Peter Zapffe, filósofo trágico

sábado, 11 de julho de 2020

A espécie humana vem do nada e retorna ao nada. Além disso, não há nada.”      Peter Wessel Zapffe


Vida e obra


Peter Werner Zapffe nasceu no dia 18 de dezembro de 1899, na gélida cidade norueguesa de Tronso, situada a 350 quilômetros ao norte do Círculo Polar Ártico. Dotado de grande capacidade literária e fértil imaginação, Zappfe escreveu sua monografia de graduação para o curso de Direito em versos. O texto do poema ainda se encontra exposto na biblioteca da universidade de Oslo. Formado em direito, passa a advogar e depois se torna juiz.

Grande leitor, Zapffe aprofunda-se na obra de seu conterrâneo, o dramaturgo Henrik Ibsen (1828-1906). Considerado um dos mais poéticos e profundos escritores da tradição europeia, Ibsen tinha um olhar crítico, e através de suas peças analisava a realidade por trás das convenções sociais e morais de sua época. Sua obra influenciou escritores como George Bernard Shaw, Oscar Wilde e James Joyce. Profundamente impressionado com os temas abordados por Ibsen, Zapffe decide voltar aos estudos formais, à universidade, “para entender a ardente questão que significa ser humano”, segundo escreve mais tarde.

Em suas pesquisas filosóficas Zapffe desenvolveu um pensamento existencialista bastante original, influenciado principalmente pelas ideias dos pensadores alemães Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Friedrich Nietzsche (1844-1900), já que em seu país, até aquela época, não havia uma tradição filosófica consolidada.

Pessimismo filosófico e visão fatalista da existência humana marcam a produção intelectual de Zapffe. Os pontos dos quais parte em sua exposição filosófica é que o homem nasce com capacidades de compreensão, raciocínio e autoconhecimento superdesenvolvidos, mas não se adapta aos desígnios da natureza. A procura de uma resposta para os enigmas da vida e da morte não pode ser satisfeita; trata-se de uma necessidade que a natureza não pode atender. A tragédia, segundo o pensamento de Zapffe, é que não encontrando solução, os humanos usam todo seu tempo de vida tentando não ser humanos, ou seja, tentando ser o que não são através de ilusões.

Por essa razão o ser humano é um paradoxo. Desenvolveu um anseio por um objetivo metafísico – justiça e sentido –, mas está destinado à frustração em seu ambiente real. O processo da vida é insensível em relação aos entes que cria e destrói ao longo de sua perpetuação. Enquanto que nenhuma criatura viva consegue escapar desta carnificina, somente os humanos carregam o peso desta consciência. Por isso, “um mundo inabitado”, escreve Zapffe, “não seria algo desafortunado”.

Desta forma Zapffe desenvolveu um pensamento existencialista bastante original, diferente das visões mais otimistas de Albert Camus e Martin Heidegger, comparável em alguns pontos ao do romeno Emil Cioran. A biologia evolucionista do estoniano alemão Jakob Jahann von Uexküll (1864-1944) também contribuiu para a formação da filosofia de Zapffe. Esta convergência da filosofia com a biologia veio a ser conhecida como biosofia (biosophy), da qual o pensador norueguês foi um dos mais importantes representantes, tendo influenciado outros filósofos noruegueses, como Arne Ness e Herman Tonnessen. A biosofia tem um importante papel na complexa compreensão da moralidade e da ética na obra de Zapffe.

A primeira e mais importante obra de Zapffe é um ensaio, que acabou se tornando seu texto mais famoso fora da Noruega até o momento: O último Messias (1933). Com este trabalho, de clara feição existencialista, Zapffe influenciou a posterior filosofia norueguesa. Em seu texto também encontramos uma crítica a ideologias de sua época, como a eugenia – compartilhada pelas elites e grupos políticos do início do século – e a visão teleológica da evolução biológica e do desenvolvimento tecnológico.

