Outras leituras

quinta-feira, 31 de julho de 2025


 

“No Brasil, só pratica literatura, verdadeiramente, quem, dispondo de meios de vida seguros, tem algum tempo a perder. A literatura não é uma carreira de que alguém possa viver, mais ou menos gloriosamente. É, por assim dizer, um esporte.” (Revista do Brasil, nº 41, maio de 1919).

“Em Lima Barreto conjugam-se equilibradamente as duas coisas: o destino dos tipos e a pintura do cenário; por isso dá ele, melhor que ninguém, a sensação carioca. É um revoltado, mas um revoltado em período manso de revolta. Em vez de cólera, ironia; em vez de diatribe, essa nonchalance filosofante de quem vê a vida sentado num café e amolentado por um dia de calor...” (Revista do Brasil, nº 39, março de 1919).

“O protecionismo protege, não o povo, não o país, mas apenas a maioria feliz dos industriais bastante hábeis para conseguir dos congressos as leis pro domo sua, e na imprensa o malabarismo de argumentos que faz do branco preto e embrulha o idiota do consumidor. Esta é que é a verdade nua e crua.” (Revista Brasil nº 32, agosto de 1918).

“Na verdade, o homem é entre nós o pária eterno, sem direito, sem educação fácil, sem saúde, sem higiene e sem moral: era a princípio o degredado e o aventureiro que não mereciam consideração alguma; depois, de envolta com estes, o índio submetido, que não era gente; depois, o escravo preto, largo tempo entregue à terra, sem outro cuidado do patrão ou dos governos que não fosse a fiscalização do seu trabalho de máquina; depois, o colono... De modo que de toda essa gente não têm pensado os magnatas – os magnatas não pensam em nada – que se ia formando uma sociedade, com maiores direitos à vida e ao respeito de sua qualidade humana do que a dos degredados, escravos, negros índios e colonos. De tudo isso surgiu um homem, com qualidades e defeitos, mas um homem – o brasileiro.” (Revista do Brasil, nº 46, outubro de 1919).

 

José Bento Monteiro Lobato (1882-1948), escritor, jornalista, editor, advogado e empresário em Monteiro Lobato – Críticas e Outras Notas

Ler

quarta-feira, 30 de julho de 2025
(Fonte: Socialist Worker - Karl Marx)

Não perca tempo na vida! Leia!

Leituras diárias


 

“Então, aqueles que seguem um rígido determinismo na neurociência fazem o que eu chamo de afirmação da cadeia causal: (1) O cérebro capacita a mente e o cérebro é uma entidade física; (2) O mundo físico é determinado, então nossos cérebros devem ser determinados; (3) Se nossos cérebros são determinados, e se o cérebro é o órgão necessário e suficiente que capacita a mente, então ficamos com a crença de que os pensamentos que surgem de nossa mente também são determinados; (4) Assim, o livre-arbítrio é uma ilusão, e devemos revisar nossos conceitos do que significa ser pessoalmente responsável por nossas ações. Em outras palavras, o conceito de livre-arbítrio não tem significado. O conceito de livre-arbítrio foi uma ideia que surgiu antes de sabermos todas essas coisas sobre como o cérebro funciona, e agora devemos nos livrar dele.” (Gazzaniga, pg. 129).

 

Michael S. Gazzaniga, psicólogo, neurocientista e professor estadunidense em Who’s in charge? (Quem está no comando?)

Essa não poderia faltar

terça-feira, 29 de julho de 2025


Gentle Giant

Playing the Game (1974)

https://www.youtube.com/watch?v=tfNx2KF8Fd8

Pagar imposto

segunda-feira, 28 de julho de 2025

No Brasil, ricos e muito ricos pagam poucos impostos. Proporcionalmente, a classe média e os pobres pagam muito mais.

Por que? Porque no nosso país as políticas são formuladas para beneficiar as elites e oligarquias, exatamente aquelas que conseguem eleger representantes políticos - seja no Legislativo ou no Executivo - que vão representar e defender os interesses dessas classes.

Exemplo disso são as imagens abaixo:


1. Exemplo de cidade num país (Brasil) onde ricos pagam pouco ou nenhum imposto. A riqueza gerada pela sociedade é mal distribuída:

(Fonte: Poder 360/Apu Gomes)


2. Exemplo de cidade em um país (Alemanha) onde ricos pagam impostos socialmente justos, de acordo com seus ganhos:

(Fonte: Sightline Institute/Alan Durning)


Por quanto tempo ainda vamos deixar nos iludir por aqueles que querem manter esta situação? Governos se sucedem e pouco ou nada muda. Quando teremos um projeto de desenvolvimento para toda a sociedade brasileira, e não somente para segmentos privilegiados?

