Notas rápidas (homenagem a G. C. Lichtenberg)

quarta-feira, 25 de julho de 2018


Parcela do todo

Nossa mais sofisticada maneira de olhar o universo é a ciência.

A ciência, no entanto, é baseada em nossas percepções; não é a realidade em si. Isto por dois motivos. Primeiro, porque todos os instrumentos da ciência são baseados na nossa maneira de ver a natureza, o universo. Nossos telescópios, microscópios, aparelhos de comunicação, ferramentas; tudo foi desenvolvido baseado na maneira como vemos e também agimos no mundo, dada a forma de nossa anatomia.

Segundo, sabemos através da nossa ciência que nossa maneira de experimentar, de ver o mundo, não é absoluta; é especificamente humana. As outras espécies, com diversas variações, não enxergam, degustam, tateiam, escutam o mundo como nós.

Assim, parodiando o filósofo Heráclito de Éfeso do século V AEC, podemos dizer que se os animais tivessem um ciência – e uma tecnologia, talvez como consequência – interpretariam e agiriam no mundo de acordo com suas percepções. Haveria, talvez, uma civilização tecnológica da formiga, ou talvez dos golfinhos...

Essa ideia é muito bonita. Permite imaginar que não somos as mais importantes criaturas da Terra – ou talvez do universo. Desenvolvemos o que chamamos de "mente" por um acidente da evolução, mas podemos e devemos pensar que somos apenas uma pequena parcela do todo, junto com as outras criaturas vivas (e, talvez, até com o resto).

(Imagem: gravura representando G. C. LIchtenberg)


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