O ensaio tem início com a fábula de um caçador primitivo, que deixando sua caverna à noite para caçar, é repentinamente tomado por compaixão para com sua presa, caindo em profunda crise existencial. Nesta fábula, Zapffe remete a dois grandes relatos da cultura ocidental. Primeiro, faz referência à alegoria da Caverna, do livro Da República de Platão, o qual também narra a história de alguém que se dá conta de fatos que ignorava, quando sai da caverna que habitava. O segundo relato ao qual a fábula de Zapffe faz referência é a história da Queda do Homem, no Livro do Gênesis. Zapffe mostra que seu homem das cavernas era alguém com excessiva capacidade de compreensão. A evolução, argumenta o texto, cometeu um excesso ao formar o cérebro humano da maneira como é. Zapffe compara o homem ao grande cervo irlandês (cervis giganticus), que vivendo até o final do Pleistoceno (há 12 mil anos), foi extinto por causa do tamanho que sua galhada atingiu ao longo de gerações, dificultando sua sobrevivência.

Os humanos, segundo o filósofo, podem perceber que cada ser individual é um efêmero elo no fluxo da vida, sujeito às mais duras contingências em seu caminho para o inevitável aniquilamento. No entanto, raramente se desesperam com esta ideia, já que nossos cérebros evoluíram para um processo de autocensura e fantasia, cuja manifestação prática, segundo Zapffe, é o que chamamos de cultura ou civilização. Incorporando conceitos de Sigmund Freud, bastante atuais à época, Zapffe escreve que “a maior parte das pessoas consegue se salvar, ao artificialmente limitar o conteúdo de sua consciência”.

Estes mecanismos dos quais os seres humanos se utilizam para evitar encarar as contingências de suas vidas funcionam:

- Através do que Zapffe denomina de “isolamento”; uma dispensa completamente arbitrária da consciência, de todos os pensamentos e sentimentos perturbadores e destruidores. Exemplo desta atitude são os “certos tipos de médicos que, para se protegerem, veem apenas aspectos técnicos de sua profissão”, nos quais os aspectos trágicos da vida são reprimidos;

- “Ancoragem”, para o filósofo, é a criação de barreiras mentais em torno da consciência, a fim de dar-lhe segurança. Através deste mecanismo o indivíduo se apega a valores, ideais, instituições ou indivíduos, afastando ameaças estranhas que inspirem insegurança. Escreve Zapffe: “As ancoragens publicamente úteis são consideradas com simpatia, e aquele que se ‘sacrifica totalmente’ pela sua ancoragem (a empresa, a causa) é idolatrado. Terá erguido uma muralha poderosa contra a dissolução da vida”;

- “Distração” significa manter a atenção em limites críticos, constantemente alimentanda com impressões. A distração é a constante atividade, a fim de evitar que a mente volte a ocupar-se de si mesma, de suas questões. O filósofo Blaise Pascal define este mecanismo de defesa da seguinte maneira: “Divertimento – Não tendo conseguido curar a morte, a miséria, a ignorância, os homens lembraram-se, para ser felizes, de não pensar nisso tudo.”;

- “Sublimação” é o ato de focar energia longe de impressões negativas, direcionando-a para aspectos e fatos positivos. Com isso os indivíduos se distanciam de si mesmos e encaram sua existência de um ponto de vista estático, como por exemplo os escritores, poetas e pintores. Zapffe mesmo assinalou que seus trabalhos foram produtos de sublimação.

O filósofo nos adverte de que a civilização não poderá ser mantida indefinidamente, e que o avanço tecnológico não representa a solução para a humanidade, ao contrário: “porque, à medida que uma fração cada vez maior das faculdades cognitivas se retira do jogo contra o ambiente, há um crescente ‘desemprego espiritual’”.

Em uma finalização memorável de seu texto, Zapffe paga seu tributo a Platão e Moisés (o qual, segundo a tradição judaico-cristã foi o autor do livro do Gênesis), prevendo o aparecimento de um Último Messias, em um atormentado futuro. Com este personagem Zapffe faz uma referência ao “Super-homem” (Übermensch – além do homem), de Friedrich Nietzsche. Assim, o Último Messias, este profeta da desgraça, um herdeiro do visionário Homem da Caverna, será mal fadado, como seu antepassado. Isto porque suas palavras subvertem o preceito bíblico “sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra” e desagrada a seus concidadãos ao proclamar: “Conheçam a si mesmos – sejam inférteis e deixem a terra em silêncio depois de vocês.”

