O impacto das mudanças climáticas no litoral brasileiro

sábado, 21 de outubro de 2017
"A tradição é rotina. Mas ela é rotina que é intrinsecamente significativa, ao invés de um hábito por amor ao hábito, meramente vazio."   -   Anthony Giddens   -   As consequências da modernidade


O Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) publicou recentemente o relatório "Impacto, vulnerabilidade e adaptação das cidades brasileiras às mudanças climáticas" (disponível em: https://drive.google.com/file/d/0Bxchau3sCq6keVYwZFI3TFoxWGs/view), apontando os diversos efeitos que o fenômeno terá sobre o litoral do país. O aumento do nível das águas do mar e seu efeito sobre a infraestrutura urbana e áreas vizinhas, deverá ser percebido nitidamente a partir da segunda metade deste século.

Suzana Kahn, presidente do PBMC, em declaração ao jornal Folha de São Paulo, apontou a gravidade do fenômeno: "Está bem ruim mesmo. A situação está difícil, mas a função do relatório é apontar os cenários que podem acontecer." O PBMC, criado em 2009 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e Ministério do Meio Ambiente, reúne especialistas que se dedicam ao estudo dos impactos das mudanças do clima em várias áreas, como infraestrutura, economia, urbanismo, etc.

O litoral do Brasil tem 8.698 quilômetros de extensão e área de 514 mil quilômetros quadrados. Ao longo da costa se alinham aproximadamente 400 municípios de diversos tamanhos, que com diversas atividades econômicas, como a pesca, o turismo, portos, indústrias, exploração de petróleo e centros administrativos, entre outros, respondem por 30% do PIB brasileiro e concentram 60% da população. A preocupação dos especialistas tem fundamento, já que 18 das 42 regiões metropolitanas brasileiras estão estabelecidas na região costeira ou então são diretamente influenciadas por ela: Macapá, Belém, São Luiz, Fortaleza, Natal, Aracaju, Maceió, João Pessoa, Recife, Salvador, Vitória, Rio de Janeiro, Vale do Paraíba/Litoral Norte de São Paulo, Baixada Santista, Joinville, Foz do Itajaí, Florianópolis e Porto Alegre.

Segundo os especialistas, o nível das águas do Atlântico deverá elevar-se em 20 cm. a 30 cm. até o final de século na costa brasileira (existem dados mais pessimistas falando em 80 cm.). O impacto dessa elevação será percebido gradualmente, mas criando a necessidade de realocar bairros inteiros, alterar e reforçar a infraestrutura (transportes, eletricidade, saneamento) e preparar as cidades para outras emergências climáticas. Nessa situação, as cidades mais prejudicadas serão aquelas que terão menos recursos financeiros e capacidade de planejamento. 

Segundo o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl, o país já dispõe de um "Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima", que fornece diversos dados sobre o fenômeno climático e relaciona medidas importantes para que o país possa fazer face a estas mudanças. Em 2015, a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e cientistas americanos e ingleses, já haviam realizado um estudo sobre os efeitos do aumento do nível do mar, focado na região da cidade de Santos, em São Paulo.

Sendo assim, não faltam dados e indicações, para que cidades litorâneas de todo o Brasil deem início ao planejamento de ações concretas para proteger as cidades. No entanto, segundo Carlos Rittl, o plano ainda não começou a sair do papel. Para o secretário, o Brasil está retrocedendo em suas políticas ambientais e climáticas. Pressões de grupos econômicos, apoiados por bancadas de congressistas, estão propiciando o aumento de desmatamento e a implantação de projetos que contribuirão ainda mais para destruir os recursos naturais do país.
(Imagens: pinturas de Gustave Courbet)

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