"A substância de que é feito o mundo se simplificou drasticamente nos últimos anos. O mundo, as partículas, a energia, o espaço e o tempo, tudo isso é apenas a manifestação de um único tipo de entidade: os campos quânticos covariantes." - Carlo Rovelli - A realidade não é o que parece
O Brasil não dispõe de dados
recentes sobre investimentos realizados em eficiência energética. Uma das
dificuldades é o fato de que muitas vezes tomam-se medidas que reduzem o
consumo de energia - troca de lâmpadas e de motores elétricos, por exemplo -
sem que estas providências sejam classificas especificamente como sendo ações de eficiência energética. As iniciativas muitas vezes são pontuais, não
refletindo uma real preocupação em, de uma maneira planejada e constante,
reduzir o consumo de energia do empreendimento ou imóvel.
Apesar de já existir
informação suficiente disponível e do tema ser bastante atual, ainda mais em
tempos de crise econômica quando as empresas precisam reduzir os seus custos,
ainda são poucas as iniciativas planejadas de redução do consumo de energia.
Alguns fatores, segundo os próprios empresários contribuem para o reduzido
número de iniciativas nesta área:
a) Instabilidade econômica,
com redução de consumo, dificulta o planejamento de um orçamento para
investimentos, incluindo projetos de redução de consumo de energia;
b) A relativa elasticidade
dos preços, mais acentuada em períodos de inflação, permite com que todos os
custos sejam incorporados ao preço do produto e do serviço. Assim, eventuais
aumentos nas contas de energia, gás e óleo, são incluídos na planilha de
custo de produção do produto ou execução do serviço;
c) A falta de uma efetiva
competição na maioria dos mercados da economia brasileira. Por um lado, existem
mercados oligopolizados, onde os poucos concorrentes não aumentarão sua
participação no mercado reduzindo custos de energia. Nos mercados não
oligopolizados, a diferenciação por marca, qualidade, disponibilidade de outros
concorrentes (regionais ou nacionais), faz com que uma pequena redução dos
custos de produção não faça diferença.
Em suma, em segmentos onde
os custos de energia não representam um componente importante do produto ou
serviço, a eficiência energética ainda não é prioridade no planejamento
estratégico das empresas.
Não é por outra razão, que a
elaboração de um projeto específico para reduzir o consumo de energia ainda é
bastante desconhecido e pouco implantado, fora do âmbito das grandes empresas ou
empresas cujos processos são eletrointensivos. Na situação atual, projetos de
eficiência energética podem incluir, por exemplo:
- A compra e distribuição de
geladeiras de baixo consumo de energia, feita pelas companhias de distribuição
de energia, para pessoas de baixo poder aquisitivo. Estas empresas são obrigadas
por lei a destinarem 0,25% de seu faturamento a projetos de eficiência
energética;
- A implantação de placas de
energia solar térmica, para aquecimento de água usada em processos de produção
industrial;
- A colocação de painéis de
energia solar fotovoltaica para gerar excedente de energia em industrias;
- Projetos de iluminação
pública com diodos LED, parcialmente financiados pelo Banco Mundial e
implementados em médias e pequenas cidades brasileiras; entre outros.
Os dados sobre
investimentos específicos em eficiência energética mais recentes que
identificamos, foram elaborados pela Confederação Nacional da Indústria e datam
de 2010. O potencial total de economia no setor industrial é de 17.271 GWh, o
que representa uma economia de cerca de R$ 4 bilhões (ABESCO, 2014). Abaixo dados
elaborados pela Confederação Nacional da Indústria, contendo os investimentos
em eficiência energética por região brasileira.
Região
|
Projetos
|
Demanda evitada
kW
|
Energia economizada
(GWh/ano)
|
Investimento
(1.000 R$)
|
|
Sul
|
45
|
4.681
|
26
|
6.355
|
|
Sudeste
|
141
|
67.598
|
367
|
107.598
|
|
Nordeste
|
17
|
12.002
|
103
|
16.681
|
|
Centro-Oeste
|
8
|
2.006
|
126
|
29.358
|
|
Norte
|
6
|
687
|
2
|
1.038
|
|
Total
|
217
|
86.975
|
626
|
161.000
|
|
Segundo o mesmo
levantamento, os setores industrias em que até o momento foram feitos os
maiores investimentos em eficiência energética são os que constam da tabela
abaixo.
Segmento
|
Projetos
|
Custo
de energia conservada
(R$/MWh)
|
Custo
médio por projeto
(R$)
|
Alimentos
e bebidas
|
35
|
73
|
361.158
|
Automotivo
|
9
|
109
|
633.365
|
Cerâmico
|
28
|
151
|
50.781
|
Couro
|
9
|
89
|
123.413
|
Fundição
|
12
|
319
|
46.657
|
Metalurgia
|
14
|
60
|
428.810
|
Mineração
- Metálicos
|
5
|
106
|
246.648
|
Outros
|
44
|
61
|
953.116
|
Papel
e Celulose
|
9
|
74
|
257.637
|
Químico
|
22
|
59
|
1.029.730
|
Siderurgia
|
12
|
55
|
4.888.238
|
Têxtil
|
12
|
103
|
325.380
|
Fonte: CNI 2010
A pesquisa do CNI constatou que os setores industriais
nos quais foram feitos os maiores investimentos, foram:
Áreas de investimento
e economia de eletricidade
|
Área Custo
médio de energia conservada (R$/MW/h)
|
Cogeração/Recuperação
de calor 113
|
Ar
comprimido 108
|
Inversor 96
|
Fornos/Caldeiras/Estufas 95
|
Iluminação 89
|
Correção
de fator de potência 72
|
Motor 63
|
Refrig. frigorífica 53
|
Bombas 47
|
Gerenciamento/Automação 39
|
Fonte: CNI 2010
A partir destes dados é
possível determinar um tendência de investimentos futuros, seja por região,
ramo industrial e setor industrial. No entanto, um efetivo desenvolvimento do
setor só deverá ocorrer quando a economia voltar a crescer, aumentando a demanda
por produtos e serviços. Nesse ínterim, no entanto, existem empresas que estão
modernizando parte de seu processo de produção, a fim de estarem preparadas
para retomada da economia. Esta substituição ou atualização de equipamentos e
processos muitas vezes traz tecnologia energeticamente mais eficiente.
Apesar das iniciativas das
associações de classe (CNI, SENAI, entre outros), de órgãos do governo (ANEEL,
EPE) e da ABESCO (associação que representa as empresas de engenharia e
consultoria que atuam na área da eficiência energética), ainda há muito por
fazer para que o setor deslanche. Uma das maiores barreiras, no entanto, é a
mentalidade que continua presente na maior parte do governo e do setor privado,
de que para crescer o país precisa aumentar o consumo de eletricidade e outras
energias. Enquanto isso, economias altamente industrializadas como as do Japão
e da Alemanha, seguem reduzindo o consumo de energia por unidade produzida.
(Imagens: fotografias de portas em Iguape, SP por Ricardo E. Rose)
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