O
Brasil fechou o ano de 2021 com 12,9 milhões de desempregados, o que
corresponde a 12,5% da população economicamente ativa (103,6 milhões). O número
apresentou uma pequena queda em relação a 2020, mas a tendência é que a taxa de
desemprego volte aos índices anteriores à pandemia, segundo estudo publicado
pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 17/01/2022. A instituição
prevê que o país volte a atingir os 14 milhões de desocupados em 2022 e 13,6
milhões em 2023. A América Latina é a região com menos perspectivas de criação
de postos de trabalho e crescimento nos próximos anos, segundo o estudo da OIT.
Esta
previsão coincide com as expectativas de diversos economistas brasileiros. A
tendência de baixo crescimento da economia, acentuada pelo aumento dos juros,
diminuirá a oferta de empregos e provocará uma nova queda no PIB. Alguns
analistas econômicos falam que com isso se estabelecerá efetivamente uma
recessão – o que por sua vez ainda provocará mais demissões. Diminuem assim as
chances de que se criem mais postos de trabalho com carteira assinada. Já em
setembro de 2021 haviam 38,2 milhões de trabalhadores informais; cerca de 40% da
população economicamente ativa à época. No mesmo período o rendimento mensal
médio do trabalhador era de R$ 2.459,00, o que representava uma queda de 4% em
relação ao segundo trimestre de 2021 e uma diminuição de 11,1% em relação ao
terceiro trimestre de 2020.
Ficam
também mais afastadas as possibilidades de criação de empregos com salários
mais altos. A tendência é que se mantenha a situação que vigora já há alguns
anos, onde sete em cada dez empregos estão localizados em setores com baixo
conteúdo tecnológico. São ocupações que pagam salários até 40% inferiores à média
nacional. De acordo com matéria publicada no jornal Folha de São Paulo em maio
de 2021, entre os setores com baixo conteúdo tecnológico estão a agricultura, a
construção civil, os transportes, a alimentação e os serviços domésticos,
segundo uma classificação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE). Estes empregos representam 68% das vagas de trabalho oferecidas no
mercado brasileiro, segundo o jornal. As ocupações de alto conteúdo tecnológico
como informática, planejamento, logística, automação, engenharias diversas,
representam 0,2% das ocupações, com salário médio que é mais que o triplo da
média nacional.
O
Brasil passa por um processo de desindustrialização, assim como a maioria dos
países. No entanto, no nosso caso não houve uma preparação para tal. O país não
chegou a desenvolver ramos industriais mais sofisticados, para onde parte da
mão de obra especializada pudesse migrar, como a indústria eletrônica, a
mecânica fina, a indústria de máquinas e equipamentos, etc. O setor da
engenharia pesada, que se desenvolveu bastante ao longo dos últimos trinta
anos, e no qual o Brasil era um dos grandes fornecedores, foi em grande parte
destruído com as ações jurídicas resultantes da operação Lava Jato. O que já
vem ocorrendo há quase uma década, é que o país diminuiu a geração de empregos
que exigem melhor formação e por isso pagam melhores salários. Com isso, por um
lado, os jovens ficam sem incentivo para se aprofundarem nos estudos visando
uma carreira em setores de ponta, já que as vagas são poucas. Por outro lado –
e este é um fato que presenciamos há alguns anos no dia a dia – os
profissionais melhor formados, que perderam ou ainda não encontraram um
emprego, são obrigados a atuar em empregos mal remunerados, fora de suas áreas
de especialização.
Sem
uma recuperação da atividade industrial não voltarão os empregos de qualidade,
dizem os especialistas. Os demais setores, com exceções pontuais, não conseguem
gerar empregos bem remunerados em quantidade suficiente para absorver os
contingentes atualmente ociosos e mais aqueles que deverão entrar no mercado ao
longo dos próximos anos. Sem os empregos razoavelmente bem pagos não há um
consumo constante e forte, não há a formação de uma classe média, o que limita
o crescimento regular da economia e dos serviços proporcionados pelo Estado e
pelas empresas (escolas, hospitais, energia, comunicação, transportes, etc.).
No
entanto, ao que parece, a recuperação da atividade industrial é algo bastante
remoto. Por que haveriam capitais disponíveis, interessados em investir em
(novas) atividades industriais, quando os empreendimentos aqui estabelecidos
estão fechando suas portas ou deixando o país, por falta de mercado consumidor?
(O mercado consumidor só pode existir quando existem empregos. Empregos só
existem com empresas, as quais, por sua vez, só existem com mercado
consumidor). Por outro lado, quem teria interesse em investir em uma empresa –
falo de empresas médias ou grandes, não de microempresas ou empreendimentos
familiares – se o rendimento dos recursos é maior e mais seguro nas aplicações
financeiras?
A
tarefa de “primeiro motor” numa economia combalida como a nossa caberia ao
Estado. Como já defendeu o economista John Maynard Keynes (1883-1946) nos anos
1930, os estados devem utilizar medidas intervencionistas para mitigar os efeitos
adversos das crises econômicas e fazer com que recuperem as atividades
econômicas (e a consequente geração de empregos e renda). No entanto, parece
que os economistas que ora operam a economia do país não concordam com essas
ideias – que foram e estão sendo colocadas em prática com êxito em muitos
países, particularmente nos Estados Unidos. Preferem esperar que “a mão
invisível do mercado” coloque a economia brasileira novamente em funcionamento.
Até lá, se isto um dia ocorrer a partir destas premissas, o país ainda perderá muito sangue, suor e lágrimas.
(Imagens: pinturas de Anita Malfatti)
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