"Se há, pois, razão para esperanças, donde há-de vir a salvação? Não do 'progresso', com certeza. Já progredimos o bastante na arte de envenenar o nosso mundo e a nossa sociedade. O progresso do conhecimento e da ciência aplicada, posto que indispensável e inspirador, não salvará a nossa cultura." - J. Huizinga - Nas sombras do amanhã
No momento em que escrevo este artigo o país ainda se
encontra sob o efeito da derrota para a Alemanha por 7 a 1. Anos de
espera, grandes expectativas e, infelizmente, tudo terminou em alguns poucos
minutos. Apesar dos elogios e das críticas a serem feitas ao técnico e aos
jogadores, o futebol é como a vida real: se ganha e se perde. As próximas
gerações de atletas brasileiros poderão recuperar aquilo que a atual não pode
ganhar. Afinal, ainda somos os únicos pentacampeões mundiais e ainda demorará
muito até que outras seleções nos alcancem.
Se no futebol sempre se pode recuperar o que foi perdido, o
mesmo não pode ser dito das obras que deveriam ter sido realizadas até um
determinado tempo e não foram. Aeroportos que não chegaram a serem terminados a
tempo, sistemas e vias de transporte urbano inacabados, obras de saneamento que
não avançaram, e a realocação de pessoas que foram removidas de suas moradias
por causa de obras da Copa. Terminado o evento, precisamos nos perguntar o que
efetivamente sobrou como benefício para a população e o que no futuro
constituirá um ônus. Exemplo disso são os estádios construídos em cidades sem
grandes platéias de torcedores. De onde virão os recursos para custear a
manutenção destas obras que custaram centenas de milhões de reais?
Quando em 2007 foi anunciado que o Brasil sediaria a Copa do
Futebol havia um clima de euforia no país. A economia estava crescendo e Lula
estava no auge. A Copa poderia ser uma vitrine de um novo Brasil, que crescia
com justiça social e proteção ao meio ambiente - já que o país sempre foi um
dos grandes interlocutores mundiais nas questões ambientais.
Em 2006 a Alemanha havia tomado uma série de
providências para reduzir o impacto ambiental da Copa de 2006. Assim, depois da
"Copa Verde" na Alemanha, falava-se em uma "Copa Verde" no
Brasil. Outro fato importante é que em 2007 o Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) publicou um novo estudo sobre o aquecimento
global e as mudanças climáticas, tornando o momento bastante propício para que
o Brasil lançasse uma agenda verde, visando a RIO+20 (2012) a Copa (2014) e as
Olimpíadas (2016).
No
entanto, a maneira como evoluíram os preparativos para RIO+20 e a Copa – e
agora parece que também para as Olimpíadas - indicam que na pratica o governo
não dispunha de uma agenda verde, pelo menos para estes importantes eventos.
Apesar do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os investimentos em
saneamento ainda são insuficientes para garantir esgoto coletado e tratado para
toda população dentro dos próximos 20 anos. A Política Nacional de Resíduos
Sólidos está atrasada em sua implantação e já se fala em sua prorrogação. O
governo reduziu os recursos para investimentos em parques nacionais e ainda não
temos uma Política Nacional de Mudanças Climáticas efetivamente
implantada.
Estes são apenas alguns pontos de uma lista de promessas já
discutidas aqui nesta coluna. Fato é que o Brasil tinha chances de se projetar
internacionalmente como um país envolvido com a questão da sustentabilidade,
utilizando-se dos grandes eventos como vitrine, a começar pela Copa. Isto, no
entanto, não aconteceu. Instalar placas fotovoltaicas, reciclar o lixo e
reutilizar a água de chuva em alguns estádios - cujo custo extrapolou o
orçamento inicial - não é lá uma grande contribuição ao meio ambiente.
(Imagens: fotografias de Bruce Davidson)
0 comments:
Postar um comentário