“Cerca
de um século depois, Sigmund Freud refletiu profundamente a respeito do efeito
da temporalidade final, ou ‘transitoriedade’, como ele a chamava, sobre os
indivíduos e a cultura ocidental como um todo. Depois de dar um passeio com um
jovem poeta em um dia maravilhoso, quando a natureza exibia todo o seu
esplendor, Freud ficou intrigado porque seu companheiro de passeio ficara ‘perturbado
com a ideia de que toda beleza estava fadada à extinção’. Aquilo que o poeta
teria ‘amado e admirado parecia ter perdido o valor por conta da transitoriedade
a que tudo estava fadado’. Sempre analista, Freud percebeu que a sombra
onipresente da Queda e do não ser que envolve toda a beleza na Terra pode suscitar
dois tipos diferentes de impulsos na mente humana. Um leva a um ‘penoso
desalento’ – a uma reação do jovem poeta. O outro, asseverou ele, ‘leva a uma
rebelião contra o fato constatado’, ao pensamento de que ‘de uma forma ou de
outra, todo esse encanto deve ser capaz de persistir e escapar a todos os
poderes da destruição’. A própria reação de Freud a essa constatação foi tão
clínica quanto filosófica: ‘Essa exigência de imortalidade’, propôs ele, era
apenas uma simples projeção de nossos desejos mais profundos, uma tentativa
desesperada da mente humana alterar a realidade.” (Eire, pág. 227-228)
Carlos
Eire, Uma breve história da eternidade
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