Índia e Brasil: como interesses econômicos prejudicam parte da população

domingo, 8 de janeiro de 2012


"A maioria dos filósofos da felicidade explorará a via individual, a única que depende de cada um, pois a via coletiva está na mão dos políticos, que rarmente são filósofos. Por esse motivo, os pensadores que vislumbram as condições sociais da felicidade fazem-no sob a forma sonhada da utopia."  -  Georges Minois  -  A idade de ouro -  História da busca da felicidade

A Índia e o Brasil têm muitos aspectos em comum. Fazendo parte dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ambos os países estão em fase de crescimento econômico, melhorando o nível de vida de milhões de pessoas. Aumento do consumo, da produção e dos impactos ambientais destas atividades, são fatos que ocorrem nos dois países.
Em recente artigo publicado na revista "Development and Cooperation" (http://www.dandc.eu/index.en.shtml), a ambientalista indiana Sunita Narain, diretora geral do Center for Science and Environment, uma ONG baseada em Delhi, e da revista "Down to Earth" (www.downtoearth.org.in), chamou a atenção para aspectos do crescimento econômico daquele país, que estão afetando as populações mais pobres. Sunita aponta, por exemplo, o embate entre policiais e agricultores de Noida, localidade nos subúrbios de Delhi, onde terras serão desapropriadas para a construção de uma grande autoestrada. O valor que a municipalidade quer pagar pelas terras é baixo e os camponeses arrendatários não recebem nada, perdendo qualquer meio de subsistência. No estado indiano de Andhra Pradesh, no ano passado, a polícia reprimiu uma manifestação de dez mil pessoas, matando duas. A população protestava contra a construção de uma termelétrica, que comprometeria grande parte dos recursos hídricos da região.
Escreve a ambientalista que praticamente todos os projetos de infraestrutura estão sob ataque das comunidades, que temem perder seus meios de sobrevivência. Estas comunidades são a vanguarda do movimento ambientalista indiano; os seus mais determinados ativistas. "Eles sabem que são pobres e estão dizendo tão alto e claro quanto podem, de que aquilo que outros chamam de desenvolvimento somente os fará mais pobres", escreve Sunita. "É isto o que eu chamo de ambientalismo dos pobres. A verdade é que projetos de desenvolvimento estão usando recursos locais - minerais, água e terra. Mas eles não geram empregos para compensar as perdas sofridas pelas pessoas que foram desalojadas. O progresso mal planejado está destruindo mais meios de subsistência do que criando novos", argumenta a ambientalista. Em outro trecho de seu artigo, a ativista chama a atenção para o fato de que "o desafio é prover ganhos com o desenvolvimento para um grande numero de pessoas. Isto requer que inventemos um crescimento que tanto seja acessível quanto sustentável". 
O tipo de desenvolvimento que ocorre na Índia e no Brasil é bastante semelhante. Apesar de o crescimento econômico permitir a ascensão de milhões de pessoas a um padrão de consumo melhor, ocorre, no entanto, à custa da destruição do modo de vida de populações desprotegidas e dos recursos naturais. O caso da construção das barragens do Rio Madeira e do Rio Xingu (Belo Monte) - e seus inúmeros impactos sociais, ignorados pelo governo e interessados nos empreendimentos - são casos comparáveis aos que ocorrem na Índia. Em todos os países em desenvolvimento há uma longa lista de obras de infraestrutura e de grandes empreendimentos privados, que estão sendo realizados com grande impacto ambiental e social. A quem beneficiam mais estes grandes empreendimentos? "O único guia para a mudança é democracia e mais democracia”, diz a combativa Sunita Narain. Mas, convêm lembrar, de que democracia não é simplesmente a vontade da maioria; esta muitas vezes iludida por propaganda tendenciosa ou mal informada pela falta de notícias.
(imagens: Alberto Burri)

1 comments:

INTERCEPTOR disse...

Se há algo de comum no desenvolvimento indiano e brasileiro em detrimento às questões socioambientais e consequências nefastas se repetem em realidades tão distintas (histórica, cultural e geograficamente) me pergunto se o fator causador não seja outro que não o empreendimento em si... A UHE Belo Monte, p.ex., levou em consideração a prevenção de maiores impactos ambientais, bem como o ciclo de cheias e vazantes hídrico (por isso a crítica ingênua dos 'globais' ao seu curto período de geração de energia). Na Índia, a 2ª maior população do mundo, com uma elevada densidade demográfica deve ser dificílimo não afetar comunidades locais em grandes projetos de engenharia, mas no Brasil, no vazio demográfico da Amazônia Legal? Não será este o motivo de formação militante de grupos como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e Movimento por Redução de Impactos (MIR)? O que falta a seu desenvolvimento são indenizações ou incorporações produtivas? Se merecem indenizações, me pergunto se são todos ou há "caronas" nesta história que aparecem da noite para o dia para "engrossar o movimento"?

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