As ideias de Zapffe, esquematizadas no “Último Messias”, foram desenvolvidas mais pormenorizadamente em um grande tratado chamado Om det tragiske (Sobre o trágico, 1941), publicado durante a 2ª Guerra Mundial. Esta obra foi escrita à mesma época em que o francês, Jean-Paul Sartre, criava sua filosofia mais tarde chamada de existencialismo. Enquanto Sartre escrevia sua obra em uma língua universal, Zapffe escrevia em norueguês, língua pouco conhecida na Europa. Esta é uma das razões por sua obra permanecer quase desconhecida. Tivesse seu trabalho traduzido para o alemão, francês ou inglês, teria se incorporado aos clássicos da moderna filosofia.  

Cabe aqui uma comparação com outro pensador, contemporâneo de Zapffe e também vivendo em um país cuja língua não é extensamente conhecida. Trata-se do pensador romeno Emil Cioran (1911-1995). Nascido na Transilvânia, estudou filosofia na Universidade de Bucareste e mais tarde se fixou em Paris, onde tornou-se famoso por sua filosofia altamente pessimista. Seu pensamento, assim como o de Zapffe, também foi influenciado pelos escritos de Schopenhauer e Nietzsche. Tivesse Cioran permanecido na Romênia, sua obra, como a de Zapffe, seria menos famosa.

Em Sobre o Trágico, Zapffe amplia e aprofunda as ideias delineadas em O Último Messias, sob a ótica de um pensamento trágico, influenciado pela biologia darwinista. Os mais importantes conceitos do livros são:

- Como toda as espécies viventes, o ser humano nasce com certo número de necessidades: de alimento, abrigo, segurança, entre outras. Estas necessidades são facilmente atendidas. Nós humanos, no entanto, temos uma necessidade adicional, não partilhada por nenhuma outra espécie: sentido para a vida. A esta conclusão também já chegara o filósofo Friedrich Nietzsche. Esta carência não poderá nunca ser satisfeita, sob risco de nos enganarmos a nós mesmos. Podemos nos iludir através da crença em um falso sentido para a vida, ou podemos ser honestos e perceber que a vida não tem um sentido dado por alguma condição ou agente externo.

- Zapffe distingue entre duas maneiras de sentido para a vida. Sentido “na vida”, que tem uma acepção primariamente local; enquanto sentido “da vida” é, necessariamente, uma perspectiva global. Assim, apesar de algumas atividades na vida terem um sentido autotélico (que têm sentido em si mesmo), isto não significa forçosamente de que a vida, como um todo, tenha um sentido autotélico. Afirma que não é suficiente dizer que a vida é vivida por seu próprio sentido, de que tem valor autotélico; é necessária uma justificativa externa, ou sentido que está fora da vida. Com isso Zapffe conclui que a vida é sem sentido, já que nossas vidas não podem ser justificadas externamente. Argumenta que sentido “na vida” para certas atividades tem um valor somente por um período limitado de tempo, porque, eventualmente, pode ocorrer que estas atividades dependam de fatores externos ou do ambiente, para que tenham sentido. Apesar de afirmar que “projetos metafísicos” são impossíveis para os humanos, insiste, no entanto, que o ser humano deve procurar, ou mesmo exigir, justiça.  

- Ainda nesta obra, Zapffe distingue quatro diferentes tipos de interesses que são básicos na natureza humana, ou seja: o interesse biológico, o social, o autotélico e os interesses metafísicos. Interesses biológicos se referem à nossa necessidade de alimentos, enquanto que interesses sociais dizem respeito às nossas relações com nossos semelhantes (que vão além dos interesses biológicos). Interesses autotélicos evidenciam nossas atividades que têm seu fim em si mesmas e procuram por seus próprios interesses, ou seja, atividades que são biológica ou socialmente sem valor, mas têm valor intrínseco mesmo assim. Interesses metafísicos, são aqueles que Zapffe considera os mais importantes, e que apontam nossa necessidade de justiça e sentido de vida.

