Apontamentos
sobre a condição antropocêntrica
A compreensão do homem está limitada à sua condição
antropocêntrica. Não pode ter uma percepção além disso, já que é uma espécie
viva entre outras. Suas ciências são baseadas em suas percepções; tanto as
ciências humanas, quanto as exatas. Sua concepção do Universo é imprecisa e, em
última instância, limitada porque humana. Conhecemos nossa limitação, mas
desconhecemos o que não sabemos.
As religiões e outras crenças humanas como a ética, a política e o
direito são criações que, mesmo tendo alguma base evolutiva (porque os nossos
antepassados mamíferos e símios já têm certas noções equivalentes), dizem
apenas respeito a nós, humanos. Não valem para o universo não humano.
Nossos conceitos de Deus, por mais afastados do antropomorfismo
que sejam, são conceitos humanos. Mesmo as noções mais abstratas, como as de
Espinoza, Meister Eckhart, do hinduísmo e budismo, entre outros, permanecem
ligados ao antropomorfismo.
Sendo assim, vale lembrar que apesar de tudo que pensamos saber,
nunca teremos certeza de nada. Teremos aquelas certezas básicas - eu estou
aqui, estou vivo e pensando, e em pouco tempo vou almoçar. Muitas outras coisas
permanecem obscuras e sem fundamentação. Portanto, não há grandes verdades a
descobrir ou a alcançar; não há grandes heroísmos ou virtuosismos (no aspecto
da ética).
Permanecemos assim em nossa vida do dia a dia, sabendo que os
ídolos (no sentido baconiano) da Verdade, do Bem, da Virtude, da Divindade, da
Alma, das boas ações, da melhoria do mundo; tudo isso não tem fundamento absoluto.
Lembremos aqui dos antigos céticos. Não há nada a procurar ou alcançar -
esperando encontrar conhecimentos definitivos. Tentar apenas, como os céticos,
conduzir a vida do dia a dia na sociedade e cultura em que se vive. O que resta é a vida do dia a dia, sem objetivos, valores e
crenças supremos. Uma vida comum que vai se vivendo. E é isto a vida.
Resta ainda - mesmo com todas as construções humanas - o problema
da morte e da dor. Aquilo que nos une a todos os outros organismos, mesmo os
mais primitivos. Quanto a estes aspectos continuamos sendo totalmente animais,
mesmo que teorizemos sobre o universo, um além, e que tenhamos meios de diminuir
a dor através da medicina.
A "vontade" de Schopenhauer e a "vontade de
poder" de Nietzsche. Ambas têm fundamento em impulsos de vida e de
domínio. Estes impulsos têm origem nos primórdios do mundo animado e podem ir
além, desde a organização da matéria (matéria - vida - pensamento). Não deve
haver nenhuma teleologia por trás deste processo; apenas uma "força",
"lei", "estrutura", que está por trás das coisas. A partir
disso, talvez, seja possível explicar-se algo sobre o Universo e toda a vida - inclusive a
humana.
Todas as estruturas e criaturas seriam, em última instância, um
resultado da ação deste princípio. Mas este princípio não seria consciente
(Deus). Não se deve cair novamente em um antropomorfismo e em um infantilismo
para explicar a estrutura de todo universo. Por outro lado, isto poderia ser
mais uma simples tentativa de explicar a realidade, e assim voltaremos aos
pontos acima.
(Imagem: gravura representando G. C. Lichtenberg)
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