"O povo é em todos os tempos a mesma criança travessa, a quem se engambela com um doce ou um boneco." - José de Alencar - Alfarrábios Vol. XIII
Nos últimos 30 anos o País perdeu
mais de 45 mil quilômetros quadrados em áreas naturais protegidas, localizadas
em unidades de conservação (UC). Esta área é o equivalente ao território do
estado do Rio de Janeiro e mais do que a extensão territorial da Holanda (41,5 mil
Km²). O estudo foi realizado pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e
relaciona todos os casos de redução, declassificação e reclassificação (RDR) de
unidades de conservação em todo o País, a partir de 1981. Segundo reportagem
publicada no jornal O Estado de São Paulo, a “redução” de uma unidade de
conservação (UC) ocorre quando esta tem sua área reduzida; “declassificação”
quando a UC deixa de existir; e “reclassificação” ao se alterar a categoria de
proteção de uma UC, seja para critérios mais restritivos ou mais flexíveis.
Segundo dados do estudo elaborado
pela UFPE, foi principalmente a partir de 2004 que os casos de RDR aumentaram
principalmente na região Norte, por conta de obras de infraestrutura de
eletricidade na Amazônia. A região, que tem aproximadamente 40% de sua área
ocupada por unidades de conservação e terras indígenas, deverá sofrer um
impacto cada vez maior de ações de RDR. Isto porque, seu território é bastante
extenso (5,2 milhões de Km² e cerca de 60% do território nacional) e possui uma
grande concentração de áreas sob proteção – além de abrigar uma grande
quantidade de rios que a médio e longo prazo serão represados, visando geração
de energia elétrica. Além disso, novas extensões de terra na Amazônia também
são cobiçadas pelo setor imobiliário, pelo agronegócio e, eventualmente, pelo
setor de mineração. Segundo dados da WWF, visando viabilizar empreendimentos
hidrelétricos, foram excluídos mais de 90 mil hectares das UC, ou seja,
passaram de área protegida para área de empreendimento.
Enquanto o Brasil encontra
dificuldades para gerenciar suas unidades de conservação, outros países como a
Costa Rica apostam na conservação e na ampliação das áreas sob proteção. Neste
pequeno país da América Central, com pouco mais de 51 mil Km², a extensão
coberta por vegetação natural pulou de 29% para 52%, entre 1985 e 2012. Neste
período, com o objetivo de compensar as emissões geradas por suas atividades
econômicas, o governo da Costa Rica investiu pesado em parques naturais,
remuneração de produtores rurais para manterem a vegetação natural em suas
propriedades e na recuperação de áreas desmatadas. Desde 1996, quando o governo
costarriquenho criou a política de remuneração dos produtores rurais –
principalmente pecuaristas que possuem a maior parte das terras do país – já
foram investidos 400 milhões de dólares. Partes destes recursos provêem de um
imposto sobre a gasolina e a outra parte de recursos do Banco Mundial.
A iniciativa trouxe grandes
benefícios à Costa Rica, tanto na conservação de seus recursos naturais, quanto
na geração de receitas com o turismo. O Brasil, com seu grande potencial
turístico, poderia seguir o exemplo deste país. Uma melhor utilização turístico-ecológica
de inúmeras UCs na área da Mata Atlântica, por exemplo, poderia gerar receita
para futuros investimentos, além de contribuir para colocar mais turistas em
contato com as riquezas naturais de que ainda dispomos. Mais informações sobre
UC no Brasil em http://www.icmbio.gov.br/portal/.
(Imagens: fotografias de Anthony Luke)
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