A seca que afeta grande parte do Brasil continua fazendo estragos. A economia das regiões Sudeste e Nordeste será prejudicada pelo terceiro ano consecutivo. Especialistas prevêem que a recuperação hídrica, ambiental e econômica será cada vez mais lenta, e dependerá do aumento da frequência e do volume das chuvas.
Recentemente, um site de notícias previu que
a falta d’água em São Paulo poderia provocar o esvaziamento da cidade. Empresas
com dificuldades de operar por falta do líquido, se estabeleceriam em outras
regiões. A falta de empregos e condições razoáveis de sobrevivência faria com
que as empresas fossem seguidas por parte dos habitantes.
Nada tão impossível. O noticiário da TV mostra
em que condições o pequeno comércio é obrigado a operar, enfrentando a
constante falta de água e, mais recentemente, queda de energia elétrica por
longos períodos. Os governos do estado e do município evidentemente não querem
discutir o fato, por considerá-lo improvável. Mas, já é cada vez mais comum que
famílias inteiras, tendo condições, se desloquem para as cidades do litoral, a
fim de viver alguns dias sem falta d’água (e poderem lavar a roupa que
trouxeram).
Em recente reportagem sobre os rios no interior
do estado, o jornal O Estado de São Paulo mostrou que seu volume está cada vez
mais baixo. Cursos d’água caudalosos, como os rios Atibaia e Jaguarí, estão com
apenas uma parte de seu volume. O Atibaia, que nesta época de chuvas chega a
ter mais de 4 metros
de profundidade, estava com apenas 4,2 centímetros na
região entre Campinas e Pedreira, em meados de janeiro de 2015.
Outro aspecto é que parte da água dos rios é
usada para abastecimento doméstico das cidades da região e também recebe o
lançamento de esgotos. Quando os rios estão cheios, o esgoto é em parte diluído.
Mas, quando o volume das águas cai para somente 10% do original, a concentração
de efluentes aumenta e encarece o processo de tratamento. A situação começa a
ficar preocupante, quando a imprensa traz notícias sobre uma tecnologia –
financiada por Bill Gates – que extrai água de fezes.
A situação da falta de água mostra o quanto somos
dependentes das condições climáticas e ambientais. A população e as atividades
econômicas cresceram de tal maneira, que precisam cada vez mais dos recursos
naturais – neste caso a água. Cai por terra o antigo lugar-comum, de que por
aqui temos tudo em profusão: terras, águas, matas, recursos minerais... Fica
claro agora de que o mito do “país que tem recursos inesgotáveis” não era
verdadeiro. A sociedade brasileira e suas atividades econômicas cresceram de
tal maneira, que aquilo que no passado eram “riquezas naturais sem fim” se
transformou em recursos escassos.
A situação poderia estar ainda pior. A estagnação
econômica por que passa o país tem feito com que a indústria produzisse menos
e, com isso, consumisse menos água e eletricidade. Dados indicam que o uso de
energia elétrica caiu 7,1% nos primeiros 13 dias de janeiro, em comparação com
o mesmo período do ano passado. Economistas do Banco Safra reduziram a previsão
de crescimento do PIB de 2015 de 0,3% para menos 0,5%, segundo articulista da
Folha de São Paulo, Vinicius Torres Freire. Segundo o jornalista, “um dos
motivos que baseiam a previsão de encolhimento da economia é o racionamento de
água em São Paulo”.
(Imagens: fotografias de Roman Vishniac)
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