"Um povo que concebe a vida exclusivamente como busca da felicidade só pode ser cronicamente infeliz" - Marshall Sahlins - Esperando Foucault, ainda
Foram
várias as transformações econômicas, sociais, tecnológicas, culturais e
políticas pelas quais vem passando a sociedade industrial ao longo das últimas
décadas do século XX e início do século XXI. Um dos principais fatores de
mudança – segundo pensadores cujas idéias serão descritas adiante – é a
importância assumida pela informação e seu fluxo. Este talvez seja o aspecto
que melhor poderia resumir a sociedade pós-industrial ou pós-moderna.
A
primeira grande característica deste grande quadro de mudanças foi o
desaparecimento da União Soviética e do mundo socialista, resultando na
incorporação de mais países à economia de mercado. Tais fatos, aliados ao uso
disseminado das novas tecnologias de informação, formaram a base do que depois
se convencionou chamar de "sociedade pós-industrial", "sociedade
do conhecimento", "sociedade em rede", "sociedade
pós-moderna", entre outras denominações. O sociólogo americano, Francis
Fukuyama (1952) em seu livro "O fim
da história e o último homem" (1991) à época falava no “fim da história” – clara alusão ao fim do
embate capitalismo versus socialismo, com a (aparente) vitória do sistema de
livre mercado.
Na
área da produção, por exemplo, deixa de vigorar o modelo taylorista-fordista;
baseado na divisão de tarefas nos diversos níveis hierárquicos e na clara
divisão entre planejamento e execução. Esta forma de organização fabril foi
criada por F. W. Taylor (1856-1915) no início do século XX, nos Estados Unidos.
Entre a Primeira e Segunda Guerra Mundial o conceito da linha de montagem foi
adotado por parte das indústrias produtoras de bens de consumo e equipamentos –
até porque o esforço de guerra exigia rápida reposição de produtos e
equipamentos. A partir da década de 1950 a linha de produção teve grande expansão,
sendo implantada tanto nas fábricas dos países fortemente industrializados,
quanto nas nações que davam início a sua industrialização, como o Brasil. A
partir da década de 1960 são incorporados mais desenvolvimentos tecnológicos,
os quais a partir dos anos 1980 delinearão um novo tipo de indústria, baseada
no paradigma informacional. Para este avanço contribuíram o desenvolvimento da
tecnologia eletrônica, com a invenção do transistor e do circuito eletrônico miniaturizado
(anos 1950) e do circuito lógico programável (anos 1980). As aplicações destes
inventos às diversas atividades – telecomunicações, automação, mobilidade,
segurança – foram variadas e levaram a um aumento da capacidade de produção e
distribuição. Estas mesmas inovações possibilitaram o desenvolvimento de
computadores, da automação industrial e bancária e da rede mundial de
computadores e das redes sociais (com a internet versão 2.0). No entanto, com
unidades de produção e comercialização automatizadas, diminuía a necessidade de
mão de obra. A economia demandava um novo tipo de profissional; dotado de mais
conhecimentos, flexível, capaz de trabalhar em equipe e tomar decisões. No
mundo da administração o final dos anos 1980 e início dos 1990 é caracterizado
pelas políticas do downsizing, da
reengenharia e da normatização; que fizeram com que milhões de trabalhadores do
sistema fordista-taylorista perdessem seus empregos.
Este,
o quadro geral introdutório. Para efetuar a análise dos fatos que descrevemos
nas linhas acima, fazemos referência à visão de três sociólogos, cuja
interpretação da sociedade pós-capitalista resumiremos e comentaremos abaixo.
Adam
Schaff (1913-2006), influente filósofo e sociólogo marxista polonês, foi membro
do Partido Comunista Polonês e do Comitê Executivo do Clube de Roma. Em sua
obra “A sociedade informática” (1985)
o filósofo faz análises bastante acertadas, sobre como se desenvolveria a
sociedade industrial poucos anos depois, apontando a rápida difusão da
tecnologia da informática e, consequentemente, a diminuição dos postos de
trabalho. Em outro trecho de seu livro, Schaff aponta as mais importantes áreas
da revolução técnico-científica então em andamento: a microbiologia e a
engenharia genética; a revolução técnico-industrial e a revolução energética.
Efetivamente, foram estas tecnologias – amparadas pelo grande desenvolvimento
da atividade agrícola (revolução verde, OGM), da medicina, da informática e da
difusão das energias renováveis – que rapidamente se desenvolveram ao longo dos
últimos 20 anos.
Outro
autor a ser citado é o futurista e escritor Alvin Toffler (1928). Em seu livro
“Powershift” (1990) Toffler anuncia o
surgimento de uma nova economia baseada no conhecimento, na qual a produção de
riquezas é totalmente dependente da comunicação instantânea e disseminação de
dados e idéias. Assim como Schaff, Toffler (escrevendo em 1990, depois da Queda
do Muro de Berlim) também aponta dois fatores influentes na economia: a
automatização aliada à procura por trabalhadores treinados, com capacidades
diversificadas. Convencido da importância do conhecimento e de sua comunicação,
Toffler também alerta para o perigo da formação de elites com acesso quase
exclusivo à informação e conhecimentos, provocando a divisão da sociedade em
“inforricos” e “infopobres”.