Mário Agostinelli (1915-2000)


Conheça mais sobre a vida e obra do artista no Guia das Artes abaixo:

https://www.guiadasartes.com.br/mario-morel-agostinelli/obras-e-biografia

A frase do dia

domingo, 27 de julho de 2025

 

“Cada nova geração pergunta: ‘Qual o significado da vida?’ Um maneira mais útil de fazer a pergunta seria: ‘Por que o homem precisa de um sentido para a vida?’”

 

Peter Werner Zappfe (1899-1990), filósofo, escritor e jurista norueguês citado em “Peter Zappfe, filósofo trágico” (https://ricardorose.blogspot.com/2020/07/peter-zapffe-filosofo-tragico.html)

Não à devastação!


(Fonte: Cesedireitos/Instragram)

Entenda o que é o "PL da Devastação" e saiba como este projeto vai destruir ainda mais o meio ambiente e contribuir muito para as mudanças climáticas. Veja texto abaixo do jornal Repórter Brasil:

Leituras diárias

sábado, 26 de julho de 2025


 

“Com efeito, a lógica especulativa envolve uma aceitação e até uma celebração do risco. Konings argumenta que a especulação financeira se torna uma prática central, em que o valor é gerado não apenas pela produção, mas pela capacidade de prever e manipular futuros possíveis. Com efeito, a financeirização se estenderia – com pouca resistência – além dos mercados financeiros, influenciando todos os aspectos da vida social. A lógica especulativa permeia decisões pessoais, políticas públicas e práticas empresariais, moldando a forma como as pessoas pensam sobre segurança, investimento e valor. Tal lógica especulativa cria instabilidade e desigualdade, na medida em que a ênfase na especulação e no risco beneficia uma pequena elite financeira enquanto precariza a vida da maioria das pessoas. Segue-se, portanto, uma reconfiguração das relações de poder, deslocando a autoridade das instituições democráticas para os mercados financeiros. A lógica especulativa do capital redefine quem tem o poder de moldar o futuro e como esse poder é exercido.” (Calejon e Rocaglia, págs. 174 e 175). 

“Aqui entra a dimensão do poder econômico traduzido em poder midiático e político. Esses grupos ligados ao agronegócio, ao extrativismo mineral e aos mercados financeiros montaram grandes estruturas de bloqueio contra a transformação da economia. Ao controlar veículos de imprensa e financiar a eleição de deputados e senadores, bem como de mandatários do Poder Executivo em todos os níveis, tais grupos buscam persuadir a sociedade de que seu lucro atua em favor dela. É daí que nascem campanhas publicitárias massificadas como ‘O agro é tech, o agro é pop, o agro é tudo’; e inverdades como ‘O agro brasileiro alimenta o mundo’. Essa camada comunicacional protege – muitas vezes ocultando ou não dando a devida ênfase a – ações legislativas que garantem benefícios fiscais e creditícios, bem como subsídios diretos à produção desses setores. O resultado é a concentração ainda maior do poder econômico e suas consequências sobre a política e o debate público.” (Calejon e Roncaglia, pags. 179 e 180).  

“A agropecuária representa 7,9 % do PIB e míseros 3 % dos empregos formais da economia, mas paga menos de 1,5 % da arrecadação total de tributos. É o único setor que abocanha uma fatia dos benefícios tributários (13,5 %) maior do que sua contribuição ao PIB. Por comparação, a indústria representa 12,9% do PIB e 15 % dos empregos formais, sendo responsável por 31% dos tributos arrecadados e 12,5 % dos benefícios tributários. Além disso, o agro não seria tech sem os pesados investimentos feitos pelo Estado em pesquisa agropecuária. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) custou 3,5 bilhões de reais aos cofres públicos em 2023. Cerca de 2.500 pesquisadores oferecem inovações que melhoram a produtividade do setor. Em contraste, a Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii ) recebe 1,1 bilhão de reais, enquanto o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC), ‘estatal do chip’ que tira o sono dos liberais, custa 53 milhões de reais ao orçamento federal. É uma raridade um empresário do agronegócio reclamar da Selic estratosférica. Sabe por quê? O agro conta com o Plano Safra, que oferece crédito com taxas de juros variando de 7 % ao ano até 12,5 % ao ano. A Selic pode ir para Marte que o agro não dará um pio. Dificilmente o agro seria pop se pagasse as taxas de juros que a indústria paga, cujo piso médio está em 20 % ao ano. No período de 2023 a 2024, serão 435 bilhões de reais em crédito subsidiado (apenas 73 bilhões serão destinados à agricultura familiar). Em 2015, o crédito direcionado representava 90 % do Plano Safra, caindo para cerca de 50 % desde então. O motivo é a captação de crédito via Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e nos Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), ambos com isenção do imposto de renda sobre os rendimentos financeiros.” (Calejon e Roncaglia, págs. 188 e 189).

