(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)
Antonio Carlos Rocha Villaça
ou Antonio Carlos Villaça (1928-2005) foi escritor, jornalista, conferencista e
tradutor. No Rio de Janeiro, onde nasceu, cursou dois anos de Direito, não terminando
o curso. Atraído pela vida religiosa ingressou na ordem beneditina, na qual
travaria contato com a literatura e o estudo da história. Decide então se
transferir para um mosteiro dominicano em São Paulo, onde inicia estudos de
filosofia. Em 1954 abandona o claustro para voltar ao Rio de Janeiro e
dedicar-se ao jornalismo, escrevendo para os grandes jornais da época. No
Jornal do Brasil mantêm uma coluna diária sobre temas religiosos entre 1958 e
1961.
Conferencista, Villaça
viajou por todo o país e pelo exterior, entrevistando personalidades famosas do
mundo da cultura. Em 1966 muda para a Europa, onde vive um período em Portugal,
Suíça e na França, travando contato com intelectuais e artistas. De volta ao
Rio de Janeiro, retoma a atividade jornalística e lança sua mais famosa obra,
"O Nariz do Morto" (1970). A obra memorialística foi bem acolhida
pela crítica, colocando Villaça junto aos grandes memorialistas brasileiros,
como Joaquim Nabuco, Gilberto Amado e Pedro Nava. Mesmo não tendo permanecido
na vida religiosa, Villaça foi um importante expoente do pensamento católico
brasileiro, tendo escrito "História da Questão Religiosa" (1974) e
"O Pensamento Católico no Brasil" (1975).
De 1975 a 1983 Villaça foi
membro do Conselho Estadual de Cultura do Rio de Janeiro e em 1976 tornou-se
membro do PEN Clube do Brasil, do qual viria a tornar-se vice-presidente. Além
disso, Villaça foi cofundador e secretário geral da Academia Brasileira de
Filosofia. Dotado de estilo característico, Villaça foi grande memorialista,
além de ensaísta, poeta e historiador. Dotado de grande cultura e gigantesca
memória, Villaça foi amigo da maior parte dos intelectuais e figuras públicas
de seu tempo. Por sua atividade literária e jornalística, recebeu diversas
premiações no Brasil, em Portugal e na França. O escritor e jornalista Carlos
Heitor Cony dizia dele que "poucos escreveram tão bem, tão limpidamente e
tão profundamente".
Apesar do sucesso e de sua
obra e de suas palestras, Villaça sempre viveu modestamente e no final da vida
dependeu algumas vezes da ajuda de amigos e admiradores. Em relação a isso
escreveu o educador e escritor Gabriel Perissé: "Viveu modestamente e
modestamente se foi. Enfrentou com paciência monástica privações e
necessidades. Mas foi riquíssimo de amigos. Fez amizade com praticamente toda a
literatura brasileira do século XX". Além do "Nariz do Morto" e
os ensaios de história, Villaça nos deixou "O Anel" (1972), "O
Livro de Antonio" (1974), "Monsenhor" (1975), "A Descoberta
do Morro" (1983), "Degustação: Memórias" (1994), entre outros.
Abaixo, transcrevemos trechos de algumas obras do autor:
"Era excessivamente
tímido. Reservado. Assustava-se com a presença dos outros. Não recebia ninguém
em casa. Recebia no Ministério da Educação, naquela furna de armários de aço,
onde se isolava. Era muito sóbrio. Nada de efusões. Ria, como que encabulado. E
foi por dez anos chefe de gabinete do ministro Gustavo Capanema, de longe nosso
maior ministro da Educação. Tinha carro oficial. Eram os dois únicos poetas que
tinham carro. Schmidt, porque já era rico." ("Drummond - de Itabira a
Copacabana" em "Diário de Faxinal do Céu")
"Escrever é para mim
libertar-me. A literatura é uma forma de libertação. Sendo, como é, uma forma
de conhecimento e de comunicação ou comunhão. Quando escrevo, busco vencer o
tempo e a morte. Busco vencer a solidão. Busco ser amado pelos outros. Nada me
seduz mais que a ilusão de que muitos anos depois de minha morte alguém me
amará por causa do que escrevi. Enfim, escrever é um ato de vaidade. É a
certeza de que somos diferentes, e queremos testemunhar esta diferença.
Escrever é algo tão secreto, tão misterioso, como o ato de amar. Eu sei
precisamente por que escrevo. Escrevo porque escrever é em mim uma forma de
viver. Nenhum escritor vive a vida. Todo escritor é um fingidor. Escrever é a
forma que tenho de afirmar-me diante de uma vida que sou incapaz de viver.
Literatura e incapacidade de viver são em mim uma mesma realidade. Não se trata
de uma ilusão. Trata-se de uma paixão. Arte é loucura. Thomas Mann dizia que os
escritores são seres malditos. Literatura é maldição." ("À procura do
anel" em "O Livro de Antonio")
"A vida é tão estranha.
Não nos compreenderemos jamais precisamente. Não seremos jamais precisamente
compreendidos. Haverá sempre mais ou menos em tudo. Nossa palavra estará sempre
aquém ou além da sensação. Diderot o sentiu melhor do que qualquer outro."
("O anel")
"Que é a vida senão a
descoberta? Que é a vida senão o espanto? Que é a vida senão o amor? Que é o
homem senão a palavra? Que é o tempo senão a poesia? Que é a poesia senão a
infância? Que é a palavra senão o silêncio? Que é a vida senão a morte? Que é a
morte senão o nada?" ("O anel")
(Imagem: fotografia de Antonio Carlos Villaça)
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