[...] Tudo está sempre por um fio, um
segundo entre cair e espatifar-se
um milésimo e eis o precipício
Talvez por isso o cidadão comum
procure sempre e tanto agarra-se
na rotina, na fé, até no vício
Domingos Pellegrini - Gaiola Aberta - 1964-2004
Todas as sociedades passadas, presentes e
futuras, subsistiram e subsistirão através do uso de recursos naturais. A
afirmação parece óbvia. No entanto, ao estudarmos os diferentes períodos
históricos – e também os pré-históricos – aprendemos que os recursos naturais
raramente foram usados com parcimônia pela humanidade. A luta pela
sobrevivência de nossos antepassados, fez com que diversas espécies de
mamíferos e aves fossem extintas na África, Europa, Austrália e América, entre
50 e 10 mil anos atrás. Na Antiguidade, gregos e romanos derrubaram imensas
florestas de cedro na orla do Mediterrâneo, para construírem suas frotas navais
de comércio e guerra. O aumento da população européia a partir do século X
provocou a expansão da agricultura e com isso a derrubada de florestas,
aterramento de pântanos e a canalização de rios.
A exploração dos recursos só não era maior,
porque faltava tecnologia. O carvão mineral, por exemplo, parece ter sido usado
como combustível nos séculos II e III em certas regiões da então província
romana da Germânia. Depois, sua utilização foi esquecida, vindo a ser
redescoberta no século XII, como substituto à lenha, que estava escasseando em
certas regiões da Europa. Seu uso, porém, não se tornou disseminado, já que o carvão
não era encontrável em todos os lugares e seus custos de transporte eram muito
altos. Assim, foi somente no século XVIII, com o advento da industrialização na
Europa, que o carvão mineral passou a ser explorado em quantidades cada vez
maiores.
Pouco desenvolvimento tecnológico faz com que
se utilize menor diversidade de recursos naturais ou que os já conhecidos sejam
usados de forma limitada. A água, pelo menos até antes do início da Revolução
Industrial, era utilizada para regar as plantações, dessedentar humanos e
animais, carregar resíduos e – de forma ainda primitiva – gerar trabalho com o
acionamento de máquinas. Fazendo uso de sistemas de roldanas e cabos, as cerrarias
podiam acionar longas serras e as tecelagens movimentavam as pesadas máquinas
de tecer. No início do século XVIII, o inglês James Watt aprimoraria a
utilização do vapor d’água para aumentar a capacidade das máquinas e assim
ampliaria as aplicações da água. Ainda no século XIX se inventaria uma máquina (turbina)
que, aproveitando o movimento da água, geraria eletricidade. Ao mesmo tempo
aumentava a utilização da água na nascente indústria química, na siderurgia e
nas primeiras estações de tratamento de água e de esgotos, instaladas nas
grandes cidades europeias. As diversas aplicações da água à movimentação da
economia aumentavam exponencialmente.
A recente crise hídrica por que passam
diferentes regiões do Brasil, reflete também a má gestão do precioso recurso.
Atualmente, dispomos de conhecimentos técnicos e capital, que, se bem
utilizados, poderiam ter diminuído o impacto da falta de água. Faltou vontade política e iniciativa aos diversos governos; sempre é mais simples e econômico adiar a solução de problemas e transferi-los para o futuro. As gerações futuras acabam sempre pagando a conta.
(Imagens: fotografias de Gaspar Gasparian)
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