"Amazônia, ainda sob o aspecto estritamente físico, conhecemo-la aos fragmentos." - Euclides da Cunha - Obras completas
As
recentes notícias sobre o aumento dos índices de desmatamento da floresta
amazônica preocupam não só os ambientalistas de todo o mundo, mas também
empresas e organizações científicas. A interrupção ou mesmo a diminuição do
fenômeno dos “rios voadores” pode significar grande mudança no regime
hidrológico das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A diminuição das chuvas
poderá provocar uma forte redução da atividade agrícola, pecuária e industrial
nestas regiões, afetando uma economia de aproximadamente R$ 5 trilhões, onde se
concentra 65% da população do país.
O
vapor d’água lançado na atmosfera pelas árvores da Amazônia é carregado pelos
ventos alísios em direção oeste, rumo à cordilheira dos Andes. Ali, não podendo
mais avançar, estas nuvens encaminham-se para o sul. Estudos realizados pelo
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), constataram que uma árvore
da região da floresta, com copa de 10 metros de diâmetro, bombeia diariamente
para a atmosfera mais de 300 litros de água na forma de vapor. Uma árvore com
copa de 20 metros de diâmetro pode evaporar mais de 1.000 litros em um dia. Por
outro lado, estimam os pesquisadores, que a existam cerca de 600 bilhões de
árvores em toda a floresta da região. Forma-se uma quantidade imensa de água –
cerca de 20 trilhões de litros diários segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) - que na forma de nuvens se desloca constantemente
da região Norte para o restante do Brasil.
Se,
por um lado, empresas retrógradas do setor madeireiro, pecuário e do
agronegócio brasileiro continuam derrubando a floresta – somente em janeiro de
2019 o desmatamento aumentou em 54% em relação ao mesmo período de 2018 -,
outras organizações mostram preocupação com a destruição do bioma. Para conservar
a floresta e a evapotranspiração responsável pela formação do vapor de água dos
“rios voadores”, organizações como a Fundação Amazônia Sustentável (FAS) remuneram
moradores das unidades de conservação através do Programa Bolsa Floresta, com o
objetivo de combater a pobreza e manter a floresta em pé. Companhias de
saneamento, localizadas nas regiões beneficiadas pelas água vindas da região
amazônica, poderão futuramente subsidiar projetos de conservação da
floresta.
O
crescente desmatamento da floresta já se faz sentir na região Sudeste, onde de
acordo com pesquisas da Universidade da Califórnia, dos EUA, a estimativa é que
nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santos as chuvas sejam menos frequentes
e mais intensas. Segundo a Agência Nacional da Água (ANA), 38 milhões de
pessoas de todo o país foram afetadas por secas e estiagens em 2017.
Desde
o início da ocupação da região até março de 2019 foram derrubados 763 mil
quilômetros quadrados de floresta, segundo dados da organização Observatório do
Clima. Uma área equivalente a três Estados de São Paulo, ou pouco mais do que
as áreas da França, Portugal, Áustria e Holanda somadas. Com o gradual
desmantelamento dos órgãos de controle o desmatamento tem avançado ainda mais
rapidamente. Segundo dados mais recentes, a derrubada da floresta aumentou 20%
entre agosto de 2018 e abril de 2019, totalizando 2.169 quilômetros quadrados
de árvores destruídas. Enquanto o mundo fala na preservação dos recursos
naturais e das mudanças climáticas, o Brasil continua arrasando seu mais
precioso recurso natural.
(Imagens: pinturas de Jean Hogan)
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