Começou o verão, chegaram as chuvas e com elas as enchentes, os desabamentos, as perdas materiais e de vidas humanas. Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro são até o momento os estados mais afetados com as inundações. Na região serrana do Rio de Janeiro a situação é de alerta, já que maioria das casas destruídas durante a catástrofe ocorrida em início de 2011 ainda não foi reconstruída. Faltaram verbas federais e estaduais e os poucos recursos alocados foram, aparentemente, malversados. O Ministério Público deu início a uma investigação já em abril do ano passado, mas o caso foi esquecido e até o momento ninguém foi responsabilizado.
Repetem-se os acontecimentos que sempre ocorrem nesta época, durante os últimos anos: rodovias submersas, cidades isoladas e inundadas, milhares de desabrigados, além de outros problemas que surgem em tais situações. O governo federal e os governos estaduais empurraram novamente o problema com a barriga e não investiram em medidas preventivas, enquanto especialistas já haviam anunciado que ocorreriam novas catástrofes e, provavelmente, mais mortes. Uma das poucas exceções neste quadro é a cidade de Belo Horizonte, que apesar de castigada pelas chuvas conseguiu reduzir os acidentes, depois de implementar um programa de gerenciamento das áreas de risco ao longo dos últimos anos. Prova de que a vontade política (leia-se respeito ao cidadão) aliada a um planejamento pode trazer bons resultados – mesmo sem polpudas verbas para gastar.
Fato mais lamentável ainda em todo este contexto é a atitude do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho. Segundo um levantamento realizado pela organização “Contas Abertas”, 90% das verbas federais destinadas à prevenção de acidentes naturais em 2011 foram encaminhadas a um só estado; significativamente o estado de Pernambuco, onde Bezerra tem interesses políticos, pretendendo o cargo de prefeito da cidade de Recife. Aliás, Bezerra pertence ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), aquela mesma agremiação política que nos brinda com sua propaganda eleitoral, dizendo que é o partido cujos políticos não estão envolvidos em escândalos. Já em 2012, Pernambuco receberá – graças a seu filho ilustre – um volume de 81,4 milhões de reais. Comparativamente, o estado do Rio de Janeiro, palco das desgraças ocorridas no ano passado, será contemplado com apenas 73 milhões de reais.
O Ministério da Integração Nacional parece ter uma visão bastante particular sobre como aplicar verbas para áreas de risco, já que dos 251 municípios brasileiros com perigo de inundações e deslizamentos apenas 23 receberam verbas do programa “Prevenção e Preparação para Desastres”. Perguntado sobre a distribuição dos recursos, o ministro disse que na análise dos projetos pesaram os critérios técnicos. “Houve, por parte de todos os técnicos, análise para que pudéssemos selecionar os projetos. O dinheiro é muito pequeno. Temos que selecionar os melhores projetos”, completou o ministro.
Fica aqui a sugestão de se realizar uma enquete sobre o que acham a respeito da distribuição das verbas do ministério os 168.365 cidadãos brasileiros, que segundo o site “Contas Abertas” estão morando em áreas de “alto risco” e “muito alto risco”. Parece que os técnicos de Brasília vêem a desgraça das vítimas de uma maneira diferente.
(Imagens: Clyfford Still)
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