A crise econômica por que passa o país é, em
grande parte, resultado de falta de planejamento. Desde o período do regime
militar que o Brasil não tem mais um encadeamento dos diversos setores de sua economia,
sob a tutela de um plano abrangente. O que tem sido feito desde as
administrações Sarney, Collor-Itamar, FHC, Lula até a atual, é criar projetos
de grande alcance, sem que necessariamente haja uma articulação com outras áreas
da gestão do Estado. Temos então os diversos Planos Econômicos, o Plano Real,
os Programas de Privatizações, o PAC, Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos,
Bolsa Família, entre outros, que são geridos por diferentes ministérios e que
necessariamente não conversam entre si. Enxergam-se as árvores (cada ministério
as suas próprias), mas não a floresta.
É assim que, por exemplo, ocorre um conflito
entre o Ministério das Minas e Energia e o Ministério do Meio Ambiente, quando
do licenciamento ambiental dos projetos de barragens hidrelétricas na região
amazônica. O impacto da construção dos reservatórios tem aspectos ambientais,
sociais, econômicos e jurídicos, que envolvem o interesse de ONGs, populações
afetadas pela atividade, construtoras; além de grupos econômicos, autoridades
locais e o Poder Judiciário. A dificuldade em estabelecer um planejamento
energético de longo prazo, incluindo o detalhamento de projetos de grande
porte, tem provocado o atraso em diversas obras e contribuído para a crise por
que passa o setor.
Conflitos deste tipo existem em diversas
áreas. Outro exemplo é o do álcool combustível. Festejado durante o governo
Lula como sendo a grande alternativa em substituição à gasolina, fez com que quase
todos os veículos automotivos brasileiros passassem a ser fabricados na versão
bicombustível. Por outro lado, temendo a volta da inflação – que apesar disso
acabou retornando – o governo não aumentou o preço da gasolina, ao qual estava
atrelado o preço do álcool. Com o aumento dos custos de produção do etanol os
usineiros viram sua margem de lucro cair, até entrar no vermelho. O resultado
foi a falência de grande parte das usinas de álcool e açúcar e a instalação de
uma grave crise na indústria fornecedora de equipamentos e máquinas.
Mais um mau exemplo é o do encaminhamento de
uma política nacional de gestão de resíduos, a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS). O projeto de lei ficou em discussão no Congresso durante quase
20 anos (desde 1991). No final do segundo mandato do governo Lula o projeto foi
rapidamente aprovado, sem que houvesse recurso suficiente para que os
municípios pudessem implantar projetos de gestão dos resíduos públicos e
construir aterros, em substituição aos lixões – tudo isso num prazo de quatro
anos. Como ocorre em tais situações, os municípios não conseguiram manter o prazo, construindo aterros e implantando a coleta seletiva do lixo doméstico. O
Congresso, sob pressão dos prefeitos, tentou postergar a vigência da lei para 2018. O executivo vetou a proposta do Legislativo, devolvendo o problema ao Congresso, que deverá iniciar discussões para estabelecer uma nova data em que a
PNRS entre em vigência.
A falta de planejamento não é só uma questão que
afeta a administração pública. O setor privado, dependente de políticas
públicas para planejar seus investimentos de produção e de P&D, fica com as
mãos atadas. Com isso, a demanda interna por novas tecnologias muitas vezes é
atendida por tecnologias importadas, já que uma alternativa nacional não pode
ser desenvolvida a tempo de atender uma nova lei. Empresas que tentam desenvolver uma tecnologia para atender uma nova demanda no mercado muitas vezes vezes chegam muito cedo - a tecnologia está disponível, mas não existe lei forçando o seu uso - ou tarde - quando da noite para o dia ocorre a aprovação de uma lei, que demanda anos de preparação e adaptação por parte da sociedade.
(Imagens: fotografias de Alberto Ferreira)
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