 

Cesar Calejon (1979-), jornalista e escritor brasileiro e André Roncaglia (1983-), economista, professor e representante do Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional) em Poder e Desigualdade.

Por que os preços aumentam?

sexta-feira, 25 de julho de 2025


(Fonte: Charges Genildo)

Dia do Escritor

 (Fonte: Jornal O Estado de São Paulo)

“Palavras podem ser como raios X se você usá-las corretamente – elas atravessam qualquer coisa. Você lê e é perfurado.” 


Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo

Outras leituras

quinta-feira, 24 de julho de 2025


 

“Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. O homem atravessa uma fase integralmente política da humanidade. Nunca, jamais ele foi tão ‘momentâneo’ como agora. Os abstencionismos e os valores eternos podem ficar pra depois. E apesar da nossa atualidade, da nossa nacionalidade, da nossa universalidade, uma coisa não ajudamos verdadeiramente, duma coisa não participamos: o melhoramento político-social do homem. E esta é a essência mesma da nossa idade.” (Andrade, pág. 50). 

 

Mário de Andrade (1893-1945), poeta, cronista, musicólogo e romancista brasileiro em O Movimento Modernista

Tenho fé

quarta-feira, 23 de julho de 2025


 (Fonte: Nani Humor)

Felicidade

 (Fonte: Selecoes/iG)


Felicidade?

 

“A felicidade, nessa linha de pensamento, é sem dúvida um tópico interessante, mas é simplesmente muito mal definido para justificar um estudo histórico. Dan Gilbert, um psicólogo que tem todo tipo de coisas interessantes a dizer sobre a felicidade, admite que nunca iremos ter um “medidor de felicidade” que indique infalivelmente quanta felicidade existe, ou mesmo exatamente o que ela é, e se isso é verdade para o presente, é ainda mais verdadeiro para o passado.”

Peter N. Stearns, Hapiness in world history (Felicidade na história mundial)

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A palavra "felicidade", indefinível e capaz de abranger quase tudo, sofreu diversas mudanças ao longo da história. Os conceitos de uma vida feliz, tanto para os povos do antigo Crescente Fértil quanto para o do império egípcio, de uma maneira geral, eram relacionados com uma vida virtuosa, voltada para o culto dos deuses e, especificamente no caso do Egito, uma consequente feliz existência no além-túmulo (situação inicialmente reservada aos reis e nobres e, ao longo dos séculos, gradualmente estendida às classes baixas). A Grécia antiga foi a primeira cultura ocidental que tratou do tema da felicidade em termos especificamente humanos, seculares, desvinculados de crenças religiosas, através da filosofia.

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“Mas eis a hora de partirmos , eu para a morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor rumo, ninguém sabe, exceto o deus.”

Platão (Sócrates), Apologia de Sócrates

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Os antigos chineses, muito provavelmente também chegaram a se ocupar da ideia, sob a ótica das filosofias taoista confuciana.

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Devem mudar frequentemente, aqueles que querem ser constantes em felicidade ou sabedoria.

Confúcio, Anacletos

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Entre os antigos gregos o filósofo Aristóteles falava da eudaimonia; termo que representaria um estado de tranquilidade e satisfação, ao qual se chegaria através de uma conduta virtuosa e reflexão filosófica. Outras escolas de pensamento gregas posteriores, como o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo, tratavam da ataraxia; situação de tranquilidade, depois de eliminados os excessivos apegos a prazeres e bens materiais; apagadas as falsas concepções sobre os deuses e o além, e descartadas as falsas opiniões e o pensamento dogmático. Através da prática de uma ascese intelectual e por vezes física, os filósofos convidavam seus concidadãos a uma vida feliz, enfatizando o ser (o conhecimento filosófico e a conduta racional) ao invés do ter (propriedades, poder, boa fama, prazeres, etc.).

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Assim, a atividade divina, que em felicidade ultrapassa todas as outras, seria apenas contemplativa. E, por consequência, de todas as atividades humanas, aquela que é a mais semelhante à atividade divina será também a maior fonte de felicidade.”

