Os manguezais no Brasil estendem-se do Amapá
até Santa Catarina, formando uma estreita faixa de largura variável, que
acompanha a planície litorânea. Este tipo de ecossistema, resistente à alta
salinidade da água e do solo, situa-se entre o mar e a floresta, sujeito às
marés e às cheias dos rios. A área ocupada por este bioma é estimada em 20 mil km²,
mas não existem números exatos sobre sua extensão. A exploração e ocupação de
extensas faixas de manguezais ao longo dos últimos cinco séculos - processo
acelerado com a industrialização e a expansão urbana nos últimos 50 anos -
fizeram com que os mangues fossem desaparecendo da paisagem em muitas regiões.
Na região Norte, onde existem os mais
extensos manguezais devido ao grande aporte de resíduos trazidos pelos rios de
planícies, encontram-se bosques com árvores cuja altura varia entre 15 a 20
metros. Em outras regiões do país, os manguezais têm vegetação mais baixa,
situando-se em locais onde correm rios perenes e em áreas baixas, protegidas
das ondas do mar. Nestas biomas forma-se um ambiente único, criadouro de
diversas espécies de peixes, crustáceos e moluscos; além de aves, répteis e
pequenos mamíferos. Devido à grande concentração de espécies animais que
sobrevivem neste ecossistema, os manguezais foram comparados aos recifes de
corais, que no oceano têm uma função ecológica parecida.
É interessante observar que parte das
primeiras cidades fundadas no Brasil à época do descobrimento situava-se perto
de regiões de mangue. Cananéia, Iguape, Itanhaém, São Vicente, Santos,
Bertioga, Rio de Janeiro, entre outras, estavam (e em parte ainda estão)
cercadas por mangues. Muitos eram ocupados por indígenas e por povos mais
antigos ainda, como o "povo do sambaqui", que vivia nestas regiões desde
há nove mil anos atrás.
A constante ocupação de uma região mostra que
lá existe boa oferta de alimentos; papel que os manguezais ainda têm
atualmente. Com a gradual colonização do Brasil, gerações de populações litorâneas
- em São Paulo chamados de caiçaras - sempre dependeram do mangue para garantir
ou completar sua alimentação. Além desta função, os manguezais também protegem
a costa contra a força de erosão das marés, mais ainda em tempos de mudanças
climáticas, quando o nível do oceano tenderá a se elevar. Outro serviços
ambiental prestados pelos mangues é o de atuar como um filtro, purificando a
água que o atravessa - o caso de rios poluídos parcialmente com esgotos e
carregando restos de agrotóxicos ou resíduos industriais.
Segundo o estudo "Manguezais da Baixada
Santista, São Paulo - Brasil: uma bibliografia", de autoria das cientistas
Ana Lucia Gomes dos Santos e Sueli Ângelo Furlan (http://www.uc.pt/fluc/cegot/VISLAGF/actas/tema3/ana_lucia),
o estado de São Paulo tem uma área de 231 km² de manguezais, dos quais 28 km²
encontram-se degradados ou alterados. A Baixada Santista e o Litoral Sul
concentram a maior área de mangue, totalizando 228 Km².
Desta, a maior parte
encontra-se parcialmente preservada, mas vem sofrendo forte pressão
principalmente devido ao adensamento populacional e a consequente ocupação
irregular de extensas áreas, notadamente nos municípios de Santos, Guarujá e
São Vicente. No Litoral Sul do estado, em Iguape, Cananéia e Ilha Comprida, o
mangue continua bem preservado, podendo cumprir sua função original, sem forte
intervenção humana.
(Imagens: pinturas de André Crespo)
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