Outro
pensador de relevância na análise deste período é o sociólogo espanhol Manuel
Castells (1942), autor de importante obra em três volumes "A sociedade em rede”. Em sua análise do
novo quadro da sociedade industrial Castells apresenta quatro aspectos
principais: 1) A importância da tecnologia da informação; 2) A substituição do
conceito de "modo de produção" por "modo de
desenvolvimento"; 3) A compreensão da importância do Estado como indutor
do processo de desenvolvimento; e 4) A visão da sociedade informacional como
uma sociedade em rede (conexões de todos os tipos). Neste contexto, a exemplo
de Toffler, Castells considera a informação e sua comunicação como suportes do
novo sistema de riqueza e poder, apontando cinco principais aspectos deste
paradigma: a) A informação é a matéria prima principal, fazendo com que; b) As
novas tecnologias se façam presentes em todas as atividades humanas; c)
Organizadas na forma de redes; d) Provocando a flexibilidade na organização e
reorganização de processos e organizações; e implicando na e) Crescente
integração entre biologia e microeletrônica. Castells, talvez porque escreva em
uma fase mais avançada da mudança social que ora analisamos, consegue
apresentar uma visão mais ampla da sociedade pós-industrial, incorporando em
sua análise todas as características apontadas por vários outros autores.
Um
fator de grande influência no desenvolvimento da sociedade pós-industrial é o
tema do meio ambiente. A questão ambiental afetará tanto aspectos econômicos
quanto sociais, tecnológicos e culturais da sociedade pós-industrial.
No
capitalismo "turbinado" da sociedade pós-industrial as novas
tecnologias (web, informática, automação, etc.) estão disponíveis para todos,
não sendo mais vantagem competitiva. Os grandes fabricantes de produtos de
consumo não ganham mais dinheiro com a valorização da qualidade de seus
produtos, como no passado. Esta atualmente está acessível a todos os
concorrentes com o uso da tecnologia. Hoje a taxa de lucro do fabricante
depende de volumes vendidos. As vendas, por sua vez, dependem de design,
propaganda, distribuição - basicamente do marketing. Para lucrar bastante, cabe
aos fabricantes e distribuidores inundar o mundo com produtos de ciclo de vida
curto, para forçar o consumidor a acelerar seu ritmo de consumo e assim aumentar
a taxa de lucro das empresas.
Se
o lucro está na quantidade, é necessário fabricar volumes cada vez maiores,
aumentando o consumo de recursos (água, eletricidade, matérias primas). No
entanto, o maior uso de insumos eleva o impacto ao meio ambiente: destroem-se
mais recursos naturais (mineração, desmatamento para agricultura, uso de água, etc.)
e geram-se mais resíduos (efluentes, poluição atmosférica, resíduos). Não
existe processo produtivo sem geração de resíduos; a produção 100% eficiente é
impossível.
Por
um lado, parece que para sobreviver na forma atual, o capitalismo baseado no
consumo de massa precisa continuar funcionando dentro da lógica que tem como
conseqüência a depleção rápida dos recursos naturais. Por outro, sabe-se que
estes são finitos e que já estão mostrando sinais de exaustão - falta de água
em diversas regiões do planeta, aquecimento global, rareamento de certos
metais, exaustão de solos para atividades agrícolas, entre outros.
A
humanidade está perante um grande impasse envolvendo a reestruturação
econômica, social, política e tecnológica; talvez o maior que já enfrentou. A
população ainda apresenta um crescimento vegetativo considerável em algumas
regiões, aumentando o numero de consumidores, pelo menos até a metade deste
século, segundo especialistas. É fato que todos precisamos sobreviver, direta
ou indiretamente dependentes de atividades produtivas. No entanto, o sistema de
produção está organizado de forma a explorar os recursos naturais,
utilizando-os em um ritmo mais rápido do que podem ser repostos pela natureza.
Novas tecnologias não representam uma solução definitiva, já que a demanda
crescente por recursos está na lógica do sistema. O que fazer?
Fontes pesquisadas:
O
microchip, pequena invenção, grande revolução. Disponível em :
<http://www.lsi.usp.br/~chip/era_da_informacao.html>.
Acesso em 22/4/2013
Adam Schaff: from semantics
to political semiotics. Disponível em:
<www.susanpetrilli.com/Papers%20cart/2._HommageAdamSchaff.pdf>.
Acesso em 21/04/2013
O
fim da história e o último homem. Disponível em:
<http://www.periodicos.udesc.br/index.php/percursos/article/viewFile/1451/1224>.
Acesso em 24/4/2013
A
sociedade em rede. Disponível em:
<http://www.abdl.org.br/filemanager/fileview/374/>.
Acesso em 24/04/2013
Executive
book report: Alvin Toffler Powershift. Disponível em:
<http://www.oss.net/dynamaster/file_archive/040321/cd603a2279fc75351f313ac4e194d5c9/OSS1992-01-08.pdf>
Acesso em 23/04/2013
Breve
histórico do desenvolvimento das atividades econômicas e da destruição
ambiental. Disponível em:
<http://ricardorose.blogspot.com.br/search/label/Meio%20Ambiente?updated-max=2010-10-14T12:53:00-07:00&max-results=20&start=85&by-date=false>.
Acesso em 22/04/2014
Sociedade em rede e modo de desenvolvimento informacional: descrições sociológicas da sociedade contemporânea sob o capitalismo avançado. Disponível em
<http://devotuporanga.edunet.sp.gov.br/OFICINA/geografia-Sociedade_Rede_paradigma.pdf>. Acesso em 10/05/2013
(Imagens: fotografias de Roman Vishniac)
Sociedade em rede e modo de desenvolvimento informacional: descrições sociológicas da sociedade contemporânea sob o capitalismo avançado. Disponível em
<http://devotuporanga.edunet.sp.gov.br/OFICINA/geografia-Sociedade_Rede_paradigma.pdf>. Acesso em 10/05/2013
(Imagens: fotografias de Roman Vishniac)
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