- Zapffe utiliza o vinho como exemplo para estes quatro interesses. O vinho tem um valor biológico, por proporcionar bebida e alimento. Tem valor social em jantares e reuniões, e valor autotélico por ser saboroso e intoxicante. Finalmente, o vinho tem um valor metafísico para cristãos que participam na eucaristia, por contribuir no significado e na justificação, os quais transcendem outros interesses.

- Diferentemente do existencialismo sartriano, que apesar de suas análises realistas da vida humana é uma doutrina otimista em seus termos, a visão que Zapffe tem da existência é desanimadora, desoladora. Com exemplos tirados da literatura universal, da política e das artes em geral, o autor tenta mostrar em seu livro que todas as atividades humanas são, em última instância, fúteis.

Zapffe era uma figura de personalidade complexa, irônico e com grande senso de humor. Além de advogado, jurista e filósofo, também foi ambientalista, antes que este tipo de atividade se tornasse comum. Grande aficionado do montanhismo, praticava a fotografia e era escritor, tendo escrito um livro de histórias e anedotas sobre sua região de origem. Um de seus trabalhos mais populares é uma coleção de ensaios sobre a vida ao ar livre Barske glaeder (Prazeres rústicos). Mesmo sua opera magna filosófica, Sobre o Trágico, é recheada de um humor burlesco, a ponto de um crítico norueguês ter chamado Zapffe de “o Chaplin da filosofia”.

Zapffe influenciou fortemente o movimento ambientalista norueguês, e foi amigo e colaborador de Arne Ness, (1912-2009), filósofo e criador da ecologia profunda (deep ecology). Naess iniciou seus estudos de ecologia relativamente tarde em sua vida, quando se aproximava dos sessenta anos. Dizia que o movimento ambientalista, surgido no pós-guerra, falhava ao encarar a questão ambiental de uma maneira superficial, deixando de levar em conta pressupostos culturais e filosóficos. Cunhou então a distinção entre a “ecologia rasa” e a “ecologia profunda”. Além da visão pragmática e utilitária de governos e empresas, Naess defendia uma ecologia que levasse em conta as complexas relações entre os seres vivos, valorizando a biodiversidade. Diferentemente da cultura fortemente centrada no antropomorfismo, que caracteriza a cultura industrial europeia e americana, a ecologia profunda argumenta que a filosofia ambientalista precisa reconhecer valores que estão inerentes na natureza, independentemente de expectativas, necessidades e desejos humanos. Escreve Arne Naess em Long-range Ecology Movement (Movimento ecológico de longo alcance): “O movimento ecológico raso está preocupado em lutar contra a poluição e o esgotamento dos recursos. Seu objetivo principal é a saúde, a abundância para pessoas nos países desenvolvidos. A ecologia profunda tem preocupações mais profundas que têm a ver com princípios de diversidade, complexidade, autonomia, descentralização, simbiose, igualitarismo e ausência de classes.”

Outro filósofo e escritor norueguês ligado a Zapffe foi Herman Tonnessen (1918-2001). Foi colega de estudos de Arne Naess e mais tarde professor de filosofia, na Universidade da California, nos Estados Unidos, e depois na Universidade de Alberta, no Canadá. Seu pensamento sofreu influência de Arthur Schopenhauer e de seu conterrâneo Peter Wessel Zapffe. Tonnessen é autor, entre outros, do ensaio Hapiness is for the pigs: philosophy versus psychotherapy, 1966 (A felicidade é para os porcos: filosofia versus psicoterapia). Neste livro Tonnessen defende um pessimismo filosófico ainda maior do que o de seu mentor, Zapffe. Assim, se Zapffe dizia que “a vida não tem sentido”, Tonnessen escreve que a vida “não chega nem a ser sem sentido”.

