"Quem somos nós? Um programa "Eu" que roda entre as conexões de nossos neurônios e nos dá a ilusão de existirmos. Entre outras ilusões: a de controle (tal coisa não existe, nem para atravessar a rua: espere o sinal, olhe para os dois lados e você estará aumentando suas chances de chegar vivo ao outro lado) [...]" - Francisco Daudt - A natureza humana existe e como manda na gente
As cavernas são um grande patrimônio natural e por vezes
abrigam restos de animais extintos e de antigas ocupações humanas. A França e a
Espanha têm dezenas de cavernas famosas por conterem pinturas rupestres
realizadas por humanos pré-históricos. Representações de animais encontradas na
caverna de Chauvet, no sul da França, datam de 30 mil anos. No Brasil, em Lagoa
Santa, Minas Gerais, foram encontradas as mais antigas pinturas rupestres até
agora identificadas no país, com cerca de 10 mil anos. Nas cavernas desta
região os paleontólogos também encontraram esqueletos de animais extintos pertencentes
à megafauna do Holoceno. Neste período o Brasil era povoado por animais de grande
porte, como a preguiça gigante; o Mastodonte, espécie de elefante; e o
Gliptodonte, um tatu gigante.
Sob o aspecto ecológico as cavernas também têm grande
importância, por abrigarem uma fauna exclusiva, que só sobrevive neste
ambiente. O local é o habitat de espécies de peixes, crustáceos e insetos que
se adaptaram à escuridão e perderam a capacidade de enxergar, desenvolvendo
outros sentidos. A cada ano, expedições descobrem novas espécies dentro deste
complexo ecossistema formado pelas cavernas.
Segundo reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo,
existem no Brasil aproximadamente 10 mil cavernas conhecidas. O número não é
exato porque, segundo o jornal, dados publicados pelo Centro Nacional de
Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav) – órgão ligado ao Ministério do Meio
Ambiente e responsável pela catalogação das cavernas descobertas – também não são
corretos. Em 2012, o governo federal havia anunciado que o país ultrapassara o
número de 10 mil cavernas descobertas; exatamente 10.134 grutas. No entanto o
Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas (Canie), publicação do Cecav
lançada em setembro de 2013, dá conta de apenas 9.532 formações – 600 grutas
simplesmente “desapareceram”. Segundo o coordenador da entidade, Jocy Cruz,
estas cavernas não desapareceram; constam de outra base de dados do órgão e
ainda passam por um processo de verificação e certificação. Mas além da falta de
várias cavernas já conhecidas, os dados do cadastro apresentam erros de
localização e omissão da fonte de informações.
Falta de recursos e mão de obra impede que o trabalho
realizado pelo Cecav ocorra de maneira mais rápida e precisa. Nesta situação,
no entanto, o país corre o risco de ver parte de seu patrimônio ser destruído,
antes que venha a ser oficialmente conhecido. Elena Trajano, professora da USP
com mais de 35 anos de experiência em espeleologia, comenta que falhas no
cadastro podem trazer problemas. “Se uma caverna não existe oficialmente, como
cobrar sua proteção? Como provar que alguém a destruiu?”
Grandes empreendimentos como construção de barragens, rodovias, ferrovias e projetos de mineração, podem ter suas obras atrasadas ou canceladas caso na área do empreendimento seja encontrada uma caverna. Por isso pode ocorrer que cavernas sejam destruídas, ficando definitivamente inacessíveis aos cientistas e ao público. Se os órgãos de controle responsáveis pela identificação e validação deste tipo de formação geológica fossem mais bem preparados para desempenhar suas tarefas – de uma maneira mais precisa e rápida –, talvez o país tivesse um número maior de cavernas catalogadas e abertas à pesquisa e visitação.
Grandes empreendimentos como construção de barragens, rodovias, ferrovias e projetos de mineração, podem ter suas obras atrasadas ou canceladas caso na área do empreendimento seja encontrada uma caverna. Por isso pode ocorrer que cavernas sejam destruídas, ficando definitivamente inacessíveis aos cientistas e ao público. Se os órgãos de controle responsáveis pela identificação e validação deste tipo de formação geológica fossem mais bem preparados para desempenhar suas tarefas – de uma maneira mais precisa e rápida –, talvez o país tivesse um número maior de cavernas catalogadas e abertas à pesquisa e visitação.
(Imagens: fotografias de Grete Stern)
0 comments:
Postar um comentário