"Diógenes (Diógenes de Sinope, filósofo grego) simboliza a existência na contracorrente, tanto com sua grandeza quanto com seus limites. Seu desprezo pelo rebanho e sua exigência de coerência podem suscitar admiração. Desse modo, pode-se pensar que tanta ostentação na simplicidade indica imenso orgulho." - Roger-Pol Droit - Um passeio pela Antiguidade
(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)
Sébastien-Roch Nicolas tomou
posteriormente o nome de Nicolas de Chamfort (1740-1794); foi poeta,
jornalista, humorista e moralista francês. Aluno brilhante na escola e na
universidade, logo tornou-se poeta premiado pela Academia e escreveu algumas
comédias encenadas pelo Théâtre Français. A fama o torna secretário do gabinete
de Madame Elisabeth, irmã do rei Luis XVI.
Em 1781 Chamfort foi aceito
como membro da Academia Francesa de Letras. Tendo aderido à Revolução Francesa,
tornou-se autor de diversos artigos publicamente atribuídos a outros
personagens famosos da Revolução. Ocupou o cargo de bibliotecário da Biblioteca
Nacional, mas acaba preso por ter se alegrado com a morte de Marat (líder
revolucionário).
Alguns dias depois é libertado da prisão mas permanece sob
vigilância, pedindo demissão do cargo de bibliotecário. Ameaçado novamente com
a prisão, Chamfort tenta o suicídio, sem no entanto vir a falecer. Logo após o
ocorrido, falando a amigos, ironiza a incompetência com que havia tentado se
matar: "O que vocês queriam? É o que dá ser desajeitado; não se consegue
fazer nada, nem mesmo se matar." Porém, não consegue se recuperar do
ferimento no rosto e no maxilar e morre alguns meses depois.
Se dependesse apenas das
suas comédias e dos poemas que escreveu para sua amada, Chamfort seria apenas
uma pequena referência de rodapé na história da literatura francesa. O que o
imortalizou foram as notas escritas em cartões, que guardou em seus aposentos e
nos quais registrou nos últimos anos da vida suas opiniões, reflexões,
observações e casos sobre personagens com os quais convivia.
Estas notas foram
publicadas postumamente em 1803 sob título de "Máximas e pensamentos,
personagens e casos". Suas máximas são amargas e céticas, mostrando a
maneira crítica com a qual via a sociedade aristocrática, a monarquia e suas
instituições, a Igreja e a alta sociedade de seu tempo. Chamfort coloca-se na
mesma linha dos moralistas franceses como La Rochefoucauld, La Bruyère e
autores como Rivarol e Vaunenagres, tendo sido lido e admirado por filósofos
como Schopenhauer e Nietzsche.
Abaixo apresentamos algumas citações de suas
"Máximas e Pensamentos" (Editora José Olympio, 2007):
"Nas coisas grandes, os
homens se mostram da maneira que lhes convêm mostrar-se; nas pequenas,
mostram-se como eles são."
"O que é um filósofo? É
um homem que opõe a natureza à lei, a razão ao costume, sua consciência à
opinião pública e seu julgamento ao erro."
"Quando alguém quer se
tornar filósofo, não se deve deixar desanimar com as primeiras descobertas
aflitivas a respeito dos homens. Para conhecê-los é preciso vencer o
descontentamento que eles causam, da mesma forma que o anatomista triunfa sobre
a natureza, sobre os seus órgãos e sobre a própria repugnância para tornar-se
habilidoso em sua arte."
"Aprendendo a conhecer
os males da natureza, desprezamos a morte; aprendendo a conhecer os da
sociedade, desprezamos a vida."
"A sociedade é composta
de duas grandes classes: os que têm mais jantares do que apetite, e aqueles que
têm mais apetite do que jantares."
"Tudo nos homens é
igualmente vão, tanto suas alegrias quanto seus dissabores; mas é melhor que a
bolha de sabão seja dourada ou azul, em vez de negra ou cinzenta."
(Imagens: pinturas de Edward Burne-Jones)
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