"As desgraças das revoluções são dolorosas fatalidades, as desgraças dos maus governos são dolorosas infâmias." - Eça de Queirós - Páginas de Jornalismo
(publicado originalmente como newsletter janeiro/fevereiro no site www.ricardorose.com.br)
Ano novo vida nova, diz o
ditado. Mas não aqui e agora. Parafraseando a expressão tornada famosa no título do livro de Zuenir
Ventura, podemos dizer em relação ao momento: "2015 o ano que não
acabou".
Não acabou mesmo. Continua a
pairar a ameaça de impeachment sobre a cabeça do presidente do Senado, Renan
Calheiros, sobre o presidente de Câmara, Eduardo Cunha, e sobre a presidente do
país, Dilma Rousseff. Deputados se veem às voltas com CPIs, sendo a mais
importante delas a da Petrobrás, focada no futuro (ou não) político do deputado
Cunha. Enquanto isso, parlamentares do baixo clero e de pequenos partidos,
circulam pelo Congresso como peixes de um cardume, levados pelas correntes dos
benefícios políticos e financeiros. O governo já não tem mais nada a barganhar
(não tem mais boi para jogar para estas piranhas) e pouco pode fazer para
influenciar aqueles que deveriam constituir sua base de apoio político. Com
isso, aprovam-se poucos projetos, não se faz o ajuste econômico - ao qual o
novo ministro da fazenda, Nelson Barbosa, dará todo apoio, segundo declarou - e
a economia continua caindo pela escada - uma queda que começou em 2014, se
acelerou em 2015 e parece que continuará assim por longo tempo.
A economia - o mundo real
que envolve a vida dos brasileiros, seus empregos e sua sobrevivência - vai mal
e deverá piorar mais ainda, segundo previsões quase unânimes. Mais inflação,
mais desemprego, menos investimentos produtivos, menos arrecadação, menos
investimentos em infraestrutura. O governo, endividado, com rombos já previstos
no orçamento para 2016, continua sem ação - reprise de 2015. As soluções
baseadas em ideologias, imaginadas por grupos de apoio a Dilma para tentar
melhorar a situação econômica do país - caso da CUT, MST, MTST, UNE e outros do
mesmo calibre - levarão a economia a um abismo maior. Uma nova edição capenga
da "nova matriz econômica" não geraria mais recursos para programas
sociais, ao contrário.
Redundante dizer que com
todo este imbroglio político-econômico em que nos metemos nos últimos anos, o
setor ambiental também sofre. E padece de duas maneiras. Por um lado, padece
com as promessas feitas e geralmente não cumpridas, por falta de recursos. Já
falamos mais de uma vez nesta coluna que a linha ideológica do governo Dilma,
diferente de Lula, é claramente desenvolvimentista; não se preocupa com o meio
ambiente além do estritamente necessário. Sendo assim, os planos e projetos
ambientais são os últimos da longa fila de prioridades do governo. Com a crise
econômica, a coisa ainda ficou pior, haja vista os imensos cortes realizados no
tão esquecido PAC, sigla que (ironicamente) significa Plano de Aceleração do
Crescimento.
As verbas para saneamento
foram cortadas, “projetos foram paralisados, quando não abandonados, entre
escândalos de corrupção e o completo esvaziamento dos cofres públicos”, segundo
texto no site da Federação Nacional dos Trabalhadores Celetistas nas
Cooperativas do Brasil (FENATRACOOP). Os projetos para fazer cumprir as
promessas de eliminação do desmatamento ilegal na Amazônia, assumidos durante a
COP-21 em Paris no mês passado, ainda são apenas promessas. Afinal, ainda temos
muito tempo (2030) e no momento poucos recursos.
A outra maneira pela qual os
recursos naturais padecem no Brasil é o descaso como são tratados. Muito se tem
escrito sobre o assunto, mas como exemplo basta citar dois fenômenos: a
avalanche de lama em Minas Gerais e Espírito Santo, que destruiu praticamente
seis mil quilômetros quadrados de florestas, rios, cidades, fazendas, praias e
centenas de espécies; e a estiagem que afeta grande parte dos reservatórios no
Sudeste e Nordeste do Brasil. Acidentes que podem acontecer, mas poderiam ser
prevenidos ou minorados com melhores gestões de resíduos e recursos hídricos,
por exemplo.
Estes problemas se
arrastarão por 2016 afora. No plano político e econômico, qualquer solução é
traumática; por um período mais curto ou mais longo. No setor ambiental – que não
tem qualquer prioridade para o governo – o padecimento será muito mais longo.
Com tanta desgraça, resta apenas esperar que o Estado faça valer a justiça no
caso de Mariana. “2015, o ano que não acabou.”
(Imagens: pinturas de Tarsila Amaral)
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