Veículos, transporte e poluição

quinta-feira, 6 de outubro de 2011
"O caminhar do mundo prossegue sem interrupção. Um caminhar imprevisível dos fortes e dos oprimidos; dos maus e dos inocentes que eles submetem, rumo ao túmulo coletivo da eternidade."  -  Léon Bloy  -  O grito das profundezas

Um dos maiores problemas das metrópoles é o transporte público. A reduzida disponibilidade de meios de deslocamento oferecidos pelo estado, faz com que grande parte da população urbana utilize o transporte individual; o carro próprio. Além de representar um custo adicional para o cidadão, o veículo particular provoca uma série de impactos ao ambiente urbano, dos quais o principal é a poluição atmosférica.
No mundo todo existem mais de um bilhão de veículos automotores. No Brasil rodam cerca de 35 milhões de veículos, entre carros de passeio, utilitários, ônibus e caminhões. Os três estados com as maiores frotas de veículos são: São Paulo (20,5 milhões); Minas Gerais (7 milhões) e Paraná (5,2 milhões). São Paulo (7,2 milhões); Rio de Janeiro (2,3 milhões); Belo Horizonte (1,5 milhões) e Curitiba (1,4 milhões) são as cidades brasileiras que concentram o maior numero de veículos.
A melhora da situação econômica do país e a pouca oferta de transporte público, aliados ao fato de que no Brasil o automóvel ainda é sinal de prestígio social, fez com que a frota brasileira aumentasse em 16 milhões de veículos – cerca de 120% - entre 2000 e 2010. Esta uma das razões pelas quais a indústria brasileira de veículos já é a quinta do mundo em produção, atrás da China, Japão, Alemanha e Coréia do Sul. Veículos queimam combustíveis; gasolina, álcool ou diesel, gerando emissões de diversos tipos de gases, principalmente dióxido de carbono (CO²). Estes gases quando concentrados na atmosfera de grandes cidades, podem provocar diversos tipos de doenças respiratórias, cardíacas e nervosas. Para neutralizar as 171,1 milhões de toneladas emitidas por todos os veículos que rodam no Brasil, segundo a versão online da Revista Auto Esporte, seria necessária uma floresta com 11 vezes a área atual da Mata Atlântica; uma área de 945 mil quilômetros quadrados; o equivalente à soma das áreas dos estados de Minas Gerais e Maranhão. Outro aspecto da poluição atmosférica causada pela concentração de veículos em regiões metropolitanas é a presença do enxofre, emitido principalmente na queima do óleo diesel (a queima da gasolina também libera enxofre, mas em quantidades menores). O enxofre em contato com a umidade forma o ácido sulfúrico, substância que corrói metais e concreto, além de provocar o fenômeno da chuva ácida, que pode dizimar grandes extensões de áreas verdes.
Enquanto que o percentual máximo de enxofre permitido no diesel no Japão é de 10 ppm (partícula por milhão), na União Européia é de 50 ppm e nos Estados Unidos é de 15 ppm. No Brasil, desde primeiro de janeiro de 2011, vende-se óleo diesel com teor de enxofre de 50 ppm nas regiões metropolitanas e de 500 ppm no interior. Com grande atraso, por culpa da Agência Nacional de Petróleo (ANP), da Petrobrás e dos fabricantes de veículos a diesel, finalmente o Brasil está alcançando teores de enxofre no diesel que outros países já têm há muitos anos.
A qualidade de vida nas grandes cidades depende da interferência do poder público, fornecendo serviços de qualidade e criando melhores condições ambientais. Se temos poucos recursos para investir, o que é mais importante para nossas metrópoles: uma infraestrutura de transportes públicos aliada a medidas de diminuição das emissões veiculares, ou a construção de estádios de futebol? Quem no final vai pagar a conta e tirar proveito destas obras? 
(imagens: Albert Marquet)

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