"Já, abanando a cabeça, suspira mais frequentemente o lavrador de idade, ao ver que foi em vão todo o seu trabalho; e, ao comparar os tempos presentes com os tempos passados, louva muitas vezes a sorte de seu pai." - Lucrécio - Da Natureza
Durante a campanha presidencial,
o depois eleito presidente Donald Trump já havia anunciado que tiraria os
Estados Unidos do Acordo Climático de Paris. Outra parte de sua estratégia era
reduzir ou eliminar programas de redução de emissões de gases e de incremento
no uso das energias renováveis, implantados no governo de Barack Obama. Negando
a existência das mudanças climáticas e do aquecimento global, Trump canalizou a
raiva de setores do eleitorado americano, provocada pelo aumento das
desigualdades sociais nos últimos vinte anos.
Assuntos
como o do uso das energias renováveis e da redução das emissões de carbono
através da diminuição ou substituição do consumo de derivados de petróleo,
tornaram-se na estratégia de Trump temas das agendas das elites. As mesmas elites
políticas, econômicas e culturais, que colocaram parte da população americana -
o potencial eleitorado do candidato - na situação de decadência social e
econômica em que se encontram. Assim, não é surpresa que Trump em sua campanha
eleitoral tenha dito de que a ideia das mudanças climáticas fora criada pela
China, para prejudicar a economia americana.
Logo
depois da posse, o agora presidente Trump coloca em prática medidas que vão
contra toda a política de redução de emissões iniciada por Obama. Reduz
recursos federais para projetos de incentivo ao uso do biogás, abre novas
frentes para a exploração de petróleo e gás em áreas federais, corta pela
metade o orçamento previsto para novos investimentos em eficiência energética e
abre uma linha de incentivos para a combalida e ultrapassada indústria do
carvão. Cumprindo sua promessa eleitoral, Trump oficializou a saída dos Estados
Unidos do Acordo Climático Mundial. Tudo baseado no argumento de que a
excessiva preocupação com o meio ambiente é um impedimento à atividade
econômica e à geração de empregos. O mesmo discurso antiquado e enganoso - o
objetivo real é manter o lucro de empresas poluentes - que foi e ainda é
utilizado no Brasil, e que aqui está por trás de iniciativas como a diminuição
das áreas de conservação florestal e da flexibilização do licenciamento
ambiental.
Em
recente entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o ex-secretário de Energia do
governo Obama, o físico e professor Ernest Moniz, afirmou que as empresas
americanas serão as garantidoras do Acordo de Paris e não farão coro às
iniciativas desastradas do governo Trump. "Os presidentes das grandes
empresas pensam a longo prazo e sabem das oportunidades bilionárias da economia
de baixo carbono". Cerca de mil grandes empresas americanas, segundo
Moniz, já declararam que manterão suas metas de eficiência energética e redução
de emissões. A tendência, portanto, é que mesmo sem o apoio do governo
americano, os objetivos de redução continuarão sendo perseguidos pelas
empresas.
Enquanto
os Estados Unidos regridem em suas metas de redução, a China aumenta
investimentos em tecnologias limpas e começa a ocupar o vácuo deixado pelos
americanos, aliando-se às estratégia dos países europeus. O carvão já atingiu o
seu pico de uso na China e cada vez mais o país direciona seus imensos
investimentos em energia para tecnologias mais sustentáveis. A Índia parece que
também planeja trilhar o mesmo caminho, apesar de ainda dispor de grande
números de termelétricas a carvão.
O
Brasil, por sua vez, permanece, como sempre, no discurso. Apesar de ter
assinado o Acordo sobre o Clima, o governo pouco ou nada fez para reduzir as
emissões de gases de efeito estufa, ao contrário. Através de uma série de medidas
o governo diminuiu áreas de proteção florestal e reduziu as verbas para o
ministério do Meio Ambiente. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) avança lentamente
e não está atendendo a um de seus principais objetivos: evitar o desmatamento.
Por falar nisso, aumentou a derrubada da floresta na Amazônia e na Mata
Atlântica ao longo dos últimos dezoito meses. Culpados por este aumento da
destruição dos dois biomas são, segundo especialistas, as lacunas legais do
novo Código Florestal e a falta de apoio aos órgãos controladores. A implantação
da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que devia ter ocorrido a partir de
2014 sendo postergada para 2018, também avança lentamente. A maior parte dos
municípios sequer elaborou seu Plano de Gestão de Resíduos. Nenhuma cidade
brasileira tem um sistema de controle de emissões veiculares implantado - o da
cidade de São Paulo foi suspenso por acusações de corrupção nas licitações,
como de praxe. Ainda quanto a isso, o ministério do Meio Ambiente planeja
implantar um sistema de controle veicular federal, mas sabe-se lá quando isso
ocorrerá efetivamente.
Não
adianta, portanto, jogarmos pedras no telhado dos americanos, já que nosso
telhado também é de vidro. Na realidade o Brasil está fazendo muito pouco para
reduzir suas emissões. Na forma como o processo é conduzido, um governo está
passando a responsabilidade de implantar medidas para o próximo, e assim vamos
caminhando. Impera ainda aquela mentalidade do "no final, dá-se um
jeito".
(Imagens: pinturas de Alfred Sisley)
0 comments:
Postar um comentário