Aristóteles, Ética a Nicômaco, Cap. X

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Nem a posse das riquezas, nem a abundância das coisas, nem a obtenção de cargos ou poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação dos afetos e a disposição de espírito que se mantenha nos limites impostos pela natureza.”

Epicuro, Antologia de textos

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Com a propagação da religião cristã, sobrepondo-se às dezenas de outros cultos de diversas origens praticados pelas massas do império romano, o conceito de felicidade, ou de uma vida feliz, passa a tomar outra forma. Associando conceitos da filosofia grega às crenças do judaísmo farisaico (cujas origens remotas encontram-se no zoroastrismo persa) as nascentes comunidades cristãs criaram sua concepção de bem-aventurança, que todavia pouco tem a ver com o conceito que hoje associamos com a noção de felicidade. Vida virtuosa, de acordo com os ensinamentos herdados dos membros mais antigos da comunidade religiosa, e tidos como a doutrina de Jesus de Nazaré; estar entre os eleitos que sobreviveriam ao Final do Tempos e ao Juízo Final (até os séculos III e IV muitas comunidades cristãs ainda esperavam a volta de Jesus, segundo o livro do Apocalipse); tais deveriam ser os ideais que poderíamos chamar de felicidade para grande parte do mundo cristão desde o final da Antiguidade até o término da Idade Média.

Mudanças nas relações econômicas e sociais ocorridas entre os séculos XV e XVII (fim do sistema feudal, invenção da imprensa, as Grandes Navegações, desenvolvimento do mercantilismo, início das manufaturas, entre outras) trouxeram uma nova interpretação daquilo que as pessoas consideravam ser o estado de felicidade. Com o movimento cultural do Renascimento emerge entre as classes mais instruídas o conceito de “indivíduo”. O interesse pelas artes (Da Vinci, Michelangelo, Boticelli, Dürer, Bosch, etc.), ciências (Copérnico, Kepler, Galileu, Servetus, Harvey, etc.), letras (Erasmo, Camões, Cervantes, Shakespeare, etc.), ciência política (Morus, Bodin, Maquiavel, etc.), filosofia (Montaigne, La Boétie, Della Mirandola, Ficino, Valla, Mathias Aires, etc.) entre outras áreas do conhecimento humano, cresce exponencialmente.

Fato importante deste período é a diminuição gradual da influência da religião na vida das pessoas. A igreja católica perde parte de seu poder e não mais domina os vários aspectos da conduta dos indivíduos. A vida diária das pessoas comuns, fortemente influenciada por uma visão mágico-religiosa do mundo vigente desde o início da Idade Media, é transformada por conceitos mundanos (seculares) baseados nesta nova perspectiva, que se desenvolveu com o Renascimento. O “indivíduo” tomava forma e mesmo na religião os intermediários entre a pessoa e a divindade – a instituição e a hierarquia católica – estavam sendo substituídos pelo contato direto, como pregavam líderes reformadores como Lutero, Calvino, Zwinglio e outros.

Qual era o conceito de felicidade deste novo indivíduo? Possibilidade de pensar e acreditar como melhor desejasse – havia dezenas de igrejas reformadas com milhares de pregadores itinerantes por toda a Europa. Migrar da pobreza e do isolamento do campo para a cidade, encontrando oportunidades de ascensão econômica e social, através de alguma atividade ligada ao comercio e, mais tarde, à indústria. Ampliar seu horizonte intelectual/cultural e religioso, antes limitado à vida no campo e ao universo mental mágico de uma religião surgida ainda no período agrário.

Muitas mudanças ocorreram ao longo dos séculos XVIII e XIX (revoluções, industrialização, migrações do campo para a cidade, movimentos político-sociais) que alteraram novamente a forma como os indivíduos interpretavam o universo e influenciaram suas expectativas de felicidade. Foi nesse período, segundo alguns autores, que teriam surgidos os contornos do moderno conceito de felicidade, influenciado pelo pensamento da filosofia iluminista e pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, elaborada durante a Revolução Francesa (1789). Com isso, a gradual secularização da civilização ocidental, processo que a partir do final do século XIX também foi levado a outras regiões do globo, teve uma forte influência na criação da moderna ideia de felicidade.

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“Os representantes do povo francês, constituídos em ASSEMBLEIA NACIONAL, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em declaração solene os Direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus deveres; a fim de que os atos do Poder legislativo e do Poder executivo, a instituição política, sejam por isso mais respeitados; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade geral.  

Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)

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“Assim, tanto no bem quanto no mal, tirante os casos graves de infelicidade, importa menos saber o que ocorre e sucede a alguém na vida, do que a maneira como ele o sente, portanto, o tipo e o grau de sua suscetibilidade sob todos os aspectos. O que alguém é e tem em si mesmo, ou seja, a personalidade e o seu valor, é o único contributo imediato para sua felicidade e para o seu bem-estar. Todo o resto é mediato.”

Arthur Schopenhauer, Aforismos para a Sabedoria de Vida

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Hoje o tema da felicidade tornou-se uma constante no imaginário das sociedades contemporâneas, especialmente nas ocidentais. Devemos “procurar sermos felizes”, os recém-casados recebem “votos de felicidade”, todos desejam que seus filhos “sejam felizes”. Não importa o tipo de atividade profissional a qual você se dedique, já que “o que importa é que sejas feliz no que fazes.” A felicidade tornou-se um dos principais temas nas redes sociais, nos filmes, nas mídias. O mundo quer ser feliz.

O marketing, uma das grandes ferramentas para fomentar o consumo – o motor da economia de mercado –, espertamente incorporou o tema às suas mensagens. Assim, nas relações comerciais e no consumo a felicidade é um item de vendas importante. Há décadas que a publicidade mais sofisticada, de produtos e serviços mais caros, deixou de enfatizar as qualidades da mercadoria; sua durabilidade, seu preço competitivo ou sua aparência – aspectos óbvios no produto, como sugere a mensagem. Atualmente a ênfase é a impressão que o produto causa na imaginação do consumidor, relacionada a uma sensação agradável, sugestivamente associada à felicidade.

A incorporadora que vende um apartamento com garagem privativa, terraço gourmet, ampla área comum com piscina, churrasqueira e quadra de esportes, está, segundo a peça propagandística, proporcionando (“vendendo” seria apelativo e tornaria a intenção óbvia) “um novo conceito de viver com felicidade”. O recém-lançado carro tipo SUV, moderno e equipado é, insinuantemente, apresentado como o seu “novo rumo para a felicidade”. Também fica implícita a impressão de que possuir tais bens é condição de prestígio social, sinal de que seu possuidor já faz parte de uma classe “mais feliz” do que os menos felizes (leia-se menos favorecidos economicamente). Significativamente, itens de consumo de menor valor não chegam a oferecer felicidade – pelo menos do que se depreende do comercial. No máximo propiciam “bons momentos”, “sua segurança”, “um agradável frescor”, “saúde para você e sua família”. Ou seja, se você até este momento de sua vida só teve condições de comprar produtos de menor valor, por uma razão ou outra, ainda não pode ser incorporada (o) ao grupo da classe mais feliz. 

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A desvalorização do mundo humano aumenta em proporção direta com a valorização do mundo das coisas.”

Karl Marx, O Capital

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Mas o que é a felicidade? Psicólogos a definem como “estado emocional caracterizado por bem-estar, contentamento e satisfação. Pode ser um sentimento duradouro ou um momento passageiro de alegria e prazer.” (AI Overview). Definitivamente nada dependente da posse de grandes riquezas, fama, prazer e poder, já que há milhões de pessoas que comprovadamente possuem tudo isso e, mesmo assim não se consideram felizes.

Será a prática de alguma filosofia ou religião? Pouco provável, já que os próprios filósofos da Antiguidade admitiam não haver conseguido alcançar a “tranquilidade de alma”, como eles próprios pregavam. Sêneca, filósofo estoico romano é o exemplo mais famoso disso. No caso das religiões, a impressão que se tem é a mesma, já que as hagiografias de santos e místicos relatam somente os aspectos positivos das vidas destes indivíduos, desconsiderando passagens que pudessem colocar em questão seu estado de felicidade ou beatitude. Além disso, há milhões de pessoas não religiosas e outras que nada se ocupam de filosofia, que levam vidas tão felizes ou infelizes quanto os filósofos e os religiosos.  

Concluímos que o conceito de felicidade é tão amplo, envolvendo incontáveis aspectos, muitos deles inalcançáveis, menos ainda simultaneamente. Imagine uma pessoa, que para ser feliz, segundo os padrões mais comuns da cultura popular, teria ser inteligente, ser bem sucedida economicamente, ter boa índole, ser bondosa, ter saúde, ser bem humorada, ter boa aparência, ter bons relacionamentos, etc., etc., etc. Também se diz que “a pessoa é feliz”, ao invés de “está feliz (no momento)”, como se tal estado, além de tudo, pudesse ser algo constante. Algo que lembra aquelas inverossímeis histórias de “sábios indianos que alcançaram a eterna felicidade” dos livros de autoajuda.

