"Em contraste com a ênfase existencial na angústia e na tomada de controle sobre nossas vidas, Hegel falou sobre "destino" e "fado" e mostrou a futilidade da tomada de decisão individual em face das forças assoberbantes do "Espírito do Tempo" (Zeitgeist)." - Robert C. Solomon - Espiritualidade para céticos
A vida do trabalhador mudou bastante nos últimos 150 anos. De duras jornadas de trabalho de 14 a 16 horas diárias, o tempo de trabalho foi reduzido até chegar às 40 horas semanais ou menos, dependendo do país. Em algumas nações da Europa, a jornada semanal de trabalho chega a ser de somente 35 horas. Supostamente, estes trabalhadores, altamente capacitados e utilizando-se do que existe de mais moderno em tecnologias de automação – robôs, computadores – tem uma produtividade muito maior do que seus colegas dos países em desenvolvimento e pobres, os quais ainda chegam a trabalhar 48 horas semanais ou mais.
No entanto, é fato que o sistema de produção capitalista ficou muito mais eficiente, se comparamos as atuais fábricas automatizadas com as aquelas ainda movidas a vapor, de meados do século XIX. Neste período, a vida dos trabalhadores fabris era muito ruim. O sociólogo Domenico De Masi escreve que um estudo realizado no início do século XIX por um cientista francês, dava conta que “naqueles tempos os escravos das Antilhas trabalhavam nove horas por dia, os condenados ao trabalho forçado nas instituições penais, dez, e os operários de algumas indústrias de manufatura trabalhavam dezesseis horas por dia”.
Graças à organização dos trabalhadores em sindicatos e à ação de partidos políticos, ao longo do século XIX e XX, as condições de trabalho melhoraram e a carga horária foi diminuída. O processo avançou tanto que na década de 1960, em pleno crescimento do pós-guerra e antes das crises do petróleo e financeiras, se falava muito no tempo de lazer que sobraria ao trabalhador. O que este poderia fazer com o seu de folga, que seria cada vez maior com o aumento da produtividade? Não eram poucos os futurólogos que previam uma sociedade do lazer, na qual os homens trabalhariam pouco e dedicariam seu tempo ocioso a atividades intelectuais e artísticas. Em relação a isto escreveu o filósofo Bertrand Russel no início do século XX: “Num mundo em que ninguém tenha que trabalhar mais do que quatro horas diárias, todas as pessoas poderão saciar a curiosidade científica que carregam dentro de si e todo pintor poderá pintar seus quadros, sem passar por privações, independente da qualidade de sua arte.” Em outro trecho o pensador completa: “Acima de tudo haverá felicidade e alegria de viver, em vez de nervos em frangalhos, fadiga e má digestão. O trabalho exigido será suficiente para tornar agradável o lazer, mas não levará ninguém à exaustão.”
As previsões otimistas dos filósofos e futurólogos não se concretizaram. O que ocorreu nos últimos 40 anos pode ser resumido em alguns pontos: 1) Ocorreu um grande aumento da automatização da produção, do aumento de produtividade, mas milhões de trabalhadores foram colocados na rua; 2) Tanto a indústria quanto o comércio passaram a exigir profissionais cada vez mais preparados, sem, no entanto, aumentar comparativamente os salários, ao contrário; 3) O aumento do tempo de lazer foi uma falácia; quem está empregado trabalha cada vez mais e os desempregados passam seu tempo procurando emprego ou em trabalhos esporádicos.
Em um mundo que gera cada vez menos empregos e quando os gera são geralmente mais mal-pagos, quem consumirá o que o que se produz, já que como está estruturado o sistema só sobreviverá produzindo cada vez mais?
(Imagens: fotografias de Peter Keetman)
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