"O consumismo representa a outra face da produtividade: a economia capitalista de mercado funciona apenas se houver cada vez mais produção para que se consuma cada vez mais, como denunciava Wallerstein." - Domenico de Masi - O futuro chegou - Modelos de vida para uma sociedade desorientada
O Brasil
está sendo abalado por uma série de catástrofes ambientais ao longo dos últimos
meses. Grileiros de terras provocam extensos desmatamentos e incêndios na
Amazônia e no Cerrado. Embarcações ainda não identificadas despejam imensos
volumes de petróleo no oceano, poluindo a costa da região Nordeste. Além destes
impactos, não se percebe qualquer avanço nas questões ambientais urbanas, que
já afetam o país há décadas, como a falta de saneamento e a correta gestão
resíduos. No campo, há uma escalada na aprovação e no uso de agrotóxicos, muitos
dos quais já banidos na Europa e nos Estados Unidos. Apesar de todos estes
fatos, não há medidas concretas por parte do governo; não se estabelecem metas,
não há planejamento e são pífias as ações de melhoria.
A
maior parte da população parece encarar tais acontecimentos com passividade. As
longas reportagens sobre a Amazônia e as praias nordestinas, veiculadas pelas
principais redes de televisão, parecem não ter afetado a bonomia do
telespectador brasileiro. A julgar pela capacidade de se indignar com tais
fatos, parece que a proteção aos recursos naturais nunca ocupou lugar
importante no rol das preocupações diárias do cidadão médio. Mesmo assim, em
uma pesquisa realizada em 2018 pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião
Pública e Estatística) a pedido da ONG WWF (Worl Wide Fund for Nature) o “meio
ambiente e as riquezas naturais” constam como o maior orgulho nacional para os
brasileiros entrevistados.
Valorizar
uma ideia e se envolver diretamente com ela são coisas diferentes. Por exemplo,
ninguém nega o valor da cultura, do conhecimento e de seu principal instrumento:
o livro. Mas entre valorizar e efetivamente envidar esforços, horas a fio, na
leitura de uma obra às vezes árida, há uma diferença. Falta de tempo, de
recursos, de preparo intelectual, de incentivos; são vários os fatores que
limitam o acesso ao conhecimento.
Com
relação ao meio ambiente a situação é parecida. Para poder efetivamente se
envolver em alguma ação de proteção à natureza é preciso ter conhecimento
mínimo sobre o problema (suas causas, impacto e consequências), ter recursos (alguma
renda, tempo, saúde) e ter contato com algum grupo organizado capaz de exercer
influência sobre o fato, entre outros fatores.
No atual situação política e econômica do Brasil os incentivos
são poucos, seja por parte do governo ou da sociedade civil. A administração federal, por exemplo, fez uma série de mudanças na política
ambiental do país, extinguindo e tirando a autonomia de secretarias e agências,
demitindo funcionários experientes, alterando leis, cortando verbas; ações que
já são apontadas como tendo contribuído para o descontrole da situação na
floresta amazônica. O setor privado, limitado pela queda no faturamento e a falta de perspectivas de crescimento da economia a curto e médio prazos, reduziu investimentos na ampliação e
modernização de sua infraestrutura produtiva e, consequentemente, em tecnologias de combate à poluição. Medidas de otimização de
processos, aumento da eficiência energética e redução no uso de insumos, também
tiveram que ser deixadas para o futuro.
Por
fatores culturais, econômicos e até ideológicos, a preocupação com a questão
ambiental parece temporariamente estar perdendo força na sociedade brasileira. Enquanto
isso, na Europa, pesquisa recente indica que o tema do meio ambiente –
principalmente as mudanças climáticas – é o assunto mais preocupante para 40%
dos entrevistados, seguido da questão do emprego (34%).
(Imagens: pinturas de Gotthardt Kuehl)
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