"O Dasein morre de maneira fáctica ao longo da sua existência, mas antes de mais, e o mais frequentemente, sob o modo de decadência" - Martin Heidegger citado por Michel Haar em Heidegger e a essência do homem
25 de junho de 2015
será lembrado no futuro como importante data na luta dos ambientalistas de todo o mundo. Foi nesta data que o
papa Francisco lançou sua encíclica Laudato si (Louvado seja). O documento
representa um marco na questão da proteção ao meio ambiente e deverá exercer
forte influência na maneira como este tema vem sendo tratado, principalmente
nas nações com considerável parcela de católicos - caso da maior parte dos
países na Europa, nas Américas e parte da África.
A encíclica Laudato si não é
apenas mais uma instrução aos fiéis católicos, produzida pelo papa e sua equipe. Apesar de fazer referência às ações de grupos
católicos e de pensadores de religiosos de várias tendências em relação ao meio
ambiente, o documento elaborado pelo papa Francisco é fundamentado em dados
atualizados das ciências que estudam a questão ecológica. Em nossos
comentários, seguimos a resenha da encíclica feita pelo filósofo e teólogo
Leonardo Boff, em texto publicado no caderno Aliás, no Estado de São Paulo de
21/6/2014.
A encíclica começa
levantando os problemas ambientais e sua implicações nas sociedades humanas. A
questão das mudanças do clima, da água, da biodiversidade, da erosão do solo e
suas consequências; como a diminuição da qualidade da vida humana e a deterioração
das relações sociais. Em seu texto, Francisco mantêm a forte orientação em
favor dos humildes e dos abandonados da Terra, quando afirma que os grande
prejudicados pela destruição do meio ambiente são os pobres. "Gemidos da
irmã Terra se unem aos gemidos dos abandonados deste mundo", escreve.
Também faz uma relação entre o crescimento desenfreado da economia, a procura
constante de poder e a acumulação ilimitada à custa da injustiça ecológica e
social, "um comportamento que parece suicida".
Em outra parte da encíclica
o papa analisa o papel da tecnologia, a qual acolhe sem preconceitos (é preciso
lembrar que o catolicismo aceita a teoria da evolução de Darwin). O que
Francisco critica é o uso indiscriminado dos benefícios da ciência para
explorar à exaustão os recursos da Terra, submetendo "a economia, a
política e a natureza em vista da acumulação de bens materiais", como
escreve Boff. O engano desta visão é acreditar que os problemas causados pelo
uso abusivo da tecnologia podem ser resolvidos pelo uso de mais tecnologia.
Mostrando um profundo conhecimento das novíssimas tendências da ciência,
envolvendo o conceito de complexidade, Francisco escreve que esta atitude é
enganosa porque "implica isolar as coisas que estão sempre
conectadas". A limitada visão cartesiana da tecnocracia está em
"fragmentar os saberes e perder o sentido de totalidade".
A encíclica é enfática ao
afirmar que a economia e a política devem servir ao bem comum e propiciar
condições para um vida mais digna e agradável. A exemplo do que em outras
palavras também é afirmado pelo líder budista Dalai Lama, Francisco enfatiza a
necessidade de um diálogo entre a moderna ciência e a religião, dizendo que
todas as religiões "devem procurar o cuidado da natureza e a defesa dos
pobres".
Semanalmente chegam novas
notícias sobre a destruição de ecossistemas. Assim, a mensagem do papa representa
um chamado para mudança de curso; conversão, segundo o cristianismo. Crentes ou
descrentes, estamos todos na mesma Terra e podemos afirmar com Francisco que:
"o mundo é mais que uma coisa a resolver, é um mistério grandioso para ser
contemplado na alegria e no louvor."
(Imagens: gravuras de Gustave Doré)
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