(publicado originalmente na página da Academia Peruibense de Letras no Facebook)
Jorge Lima (1893-1953),
nascido em Alagoas, era médico, político, professor, escritor e poeta. Iniciou
seus estudos e sua atividade literária em Salvador, mudando-se em 1911 para o
Rio de Janeiro, onde se forma em medicina e amplia seus contatos com a
intelectualidade local. Retorna a Alagoas onde atua durante certo período como
professor e é eleito deputado estadual. Na década de 1930 volta para o Rio de
Janeiro, dedicando-se então à medicina, à literatura e à política até sua morte.
Em 1935 Jorge Lima se
converte ao catolicismo, lançando o livro de poesias "Tempo e
eternidade" em parceria com o poeta também recém converso Murilo Mendes.
Por essa época Jorge Lima também se dedica às artes plásticas, lançando o
primeiro álbum brasileiro de fotomontagens, "A pintura em pânico",
com fortes influências do surrealismo.
Jorge Lima também foi
prosador, tendo escrito "O Anjo" (1934), "Calunga" (1935),
"A mulher obscura" (1939) e "Guerra dentro do Beco" (1950).
Todavia, ficou mais conhecido como poeta, autor de "Poemas" (1927),
"Essa nega fulô" (1928), "Túnica inconsútil" (1938),
"As ilhas" (1952) e "Invenção de Orfeu" (1952), sua obra
mais conhecida. Neste Lima combina
elementos de sua fé católica, o elemento onírico e diversas referências que
remetem ao surrealismo. O poema é, segundo o próprio autor, uma epopeia
moderna. Apresenta diversas técnicas; sonetos, canções, baladas, poemas épicos
e líricos, enfim, um variado leque de metros, ritmos e estrofações. Do longo e
tematicamente complexo poema, destacamos dois versos do Canto Primeiro
(Invenção de Orfeu, Rio de Janeiro, Ediouro, s/d):
"Vamos
nos consolar nos coletivos,
sentar
juntos, beber nossos orvalhos,
olhar
mansas coxilhas, nos coçar,
gozar
praias amenas, filas, bondes,
nomearmo-nos
chefes-de-seções,
conseguir
sinecuras, nossos índios.
Vossos
índios ocultos, ranchos deles,
tecendo
teias sobre vossos olhos,
e no
pino do dia o calorão,
a
tristeza do sol dormindo esperta,
tudo
largado aí com os nossos índios,
com
o pino do meidia, com as sezões."
(Imagem: fotografia de Jorge de Lima)
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