Quase todo o tempo de sua existência como espécie o homem
viveu em meio à natureza. Nossos primeiros antepassados, da espécie homo
habilis, surgiram há aproximadamente 2,5 milhões de anos na África e habitavam
um ambiente de savana. Nesta vegetação, parecida com o Cerrado brasileiro, se
desenvolveram os primeiros grupos de hominídeos, que mais tarde se espalharam
por grande parte do continente africano. Depois, ao longo de sua evolução,
nossos ancestrais saíram da África e se espalharam pela Ásia e Europa, chegando
a alcançar a Austrália e as Américas. Ao mesmo tempo em que se adaptavam aos
novos ambientes – os desertos, as florestas tropicais, terrenos montanhosos,
savanas e florestas temperadas – os hominídeos também sofreram mutações, até o surgimento
de indivíduos completamente humanos, há cerca de 160 mil anos.
O meio ambiente natural era o único conhecido pelo homem.
Até há cerca de oito mil anos nossos antepassados não praticavam a agricultura
nem a criação de animais – talvez a única exceção seja o cão, domesticado há
mais de 20 mil anos. As fontes de alimentação eram a caça, pesca e a coleta de
vegetais. Os poucos grupos humanos então existentes vagavam pela Terra, sempre
à procura de alimentos, muitas vezes habitando extensas florestas durante
várias gerações. Os grandes bosques temperados ou tropicais eram ambiente com
grande oferta de alimentos, abrigo e madeira para fazer fogo.
Quando nossos antepassados inventaram a agricultura deixaram
aos poucos de depender da floresta. Esta agora era derrubada; os pântanos
aterrados e drenados, dando lugar a extensas culturas de trigo, aveia, milho,
arroz, batata doce, dependendo das plantas disponíveis na região onde se estabeleceram
os grupos humanos. Surgiram os celeiros coletivos para guardar a colheita, os
locais de oferenda aos deuses e aos poucos apareciam as primeiras aldeias e os
diversos tipos de artesãos. Logo as sociedades se tornariam mais complexas e se
organizariam em estados. Assim estava definitivamente estabelecida a fronteira
entre a cultura humana, representada pela aldeia, e a e a natureza, formada
pela floresta e a estepe. A oposição entre o ambiente criado pelo homem e
aquele do qual era originário.
Para não depender somente da natureza, nossa espécie
inventou a agricultura, a religião, as cidades, as leis, o estado e a
tecnologia, desde aproximadamente oito mil anos passados. Estas inovações podem
ter surgido em épocas diferentes no Egito, na China, no México ou na Europa, mas
suas mais remotas origens não ultrapassam esta data. Simplificando, podemos
dizer que apenas durante 5% (oito mil anos) do tempo de sua existência (160 mil
anos) o homem vive apartado do ambiente natural de onde surgiu.
Mesmo assim, no fundo do nosso inconsciente coletivo, ainda
sentimos saudades do ambiente florestal: as árvores, a luz do sol penetrando
por entre as folhas, o vento soprando por entre os ramos, o ar úmido, o som das
aves e muitas outras sensações, dependendo da psicologia de cada pessoa e da
região originária de seus antepassados (moravam em região de floresta?). Esta
talvez seja a razão por que cientistas americanos da universidade de Winsconsin
descobriram recentemente que áreas verdes ajudam a evitar estresse, depressão e
ansiedade e pessoas vivendo em regiões de floresta são mais felizes do que as
que moram em cidades cinzentas.
(Imagens: fotografias de Enrico Natali)
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