Eficiência energética no Brasil

sábado, 7 de outubro de 2017
"A substância de que é feito o mundo se simplificou drasticamente nos últimos anos. O mundo, as partículas, a energia, o espaço e o tempo, tudo isso é apenas a manifestação de um  único tipo de entidade: os campos quânticos covariantes."   -   Carlo Rovelli   - A realidade não é o que parece

O Brasil não dispõe de dados recentes sobre investimentos realizados em eficiência energética. Uma das dificuldades é o fato de que muitas vezes tomam-se medidas que reduzem o consumo de energia - troca de lâmpadas e de motores elétricos, por exemplo - sem que estas providências sejam classificas especificamente como sendo ações de eficiência energética. As iniciativas muitas vezes são pontuais, não refletindo uma real preocupação em, de uma maneira planejada e constante, reduzir o consumo de energia do empreendimento ou imóvel.

Apesar de já existir informação suficiente disponível e do tema ser bastante atual, ainda mais em tempos de crise econômica quando as empresas precisam reduzir os seus custos, ainda são poucas as iniciativas planejadas de redução do consumo de energia. Alguns fatores, segundo os próprios empresários contribuem para o reduzido número de iniciativas nesta área:

a) Instabilidade econômica, com redução de consumo, dificulta o planejamento de um orçamento para investimentos, incluindo projetos de redução de consumo de energia;

b) A relativa elasticidade dos preços, mais acentuada em períodos de inflação, permite com que todos os custos sejam incorporados ao preço do produto e do serviço. Assim, eventuais aumentos nas contas de energia, gás e óleo, são incluídos na planilha de custo de produção do produto ou execução do serviço;

c) A falta de uma efetiva competição na maioria dos mercados da economia brasileira. Por um lado, existem mercados oligopolizados, onde os poucos concorrentes não aumentarão sua participação no mercado reduzindo custos de energia. Nos mercados não oligopolizados, a diferenciação por marca, qualidade, disponibilidade de outros concorrentes (regionais ou nacionais), faz com que uma pequena redução dos custos de produção não faça diferença.

Em suma, em segmentos onde os custos de energia não representam um componente importante do produto ou serviço, a eficiência energética ainda não é prioridade no planejamento estratégico das empresas.  

Não é por outra razão, que a elaboração de um projeto específico para reduzir o consumo de energia ainda é bastante desconhecido e pouco implantado, fora do âmbito das grandes empresas ou empresas cujos processos são eletrointensivos. Na situação atual, projetos de eficiência energética podem incluir, por exemplo:

- A compra e distribuição de geladeiras de baixo consumo de energia, feita pelas companhias de distribuição de energia, para pessoas de baixo poder aquisitivo. Estas empresas são obrigadas por lei a destinarem 0,25% de seu faturamento a projetos de eficiência energética;

- A implantação de placas de energia solar térmica, para aquecimento de água usada em processos de produção industrial;


- A colocação de painéis de energia solar fotovoltaica para gerar excedente de energia em industrias;

- Projetos de iluminação pública com diodos LED, parcialmente financiados pelo Banco Mundial e implementados em médias e pequenas cidades brasileiras; entre outros.

Os dados sobre investimentos específicos em eficiência energética mais recentes que identificamos, foram elaborados pela Confederação Nacional da Indústria e datam de 2010. O potencial total de economia no setor industrial é de 17.271 GWh, o que representa uma economia de cerca de R$ 4 bilhões (ABESCO, 2014). Abaixo dados elaborados pela Confederação Nacional da Indústria, contendo os investimentos em eficiência energética por região brasileira.

Região
Projetos
Demanda evitada
kW
Energia economizada
(GWh/ano)
Investimento
(1.000 R$)
Sul
45
4.681
26
6.355
Sudeste
141
67.598
367
107.598
Nordeste
17
12.002
103
16.681
Centro-Oeste
8
2.006
126
29.358
Norte

6

687

2

1.038

Total
217
86.975
626
161.000

     
Segundo o mesmo levantamento, os setores industrias em que até o momento foram feitos os maiores investimentos em eficiência energética são os que constam da tabela abaixo.

Segmento
Projetos
Custo de energia conservada
(R$/MWh)
Custo médio por projeto
(R$)
Alimentos e bebidas
35
73
361.158
Automotivo
9
109
633.365
Cerâmico
28
151
50.781
Couro
9
89
123.413
Fundição
12
319
46.657
Metalurgia
14
60
428.810
Mineração - Metálicos
5
106
246.648
Outros
44
61
953.116

Papel e Celulose



9


74


257.637


Químico


22


59


1.029.730

Siderurgia



12

55


4.888.238

Têxtil
12
103
325.380
Fonte: CNI 2010


A pesquisa do CNI constatou que os setores industriais nos quais foram feitos os maiores investimentos, foram:

Áreas de investimento e economia de eletricidade
Área     Custo médio de energia conservada (R$/MW/h)
Cogeração/Recuperação de calor                                113
Ar comprimido                                                               108
Inversor                                                                           96
Fornos/Caldeiras/Estufas                                                95
Iluminação                                                                       89
Correção de fator de potência                                         72
Motor                                                                               63
Refrig. frigorífica                                                              53
Bombas                                                                           47
Gerenciamento/Automação                                            39
Fonte: CNI 2010

A partir destes dados é possível determinar um tendência de investimentos futuros, seja por região, ramo industrial e setor industrial. No entanto, um efetivo desenvolvimento do setor só deverá ocorrer quando a economia voltar a crescer, aumentando a demanda por produtos e serviços. Nesse ínterim, no entanto, existem empresas que estão modernizando parte de seu processo de produção, a fim de estarem preparadas para retomada da economia. Esta substituição ou atualização de equipamentos e processos muitas vezes traz tecnologia energeticamente mais eficiente.


Apesar das iniciativas das associações de classe (CNI, SENAI, entre outros), de órgãos do governo (ANEEL, EPE) e da ABESCO (associação que representa as empresas de engenharia e consultoria que atuam na área da eficiência energética), ainda há muito por fazer para que o setor deslanche. Uma das maiores barreiras, no entanto, é a mentalidade que continua presente na maior parte do governo e do setor privado, de que para crescer o país precisa aumentar o consumo de eletricidade e outras energias. Enquanto isso, economias altamente industrializadas como as do Japão e da Alemanha, seguem reduzindo o consumo de energia por unidade produzida.
(Imagens: fotografias de portas em Iguape, SP por Ricardo E. Rose) 

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