"A tradição é rotina. Mas ela é rotina que é intrinsecamente significativa, ao invés de um hábito por amor ao hábito, meramente vazio." - Anthony Giddens - As consequências da modernidade
O
Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) publicou recentemente o
relatório "Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades brasileiras às
mudanças climáticas" (disponível em: https://drive.google.com/file/d/0Bxchau3sCq6keVYwZFI3TFoxWGs/view),
apontando os diversos efeitos que o fenômeno terá sobre o litoral do país. O
aumento do nível das águas do mar e seu efeito sobre a infraestrutura urbana e
áreas vizinhas, deverá ser percebido nitidamente a partir da segunda metade
deste século.
Suzana
Kahn, presidente do PBMC, em declaração ao jornal Folha de São Paulo, apontou a
gravidade do fenômeno: "Está bem ruim mesmo. A situação está difícil, mas
a função do relatório é apontar os cenários que podem acontecer." O PBMC, criado
em 2009 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério do Meio Ambiente,
reúne especialistas que se dedicam ao estudo dos impactos das mudanças do clima
em várias áreas, como infraestrutura, economia, urbanismo, etc.
O
litoral do Brasil tem 8.698 quilômetros de extensão e área de 514 mil
quilômetros quadrados. Ao longo da costa se alinham aproximadamente 400
municípios de diversos tamanhos, que com diversas atividades econômicas, como a
pesca, o turismo, portos, indústrias, exploração de petróleo e centros
administrativos, entre outros, respondem por 30% do PIB brasileiro e concentram
60% da população. A preocupação dos especialistas tem fundamento, já que 18 das
42 regiões metropolitanas brasileiras estão estabelecidas na região costeira ou
então são diretamente influenciadas por ela: Macapá, Belém, São Luiz,
Fortaleza, Natal, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, Vitória, Rio
de Janeiro, Vale do Paraíba/Litoral Norte de São Paulo, Baixada Santista,
Joinville, Foz do Itajaí, Florianópolis e Porto Alegre.
Segundo
os especialistas, o nível das águas do Atlântico deverá elevar-se em 20 cm. a 30
cm. até o final de século na costa brasileira (existem dados mais pessimistas falando em 80 cm.). O impacto dessa elevação será
percebido gradualmente, mas criando a necessidade de realocar bairros inteiros,
alterar e reforçar a infraestrutura (transportes, eletricidade, saneamento) e
preparar as cidades para outras emergências climáticas. Nessa situação, as
cidades mais prejudicadas serão aquelas que terão menos recursos financeiros e
capacidade de planejamento.
Segundo
o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, o país já dispõe
de um "Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima", que fornece
diversos dados sobre o fenômeno climático e relaciona medidas importantes para
que o país possa fazer face a estas mudanças. Em 2015, a Fundação de Amparo à
Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e cientistas americanos e ingleses, já haviam
realizado um estudo sobre os efeitos do aumento do nível do mar, focado na
região da cidade de Santos, em São Paulo.
Sendo
assim, não faltam dados e indicações, para que cidades litorâneas de todo o
Brasil deem início ao planejamento de ações concretas para proteger as cidades.
No entanto, segundo Carlos Rittl, o plano ainda não começou a sair do papel.
Para o secretário, o Brasil está retrocedendo em suas políticas ambientais e
climáticas. Pressões de grupos econômicos, apoiados por bancadas de
congressistas, estão propiciando o aumento de desmatamento e a implantação de projetos
que contribuirão ainda mais para destruir os recursos naturais do país.
(Imagens: pinturas de Gustave Courbet)
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