A felicidade, como propagada pela cultura popular mundo afora, parece ser, portanto, uma quimera. Existem “momentos felizes (ou alegres)”, mas “uma vida feliz” é pouco provável. Tão improvável que as religiões – profundas conhecedoras da índole humana há milênios – a reservam para o outro mundo, e muitas vezes apenas para os eleitos. 

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Voltamo-nos, portanto, para a questão mais simples: o que as próprias pessoas revelam por meio de seu comportamento como propósito e intenção de suas vidas, o que exigem da vida, o que desejam alcançar nela. A resposta para isso é difícil de ignorar: elas buscam a felicidade, desejam ser felizes e permanecer assim. Essa busca tem dois lados: um objetivo positivo e um negativo; por um lado, busca a ausência de dor e desprazer e, por outro, a experiência de fortes sentimentos de prazer.”

É completamente impraticável; todas as percepções do universo o contradizem; pode-se dizer que a intenção do homem de ser ‘feliz’ não está contida no plano da ‘criação’. O que se chama felicidade no sentido mais estrito surge da satisfação bastante repentina de necessidades profundamente reprimidas e é, por sua própria natureza, possível apenas como um fenômeno episódico”.

Sigmund Freud, Das Unbehagen in der Kultur (O mal-estar na civilização)

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Ricardo E. Rose

Frases de Meio Ambiente

terça-feira, 22 de julho de 2025

 

“O paulistano de 1822 e seus sucessores até o estabelecimento da companhia Cantareira, dessedentava-se no chafariz da Misericórdia, nas nascentes naturais do Guaçu, do Miguel Carlos, Moringuinho e cisternas e quando tais fontes de abastecimento minguavam pelas prolongadas secas, recorriam às promessas à Nossa Senhora da Penha e aos rios que circundavam a cidade.”


Affonso A. de Freitas (1868-1930), historiador brasileiro em Tradições e Reminiscências Paulistanas

Leituras diárias

segunda-feira, 21 de julho de 2025


 

“O cerne da ideia de progresso é a crença de que a vida humana se torna melhor com o crescimento do conhecimento. O erro não está em pensar que a vida humana pode melhorar. Em vez disso, é imaginar que a melhoria pode ser cumulativa. Ao contrário da ciência, a ética e a política não são atividades nas quais o que é aprendido em uma geração pode ser passado para um número indefinido de gerações futuras. Como as artes, são habilidades práticas e são facilmente perdidas. Muitos pensadores do Iluminismo aceitaram que o avanço científico poderia desacelerar ou parar, como em períodos anteriores da história, e nesse caso o progresso social também pararia. No entanto, enquanto o avanço da ciência continuasse, eles acreditavam que a vida humana melhoraria. A melhoria pode não ser rápida ou constante, mas seria incremental, com cada novo avanço construindo sobre o anterior, como o crescimento do conhecimento na ciência. O que nenhum dos pensadores do Iluminismo imaginou, e seus seguidores hoje falharam em perceber, é que a vida humana pode se tornar mais selvagem e irracional, mesmo com a aceleração do avanço científico. Agora que a ciência é mundial, o avanço do conhecimento é imparável. A não ser que ocorra uma crise global quase inimaginável, não há perspectiva de que o avanço da ciência diminua ou volte atrás. Em ética e política, no entanto, nenhum ganho é irreversível. O conhecimento humano cresce, mas o animal humano permanece praticamente o mesmo. Os humanos usam seu conhecimento crescente para promover seus objetivos conflitantes — sejam eles quais forem. Genocídio e destruição da natureza são produtos do conhecimento científico tanto quanto antibióticos e aumento da longevidade. A ciência amplia o poder humano. Ela não pode tornar a vida humana mais razoável, pacífica ou civilizada, muito menos permitir que a humanidade refaça o mundo.

Ao chamar a crença no progresso de ilusão, não quero dizer que devemos — ou podemos — simplesmente rejeitá-la. Quando Freud descreveu a religião como uma ilusão, ele não quis dizer que ela era totalmente falsa, nem estava sugerindo que a humanidade poderia viver sem ela. Ilusões não são meros erros. São crenças às quais nos apegamos por razões que não têm nada a ver com a verdade. Nós nos voltamos para a religião não para uma explicação do universo, mas para encontrar significado na vida.”

