrasando seu mais precioso recurso natural.    

(Imagens: pinturas de Jean Hogan) 

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