“De uma maneira ou de outra, somos forçados a tratar com complexos, com “totalidades” ou “sistemas” em todos os campos do conhecimento. Isto implica uma fundamental reorientação do pensamento científico.” Ludwig von Bertalanffy, Teoria Geral dos Sistemas
Não sei aonde, li que existem mais de 30 definições de sustentabilidade. Pesquisando e falando com as pessoas, notei que as opiniões sobre o tema estão mais ou menos divididas por grupos, todos com diferentes matizes ideológicos. O diretor da empresa multinacional tem lá a sua própria idéia do que seja a sustentabilidade. Esta, no entanto, é diferente da visão do ambientalista gestor de projetos ambientais, financiados por grandes instituições internacionais. Também diversa é a posição do pequeno empresário, às voltas com a concorrência dos produtos importados e a alta carga tarifária. Outra percepção ainda é a do prefeito da cidade do interior, empenhado em atrair investimentos para seu pequeno município, a fim de gerar empregos.
Nenhum dos profissionais citados acima discordará que sustentabilidade é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, conforme define o Relatório Brundtland, publicado pela ONU em 1987. Todavia, a seu modo cada um julgará mais importante este ou aquele aspecto, necessário para alcançar aquilo que entende como sendo o desenvolvimento sustentado. Todos provavelmente concordarão com o modelo mental dominante do que vem a ser a sustentabilidade: a triple bottom line; algo como “tripla base”, representando a atenção aos aspectos econômicos, ambientais e sociais nas atividades econômicas. Como consequência desta linha de pensamento temos que se todos cuidarem destes três fatores – os aspectos econômicos, ambientais e sociais – em suas empresas, ONGs, governos, etc., as sociedades se tornariam sustentáveis; o todo seria só a soma das partes. O raciocínio, porém, é simplista e esquece uma infinidade de interações que existem na sociedade e que estão fora da jurisdição da ONG, da empresa ou do governo. A consequência deste visão, se fosse possível, é de um mundo formado por enclaves sustentáveis – empresas, projetos de atuação de ONGs e as administrações públicas, entre outros – cercados por um meio social, ambiental e econômico desordenado. A questão que se coloca é como a empresa, a ONG, a administração pública ou qualquer outra entidade podem ter certeza de que tudo que está sob sua influência e controle é sustentável. Ao que parece, em relação à sustentabilidade, acabamos nos iludindo com palavras. O próprio enunciado que se tornou clássico “...desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes...” é inconsistente e sujeito a interpretações díspares. Quais “necessidades presentes” devem ser consideradas? Aquelas da família americana e européia ou da africana, chinesa e indiana? Daqueles que dispõem de acesso a todos os benefícios de uma sociedade afluente ou dos que passam necessidades?
No entanto, admitamos que seria possível caminhar para um tipo de associação humana onde estas contradições fossem resolvidas e todos tivessem o suficiente para viver e se desenvolver, de acordo com suas capacidades. Esta sociedade teria que garantir educação, saúde, alimentação e moradia para todos os seus membros, seja através do apoio do Estado ou das forças do mercado – só assim seriam asseguradas as mesmas chances de crescimento a todos. A partir desta base, a pergunta seguinte é se haveriam recursos suficientes na Terra – alimentos, água, terra, minérios, energia – para que toda humanidade pudesse manter este elevado padrão de vida. Se isto fosse possível, qual seria a duração desta sociedade, antes que os recursos começassem a minguar e surgissem os primeiros conflitos? Como seria possível existir uma sociedade que, utilizando indefinidamente os recursos naturais, não comprometesse “a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”?
Ainda não temos resposta para estas perguntas. Alguns autores, assim como eu, não vendo luz no fim do túnel, dizem que é bastante provável que o conceito de sustentabilidade mudará ao longo do tempo. Mas isto é o mesmo que dizer que não temos respostas.
(imagens: Paul Gauguin)
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