A
globalização, com todos os seus ingredientes – comércio generalizado, comunicações
globais, fluxos financeiros e (nem sempre) de pessoas, entre outros aspectos –
contribuiu para que o planeta se transformasse naquilo que Marshall McLuhan,
filósofo canadense, já no início da década de 1960 previa como sendo o futuro
da civilização planetária: a aldeia global. Outro filósofo americano, Francis
Fukuyama, levado pelo entusiasmo da derrocada do império soviético (1991),
escreveu em seu O fim da história e o
último homem (1992) que com a propagação da democracia e do capitalismo de
livre mercado, a evolução política da humanidade havia chegado a uma conclusão.
A economia de mercado e a democracia liberal – com nuances mais ou menos flexíveis
– foram adotados pela maioria dos países. E assim seria.
No
rastro da globalização e de suas possíveis consequências de uniformização
cultural (leia-se a cultura-de-massa-ocidental-americana-capitalista) surgiu a
preocupação com a valorização das culturas locais; de cada país e região.
Temia-se que o processo da globalização, em suas perspectivas sociais e
culturais, pudesse provocar o desaparecimento ou a descaracterização de
práticas regionais e locais específicas, que faziam parte do patrimônio
cultural dos diversos povos. A própria ONU, através de um relatório da PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), elaborado em 2004, sugeriu
que o processo da globalização pudesse ameaçar as identidades nacionais e
locais. Por isso, a organização recomendou que os nações implementassem políticas
que promovessem a diversidade e o pluralismo, interna e externamente, sem se
refugiarem no conservadorismo ou na xenofobia. (relatório PNUD disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pn000010.pdf).
Sob
este aspecto, a globalização do século XX deu importância ao multiculturalismo.
Diferentemente das relações entre nações e culturas no passado, quando o
europeu ou o ocidental dominador se relacionava com o indiano, o africano, o
chinês ou o indígena de forma condescendente, a globalização em sua fase
recente tomou uma forma – pelo menos neste aspecto – mais democrática,
relativizando a situação histórica de dominação pelo Ocidente. Não são mais
apenas alguns países ou culturas – os países colonizadores ou as potências
econômico-militares do pós guerra – que detêm o poder de determinar a
trajetória da história, em seus aspectos políticos, econômicos e culturais,
pela paz ou através da guerra.
O
próprio processo da globalização contribuiu fortemente para acelerar a
diminuição da hegemonia ocidental europeia e americana nas relações
internacionais, notadamente após a queda do Muro de Berlim e,
significativamente, com o crescimento em importância das economias asiáticas; a
japonesa no pós-guerra, os tigres asiáticos (Cingapura, Coréia do Sul, Hong
Kong e Taiwan) na década de 1970 e a China, a partir dos anos 1980.
O desenvolvimento
acelerado e robusto da economia chinesa foi, provavelmente, o grande
acontecimento a influir na relação de forças da política mundial no final do
século XX e começo do XXI. Apesar de sempre ter sido uma grande potência
econômica, militar e cultural ao longo da história, o gigante asiático se
manteve relativamente afastado do comércio global (o começo do que chamamos de
globalização), iniciado no século XVI. Desde as primeiras décadas do século XIX
o país esteve sob domínio de potências estrangeiras, até o final da Segunda
Guerra, quando expulsou as tropas de ocupação japonesas e, depois de uma guerra
civil, tornou-se uma república socialista. O rápido desenvolvimento da China a
partir do final dos anos 1970, foi fortemente impulsionado pelas políticas
industriais do governo liderado por Deng Xiaoping, aliadas aos aportes de
investimentos e transferência de know-how
de empresas ocidentais. A China ascendeu ao posto de segunda maior economia do
mundo e se tornou o maior exportador de produtos industriais e manufaturados,
com alta componente tecnológica.
Nem Fukuyama
e menos ainda McLuhan, poderiam prever os rumos que a globalização tomaria. Na
visão de ambos o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos com seu sistema
político, sua tecnologia e cultura, estariam à frente do processo – como tudo
parecia indicar na época em que ambos formularam suas teorias. Pouco indicava em
1992 e muito menos ainda no início dos anos 1960, que o Oriente, basicamente a China,
passaria a ter a importância que atualmente tem dentro do sistema de produção e
distribuição capitalista.
O
que transparece desta situação é que o Ocidente, a civilização cristã ocidental
– como os historiadores europeus e norte-americanos do século XIX e início do
século XX denominavam esta cultura que teve origem na Europa – está perdendo
sua importância na história. Será que em vinte ou trinta anos, veremos as
grande iniciativas e decisões relativas à economia e política mundial sendo
tomadas na Ásia, provavelmente na China? Assunto a ser observado e acompanhado pelos especialistas.
(Imagens: pinturas do realismo soviético)
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