"A desculpa habitual dos que causam a desgraça dos outros é que querem o seu bem." - Vauvenargues - Reflexões e máximas
O Cerrado é, depois da
floresta amazônica, o segundo maior bioma brasileiro com uma extensão original
de cerca de 2 milhões de quilômetros quadrados. A área remanescente que
permanece preservada, corresponde atualmente a cerca de 30% da área original.
Sua vegetação é composta por diferentes tipos de formações; a floresta, a
savana e os campos, dependendo da altitude do terrenos, do relevo e da
pluviometria - que não é igual em toda a extensa área do bioma. A maior parte
de seu domínio, no entanto, tem precipitações pluviométricas que favorecem a
agricultura. O solo, por possuir baixa fertilidade e acidez alta, com elevado
conteúdo de alumínio e pouca quantidade de nutrientes, requer correção e
adubação adequada.
Em 1975 o governo federal
instituiu um programa para acelerar o desenvolvimento dos estados de Minas
Gerais, Goiás (que à época incluía o atual estado de Tocantins) e Mato Grosso
(não existia o estado de Mato Grosso do Sul), através de diversos
financiamentos, visando a construção de estradas, silos, armazéns e a pesquisa
agropecuária. Na área da pesquisa, a principal missão da então recém criada
Embrapa Cerrados era desenvolver tecnologia agrícola, de modo a viabilizar a
agricultura extensiva no solo pouco fértil do Cerrado. Em pouco mais de uma
década, desenvolveu-se na região uma vasta atividade agrícola, baseada principalmente
na soja e no milho. Atualmente a região é responsável por cerca de 60% da
produção de grãos do país. Segundo especialistas, a agricultura na área do bioma
ainda tem bastante espaço para crescimento sem comprometer áreas ainda
preservadas. Há 50 milhões de hectares de áreas de pasto pouco aproveitadas,
que poderiam ser usadas para a produção agrícola.
Se o solo do Cerrado
originalmente não é propício para a agricultura extensiva, há outros fatores
que ajudam a degradar a terra ainda mais. É o caso do uso excessivo de
pesticidas (alguns dos quais proibidos em outros países) e a remoção da
cobertura original e exposição do solo às intempéries, provocando erosão e
assoreamento dos cursos d'água. São fatores que contribuem para deteriorar o
meio ambiente, tornando a atividade agrícola mais custosa.
A convivência de áreas
preservadas com a monocultura extensiva e a criação de gado em grandes
extensões de terra, tem sido difícil durante toda a história da ocupação do
Cerrado, nos últimos quarenta anos. O crescimento do desmatamento é um dos
principais indicadores deste conflito. Em 2015 a taxa de desflorestamento do
Cerrado foi 52% superior ao da Amazônia, tendo perdido 9.483 km², comparados
aos 6.207 km² destruídos da floresta tropical.
As maiores perdas de vegetação
original de Cerrado verificam-se na área de expansão da fronteira agrícola,
conhecida como Matopiba, que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia. Ocupando 73 milhões de hectares, a região é considerada a nova fronteira agrícola brasileira e tornou-se
grande produtora de grãos e fibras.
O controle aéreo do Cerrado,
segundo o ministério do Meio Ambiente, será a partir de agora realizado
anualmente, como acontece com a Amazônia. Ainda não existe uma série histórica
de monitoramentos, mas tomando por base os últimos dados disponíveis de 2009
tudo indica que está havendo uma redução na taxa de desmatamento. Permanece
porém o fato de que a legislação permite uma supressão de 80% da vegetação em
áreas localizadas no Cerrado, enquanto que na Amazônia Legal esta é de apenas
20%, em zonas florestais. Em recente entrevista ao jornal o Estado de São
Paulo, a ex-ministra do Meio Ambiente, Izabel Teixeira, comentou em relação a
esta diferença estabelecida no Código Florestal que "é preciso avaliar com
clareza a dinâmica do desmatamento e novas medidas que podem assegurar mais
proteção."
A depender do atual governo
e de seu bom relacionamento com o setor agropecuário - e principalmente com
seus representantes no Congresso - será difícil aprovar qualquer medida que
possa tolher a ocupação de novas terras.
(Imagens: fotografias de portas na cidade de Iguape, SP de Ricardo E. Rose)
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