 

“A ideia de progresso, que anima todos os partidos hoje, é uma réplica vazia de uma concepção cristã da história. Em uma visão cristã, a história não pode ser sem significado. É um conto de pecado e redenção escrito por Deus – mesmo que muito nele esteja fadado a permanecer misterioso. O risco de qualquer religião histórica é que ela acabe dando muita importância ao tempo e muito pouco ao que é eterno. O cristianismo tradicional – a fé de Agostinho, por exemplo – procurou evitar esse perigo negando que o funcionamento da providência pode ser conhecido pelo entendimento humano. Foi uma precaução sábia, mas não impediu o surgimento de movimentos milenares no final da Idade Média, ou a mutação do cristianismo nas religiões políticas militantes dos tempos modernos.”

 

John Gray (1948-), filósofo e ensaísta inglês em Heresias: contra o progresso e outras ilusões (Heresies: Against progress and other illusions)

Tunnel - Sivuca

domingo, 20 de julho de 2025

 Música brasileira 

Sivuca

Álbum: Sivuca (1968)

Música: Tunnel




https://www.youtube.com/watch?v=yZXQqljjJnU&list=PLLCx7chs1o5VMEt3b6vl5vWsY-o83BYuO&index=2


Severino Dias de Oliveira, mais conhecido como Sivuca (1930-2006), foi um multinstrumentistamaestroarranjadorcompositororquestrador e cantor brasileiro. Suas composições e trabalhos incluem, dentre outros ritmos, chorosfrevosforrósjazzbaiãomúsica clássicablues, entre muitos outros.

Em 1951, gravou o primeiro disco em 78 rotações, pela Continental, com "Carioquinha do Flamengo" (Waldir AzevedoBonfiglio de Oliveira) e "Tico-Tico no Fubá" (Zequinha de Abreu). Nesse mesmo ano, lançou o primeiro sucesso nacional, em parceria com Humberto Teixeira, "Adeus, Maria Fulô". A partir de 1955, foi morar no Rio de Janeiro. Após apresentações na Europa como acordeonista de um grupo chamado “Os Brasileiros”, chegou a morar em Lisboa e Paris, a partir de 1959. Foi considerado o melhor instrumentista de 1962 pela imprensa parisiense. Gravou o disco "Samba Nouvelle Vague" (Barclay), com vários sucessos de bossa-nova.

Morou em Nova Iorque de 1964 a 1976, onde, entre outros trabalhos, foi autor do arranjo do grande sucesso "Pata Pata", de Miriam Makeba, com quem então viajou pelo mundo até o fim da década de 1960. Em 1971, Harry Belafonte o convidou para arranjar e tocar no especial dele e de Julie Andrews, na TV NBC, na cidade de Los Angeles. Fez uso de violão e sanfona, arranjou para orquestra de cordas, a quatro mãos, com o compositor e arranjador Nelson Riddle.

 

(Fonte do texto: Wikipedia)

O que pode acontecer com as tarifas


 (Fonte: Reddit/Onguardforthee)

Escova para vaso sanitário

sábado, 19 de julho de 2025

Já à venda nas melhores lojas do ramo! 


(Fonte: Magazine Luiza)

Ignácio de Loyola Brandão (1936-)


Veja entrevista do premiado escritor e jornalista brasileiro Ignácio de Loyola Brandão, falando sobre o gênero literário da crônica. O vídeo está disponível no canal SESC TV abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=AKHKsHlbeno

"Dos filhos deste solo és mãe gentil..."

sexta-feira, 18 de julho de 2025


 (Fonte Brasil de Fato/ Facebook)

Augustin de Lassus (1984-)

Conheça mais sobre a vida e obra do artista no site Waves abaixo:

Outras leituras

quinta-feira, 17 de julho de 2025


 

“Ora, na realidade, para o existencialista, não existe outro amor do que aquele que se constrói, não há outra possibilidade de amor do que aquela que se manifesta em um amor, não há genialidade senão aquela que se expressa em obras de arte: o gênio de Proust é a totalidade das obras de Proust; o gênio de Racine é a série de suas tragédias, além disso não há nada. Por que atribuir a Racine a possibilidade de escrever uma nova tragédia, uma vez que exatamente ele não a escreveu? Um homem se compromete em sua vida, traça seu perfil, e fora dessa figura não há nada. Evidentemente essa forma de pensar pode parecer dura a alguém que não teve sucesso em sua vida. Mas, por outro lado, ela dispõe as pessoas a compreenderem que somente a realidade é que conta, e que os sonhos, as expectativas, as esperanças, permitem apenas definir alguém como um sonho malogrado, como esperanças abortadas, como expectativas inúteis; ou seja, isso as define negativamente, e não positivamente; entretanto, quando dizemos ‘Você não é outra coisa senão sua vida’, isso não significa que o artista será julgado unicamente a partir de suas obras de arte; milhares de outras coisas contribuem igualmente para defini-lo. O que queremos dizer é que um homem não é outra coisa senão uma série de empreendimentos, a soma, a organização, o conjunto das relações que constituem essas empreitadas.” (Sartre, pág. 34). 