Seguindo seus princípios de antinatalismo, Zapffe, que foi casado duas vezes – com a última esposa, Britt Zapffe, viveu durante 47 anos – não teve filhos. Faleceu na cidade de Asker, na Noruega, em 12 de outubro de 1990. A única herança que o filósofo deixou para a posteridade, além de sua obra, foi dar seu nome a uma montanha da região do Círculo Polar Ártico da Noruega, a qual ele foi o primeiro a escalar. Em uma carta datada de 1990 (ano da sua morte), descreve sua visão da vida: “A espécie humana vem do nada e retorna ao nada. Além disso, não há nada.”

Zapffe foi, acima de tudo, conhecido como um filósofo trágico. Sua filosofia foi uma fina associação entre a biologia darwinista e a visão de que tudo o que é grande irá eventualmente decair e desaparecer. Este princípio Zapffe também considerava válido para a raça humana. Acreditava que a humanidade havia se excluído da natureza, com o desenvolvimento da racionalidade e da ciência. Este modo de vida levaria inevitavelmente ao desaparecimento do homem; esta é a maneira como a natureza funciona. Ao final de seu último livro, Zapffe escreve, respondendo a todos que se desesperam com tal visão: “Infelizmente”, diz o pessimista brincalhão, “não posso ajudá-los. Tudo o que tenho para enfrentar a morte, é um sorriso ridículo”.


Principais obras do autor

- Sobre o trágico, 1941 e 1983;
- O filho Pródigo, uma nova narrativa dramática, Oslo 1951;
- Introdução à dramaturgia literária, Oslo 1961;
- A caixa de areia lógica: lógica elementar para universidade e estudo individual, Oslo 1965;
- Ensaios e epístolas, Oslo 1967;
- Alegria brutas e outros temas de uma vida vivida ao ar livre, 1969;
- Alegrias durasse outros temas de uma vida vivida sob céu aberto, Oslo 1969;
- Pentecostes: quatro diálogos com Jorgen, Oslo 1972;
- O reino secreto: uma pequena biografia de Jesus, 1985;
- Como me torneio tão esperto e outros textos, Oslo 1986;
- Doutor Wangel: uma comédia séria em cinco atos, Oslo 1994;

A maior parte das obras de Peter Wessel Zapffe ainda não têm tradução para outras línguas. Apenas O Último Messias e Sobre o Trágico estão disponíveis em inglês.
Em português O Último Messias está disponível no blog Blog: “A frescura da relva” <https://afrescuradarelva.wordpress.com/2014/03/27/o-ultimo-messias/>

  
Citações de Peter Wessel Zappfe

O homem é um animal trágico. Não porque seja pequeno, mas porque é por demais dotado. O homem tem aspirações e necessidades espirituais que a realidade não pode atender. Temos expectativas de um mundo justo e moral. O homem exige sentido em um mundo sem sentido.

Nós viemos de um nada inconcebível. Ficamos algum tempo em algo que igualmente parece inconcebível, somente para desaparecer novamente no inconcebível nada.”

Se encararmos a vida e a morte como processos naturais, o pavor metafísico desaparece e se obtêm a paz de espírito.”

A semente de uma derrota metafísica ou religiosa está em todos nós. Para o questionador honesto, no entanto, que não procura refúgio em alguma fé ou fantasia, nunca haverá uma resposta.” (Documentários “Ser um ser humano”)

Os fatos imediatos são aquilo com o qual nos relacionamos. Escuridão e luz, começo e fim.” (Documentário “Ser um ser humano”)

A morte é uma terrível provocação. Aparece em todo o lugar, representando uma dura mas real escola para valores e padrões éticos”. (Documentário “Ser um ser humano”)

Eu mesmo não me aflijo mais com o pensamento da minha própria morte. A entidade “Peter Wessel Zapffe”, não existia antes de 1899 (ano do nascimento do filósofo). Ela foi poupada de participar diretamente nos horrores dos anos anteriores, e não vai participar daquilo que aguarda a humanidade ao fim de sua vertiginosa loucura”. (Documentário “Ser um ser humano”)

Uma moeda é examinada e, somente após cuidadosa deliberação, é dada a um mendigo, enquanto uma criança é lançada na brutalidade cósmica sem hesitação.” (Ensaios e epístolas)

Ter filhos neste mundo é como carregar madeira para uma casa em chamas.”

