Jorge de Lima

sábado, 13 de outubro de 2018

(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)

Jorge Lima (1893-1953), nascido em Alagoas, era médico, político, professor, escritor e poeta. Iniciou seus estudos e sua atividade literária em Salvador, mudando-se em 1911 para o Rio de Janeiro, onde se forma em medicina e amplia seus contatos com a intelectualidade local. Retorna a Alagoas onde atua durante certo período como professor e é eleito deputado estadual. Na década de 1930 volta para o Rio de Janeiro, dedicando-se então à medicina, à literatura e à política até sua morte.

Em 1935 Jorge Lima se converte ao catolicismo, lançando o livro de poesias "Tempo e eternidade" em parceria com o poeta também recém converso Murilo Mendes. Por essa época Jorge Lima também se dedica às artes plásticas, lançando o primeiro álbum brasileiro de fotomontagens, "A pintura em pânico", com fortes influências do surrealismo.

Jorge Lima também foi prosador, tendo escrito "O Anjo" (1934), "Calunga" (1935), "A mulher obscura" (1939) e "Guerra dentro do Beco" (1950). Todavia, ficou mais conhecido como poeta, autor de "Poemas" (1927), "Essa nega fulô" (1928), "Túnica inconsútil" (1938), "As ilhas" (1952) e "Invenção de Orfeu" (1952), sua obra mais conhecida. Neste Lima  combina elementos de sua fé católica, o elemento onírico e diversas referências que remetem ao surrealismo. O poema é, segundo o próprio autor, uma epopeia moderna. Apresenta diversas técnicas; sonetos, canções, baladas, poemas épicos e líricos, enfim, um variado leque de metros, ritmos e estrofações. Do longo e tematicamente complexo poema, destacamos dois versos do Canto Primeiro (Invenção de Orfeu, Rio de Janeiro, Ediouro, s/d):

"Vamos nos consolar nos coletivos,
sentar juntos, beber nossos orvalhos,
olhar mansas coxilhas, nos coçar,
gozar praias amenas, filas, bondes,
nomearmo-nos chefes-de-seções,
conseguir sinecuras, nossos índios.

Vossos índios ocultos, ranchos deles,
tecendo teias sobre vossos olhos,
e no pino do dia o calorão,
a tristeza do sol dormindo esperta,
tudo largado aí com os nossos índios,
com o pino do meidia, com as sezões."

(Imagem: fotografia de Jorge de Lima)

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