“O existencialismo não é, sobretudo, um ateísmo no sentido de empenhar-se para demonstrar que Deus não existe. Declara, ao contrário, que, mesmo que Deus exista, isso não mudaria nada; este é o nosso ponto de vista. Não quer dizer que creiamos que Deus existe, mas que achamos que o problema não é sua existência ou não. O homem precisa encontrar-se ele próprio e convencer-se de que nada poderá salvá-lo de si mesmo, mesmo que houvesse uma prova incontestável da existência de Deus. Neste sentido, o existencialismo é um otimismo, uma doutrina de ação, e apenas por má-fé é que, confundindo seu próprio desespero com o nosso, os cristãos podem nos chamar de desesperançados.” (Sartre, pág. 48 e 49).

 

Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo, escritor, dramaturgo e ensaísta francês em O existencialismo é um humanismo

Igreja$$$$$

quarta-feira, 16 de julho de 2025

(Fonte: Combate Racismo Ambiental)

O que eles pensam


 

“A maneira como nos movimentamos na cidade não é apenas um assunto técnico de peritos em tráfego, mas de todos nós. E passa por nos colocarmos algumas perguntas: por que as crianças precisam esperar por uma pausa no trânsito que passa a toda velocidade? Por que destinamos tanta terra pública e privada a estacionamentos? Por que carros individuais motorizados recebem tantos incentivos? Por que o limite de velocidade de vinte quilômetros por hora é considerado lento em uma rua? Por que em cidades brasileiras usar transporte público é visto como símbolo de inferioridade de classe? Por que normalizamos mortes no trânsito e ainda chamamos de acidentes? Por que prezamos tanto por velocidade e, ainda assim, aceitamos as mesmas pretensas soluções que não atingem o objetivo prometido?”

 

Artigo Piloto Automático de Bianca Tavolari, publicado no jornal 451 nº 88

Essa não poderia faltar

terça-feira, 15 de julho de 2025

Johnny Winter

Be Careful with a Fool (1969)

https://www.youtube.com/watch?v=nHIkmZw7Jac

Lucrécio

segunda-feira, 14 de julho de 2025

“Por isso o movimento que anima agora os elementos dos corpos é o mesmo que tiveram em idades remotas e o mesmo que terão no futuro, segundo leis idênticas; o que teve por hábito nascer nascerá nas mesmas condições; e tudo existirá e crescerá e será forte de sua própria força, segundo o que foi dado a cada uma pelas leis da natureza. Nem força alguma pode modificar o conjunto das coisas; não há realmente lugar algum para onde possa fugir, de todo, qualquer elemento da matéria, ou donde possa vir, para irromper no todo, qualquer força nova que mude a natureza das coisas e modifique os movimentos.” 

“E tudo o que saiu da terra à terra volta, tudo o que foi enviado das regiões do céu outra vez o recebem os espaços do céu. A morte não destrói os corpos a ponto de aniquilar os elementos da matéria: só lhes quebra a união. Depois combina-os de outro modo e faz que todas as coisas modifiquem as formas e mudem de cor e adquiram sensibilidade, manifestando-a logo; isto te fará ver que a importância são para os mesmos elementos as combinações e as posições que possam ter e os movimentos que entre si transmitam e recebam; não tomes, pois, como podendo residir nos elementos primordiais e eternos o que vemos flutuar à superfície das coisas e nascer por instantes e subitamente perecer.”

 

Lucrecio (94-50 AEC), filósofo e poeta romano em Da Natureza

Espertos


(Fonte: Reddit/ r/brasil)

Ler!

domingo, 13 de julho de 2025

(Mahatma Gandhi) 
Não perca tempo na vida! Leia! 

Eleonore Koch (1926-2018)

Conheça mais sobre a vida e obra da artista no site Neo Feed abaixo:

https://neofeed.com.br/finde/a-arte-a-liberdade-e-a-coragem-de-eleonore-koch/

Dia Mundial do Rock

 

https://www.youtube.com/watch?v=CGj85pVzRJs