"Freud sabia perfeitamente que a maioria das pessoas se considera agentes independentes, que controlariam a própria vida, determinariam o destino, escolheriam a carreira e os parceiros: mas ele argumenta que embora finjamos ser os arquitetos de nossa existência, na verdade somos escravos de poderosos forças inconscientes que governam nossa mente e nosso comportamento." - Brett Kahr - Lições de vida: Freud
A história nos mostra que
tempos de crise são tempos de mudanças. Os períodos de perturbação na economia
e nas relações sociais representam uma ruptura com o passado, com uma situação
existente, indicando que a forma como a sociedade vinha se organizando já não
funciona mais. As consequências de tais condições podem ser as crises e as reformas
econômicas, os conflitos e o aparecimento de novos grupos sociais e o
surgimento de novas ideias no âmbito da cultura. Assim, para que os indivíduos,
grupos sociais e sociedades possam continuar existindo, é necessário que se
adaptem às mudanças com a criação de novas estruturas econômicas e sociais.
A adaptação às alterações se
desenvolveu com a própria vida, desde sua origem. O desenvolvimento das
espécies, processo do qual nós, seres humanos, também fazemos parte, ocorre
porque linhagens ou grupos de indivíduos foram submetidos a algum tipo de
perturbação. Terremotos, secas prolongadas, doenças e alterações genéticas,
provocaram o desaparecimento da maior parte dos membros do grupo, sobrando
apenas aqueles indivíduos que, por alguma razão, tiveram capacidade inata de se
adaptar às novas condições ambientais. Toda a vida existente na Terra é
resultado deste processo. Somos todos, das bactérias às palmeiras e dos
besouros às baleias, descendentes de indivíduos que passaram por crises de todo
tipo e que sobreviveram para contar a história. A ciência nos diz que 98% das
espécies dos cinco reinos atualmente existentes (plantas, fungos, animais,
protista e monera) estão extintos.
As sociedades humanas,
diferentemente das outras espécies, podem acumular conhecimentos sobre como
reagir às crises. A cultura - incluindo ai todo conhecimento científico e
tecnológico acumulado ao longo de toda história do homo sapiens - é o
instrumento que nos coloca em vantagem sobre os demais seres vivos. Não
dependemos somente de uma possível capacidade de adaptação de alguns indivíduos
de nossa espécie, produto de mutações genéticas, e o que significaria a morte
para o restante da espécie. Temos meios de mudar o nosso meio ambiente -
através do fogo, dos instrumentos de caça, da agricultura, das máquinas, dos
abrigos e dos remédios - possibilitando que a maioria dos indivíduos de nossa
espécie sobreviva às intempéries, cataclismos e doenças.
Esta capacidade dos humanos
em sempre tirar proveito do meio ambiente, sobrevivendo aos períodos glaciais,
às explosões vulcânicas e abandonando regiões áridas, pode ter um fim. Com a tecnologia
usada na atividade econômica, para nossa sobrevivência, estamos indo longe
demais na alteração do meio ambiente. A tecnologia, empregada de uma maneira
desastrada - superexploração dos recursos hídricos, dos solos, dos mares - está
diminuindo as chances da humanidade persistir como espécie, pelo menos aqui no
planeta Terra, se não implantarmos mudanças para sairmos da crise.
A história da humanidade,
escrita por cientistas de uma civilização do futuro, seria emocionante e irônica
ao mesmo tempo. Falaria sobre a única espécie deste planeta capaz de criar suas
próprias condições de adaptação, sobrepondo-se à natureza. Em certo ponto de
sua história, no entanto, as forças da natureza despertadas pelas atividades
humanas teriam sido poderosas demais, e acabaram destruindo o homem.
(Imagens: fotografias de Ikko Narahara)
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