O homem é o ser trágico final, porque ele aprendeu o suficiente sobre a Terra para perceber que esta seria melhor sem a presença da humanidade.”

Cada nova geração pergunta: ‘Qual o significado da vida?’ Um maneira mais útil de fazer a pergunta seria: ‘Por que o homem precisa de um sentido para a vida?’”

A vida dos mundos é um rio que ruge, mas a da Terra é um lago e uma represa.”

O sinal de desgraça está escrito em suas sobrancelhas – por quanto tempo você vai lutar contra o que é evidente?

Mas há uma conquista e uma coroa, uma redenção e uma solução.”

Conheçam-se, sejam inférteis e deixem a terra calar-se depois de vós.” (O Último Messias)

A barbárie moderna de ‘salvar’ o suicida é baseada em uma compreensão errônea da natureza e da existência.” (Ensaios e epístolas)

Ele é o cativo desamparado do universo, mantido em possibilidades sem nome.”

Nenhum triunfo ou metamorfose no futuro pode justificar a lamentação de um ser humano contra sua vontade.”

O esforço não é meramente marcado por um ‘esforço em direção a’, mas igualmente por uma ‘fuga de’”.

Uma noite em tempos passados, o homem acordou e se viu. Ele viu que estava nu sob o cosmos, sem-teto em seu próprio corpo. Todas as maravilhas se dissolveram antes que pensasse; maravilha acima de maravilha, horror acima de horror se desenrolava em sua mente. Então a mulher também acordou e disse que era hora de matar. E ele pegou o seu arco e flecha, fruto do casamento de espírito e mão, e saiu sob as estrelas. Mas quando as bestas chegaram aos poços de água, onde ele esperava que fossem de hábito, ele não sentiu mais o tigre preso em seu sangue, mas um grande salmo sobre a irmandade do sofrimento entre todos os seres vivos. Naquele dia ele não voltou com presas e, quando encontraram na próxima lua nova, ele estava morto ao lado do poço de água.” (O Último Messias)

A história cultural, assim como a observação de nós mesmos e dos outros, permite a seguinte resposta: a maioria das pessoas aprende a se salvar limitando artificialmente o conteúdo da consciência.” (O Último Messias).

Ele (o homem) chega à natureza como um convidado não convidado. Na futilidade, ele estende os braços e implora para se reunir com o que o criou: a natureza não responde, fez um milagre com o homem, mas desde então não o reconhece mais. Ele perdeu seu legítimo lar no universo, ele provou da árvore do conhecimento e foi exilado do paraíso.” (A natureza indomada)

A tragédia de uma espécie que se torna imprópria à vida devido ao desenvolvimento excessivo de uma habilidade não é uma exclusividade da humanidade. Pensa-se, por exemplo, que em épocas paleontológicas certos alces sucumbiram ao desenvolver chifres demasiado pesados. As mutações são cegas e operam e manifestam-se sem qualquer interesse pelo ambiente. Nos estados depressivos, a mente pode ser vista à imagem de tais chifres, os quais, em todo o seu fantástico esplendor, imobilizam o seu portador ao chão.” (O último Messias)





Referências

O último Messias
                 
The view from Mount Zapffe. Gisle Tangenes, in Philosophy Now

Open Air Philosophy. Peter Wessel Zapffe, The last Messiah

Zapffe: antinatalism and existential crisis

Werner Peter Zapffe, Wikiquote

Blog “A frescura da relva”, O último Messias
  
On the genealogy of morality. The birth of pessimismo in Zapffe´s “On the tragic” by Silviya Serafimova - Institute for the Study of Societies and Knowledge, BAS

A-Z Quotes

www. academia.edu, Roe Fremstedal, Meaning of Life: Peter Wessel Zapffe on the Human Condition

Pascal, Blaise. Pensamentos. Abril S. A. Cultural e Industrial. São Paulo: 1973, 280 p.

Zappfe in translation

Arne Naess, The shallow and the deep long-range ecology movement
                                                                                        
Herman Tonnessen


(Imagens: fotografias de Peter Werner Zapffe)

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