"O senhor irá tremer diante da morte."
"Sim, mas eu não terei falhado em nada do que faz a minha missão, que é a de viver."
Albert Camus - Cadernos (1937-39) - A desmedida na medida
O uso de antibióticos na criação de animais
de abate - suínos, aves, bovinos - é prática bastante comum em todo o mundo,
principalmente em países produtores de carne, como os Estados Unidos e Brasil.
O uso do antibiótico como promotor do crescimento foi descoberto nos Estados
Unidos, no final da década de 1940. Em 1951 o FDA (Food and Drug
Administration), órgão controlador de alimentos e medicamentos do governo
americano, aprova seu uso para acelerar e aumentar a absorção de vitaminas
contidas nos alimentos, fazendo com que os animais adquiram mais peso em menor
tempo. Além disso, o uso destas substâncias melhora a saúde e a resistência dos
animais, diminuindo sua mortalidade.
Segundo fontes pesquisadas, existem no
Brasil normas bastante restritivas quanto ao uso de antibióticos como
complemento alimentar em animais monogástricos (não ruminantes), principalmente
suínos e aves. Estas diretrizes foram aprovadas pelo Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) e se referem ao uso de antibióticos destinados
a melhorar a digestão de alimentos, sem afetar as bactérias benéficas que se
encontram no trato digestivo dos animais. Normativas do MAPRA também proíbem o
uso de antibióticos de uso humano em animais monogástricos. Outra fonte
pesquisada (Revista UFG - Dossiê pecuária - Dezembro de 2012), reporta que
ainda não existem provas de que uma bactéria que adquiriu resistência ao
antibiótico no intestino de um animal, tenha transmitido esta mesma resistência
a uma bactéria localizada no intestino humano.
Fatos um pouco diferentes são apresentados
em um artigo publicado pela Bloomberg em março de 2013, sob o título "Uso
excessivo de antibióticos pode levar a uma crise da saúde pública"
(Antibiotic overuse could lead to public health crisis). Diz o texto que
aproximadamente 80% de todos os antibióticos em uso no EUA são regularmente administrados
aos animais, segundo relatório do FDA. Em 2011, segundo o documento, foram
vendidos aproximadamente 66 toneladas de antibióticos ao setor de criação de
animais; quase seis vezes o que foi destinado ao consumo humano. Segundo a
deputada americana Louise Slaughter, do partido democrata de Nova York, "Estamos
à beira de uma catástrofe de saúde pública. A ameaça de doenças resistentes aos
antibióticos é real, está crescendo e aqueles mais em risco são os idosos e as
crianças."
O relatório anual do FDA, o Sistema
Nacional de Monitoramento da Resistência Antimicrobiana (NARMS), revela que 78%
das salmonelas (gênero de bactéria causador de infecções graves) encontradas no
peru, já desenvolveram resistência contra pelo menos um tipo de antibiótico,
assim como 75% das salmonelas encontradas no frango. O problema é que para
combater a salmonela não existem centenas de tipos de antibióticos; seu numero
é bem limitado. "Por isso, na hora do tratamento, a escolha precisará ser
feita com todo o cuidado", diz Gail Hansen, especialista do governo americano
no assunto.
Portanto, o grande problema no uso intensivo
de antibióticos em animais de abate, não é o fato de que uma bactéria,
localizada no organismo humano, adquira resistência contra a substância. O
perigo é que o ser humano, ao ingerir uma bactéria prejudicial, esta já tenha
desenvolvido resistência contra os antibióticos, dificultando assim seu combate.
(Imagens: fotografias de Maurice Tabard)
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