Empreendorismo e recursos naturais

sábado, 10 de novembro de 2018
"Mas para quem clamar nesta espécie de solidão, nesta véspera de graves acontecimentos decisivos, não só para as elites brasileiras como para o próprio homem?"  -  Augusto Frederico Schmidt  -  Antologia de Prosa

Empresas em todo mundo estão realizando investimentos para diminuir o impacto ambiental de suas atividades. Há alguns anos, um grupo de investidores institucionais representando ativos de mais de 90 trilhões de dólares, solicitou às 5.500 maiores empresas públicas do mundo que divulgassem seus dados ambientais – uso de água, emissões de CO², utilização de recursos naturais, etc., – bem como suas ações para prevenir as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente. A iniciativa foi coordenada pela instituição internacional “Carbon Disclosure Project” (https://www.cdp.net/en/companies), atuando principalmente na redução das emissões que causam as mudanças do clima.

Como esta, são inúmeras as instituições e associações empresariais já bastante avançadas na discussão e implantação de ações que visem reduzir o impacto ambiental das atividades de seus associados. Programas deste tipo ocorrem principalmente na Europa, Japão e Estados Unidos, mas ainda são muito raros no Brasil, onde se limitam principalmente às grandes indústrias multinacionais, grandes empresas brasileiras e algumas poucas estatais.

Grande parte das empresas brasileiras, não importando o porte do negócio, ainda não tem uma visão estratégica da questão ambiental. Para a maioria dos empresários a preservação dos recursos naturais nem é cogitada ainda. E quando este tema entra em discussão, é somente para criticá-lo, referindo-se à sustentabilidade como apenas mais um empecilho, criado com o objetivo de dificultar ainda mais a vida do empreendedor e trazer receitas adicionais ao governo.

A culpa desta visão não é apenas do empreendedor. Precisamos considerar que muitos, talvez a maior parte dos chefes de empresas e daqueles que detêm posições de comando nos empreendimentos, têm falhas em sua formação profissional. A sua maioria, principalmente os pequenos empreendedores teve limitado acesso à educação formal, frequentando muitas vezes instituições de baixo nível de ensino, longe dos centros educacionalmente mais avançados. Mesmo aqueles que passaram mais anos nos bancos escolares, não receberam as informações que somente nos últimos anos passaram a fazer parte dos currículos de escolas e universidades. A questão ambiental, a ecologia e do uso mais eficiente dos recursos, são matérias que surgiram apenas há poucos anos nas escolas e nos cursos superiores.


Este é um dos fatores pelos quais em grande parte dos empreendimentos no Brasil – extração, agricultura, indústria e comércio – a questão da sustentabilidade ainda não é encarada como fator importante no dia a dia dos negócios. Isto também ocorre porque os próprios consumidores ainda estão mal informados sobre o assunto, enquanto órgãos controladores são poucos e, muitas vezes mal preparados. No entanto, à proporção que aumentar o nível de conscientização ambiental da população, com a ajuda das instituições de ensino, das ONGs, da imprensa e das mídias sociais, crescerá também o grau de cobrança em relação a produtores e comerciantes. Esta fiscalização e pressão exercida pela sociedade civil, certamente forçará o governo – Legislativo e Executivo – a criar leis e mecanismos de controle ambiental mais eficientes e contundentes.

Informações estão disponíveis desde já, mostrando que a proteção dos recursos não é um empecilho para o exercício do empreendedorismo, como tantas vezes empresários mal intencionados e até burocratas do governo declaram, ao contrário. O que os empreendedores esclarecidos já perceberam é que sem a preservação dos recursos naturais estes se acabam, logo depois dos últimos empresários terem desaparecido.  

(Imagens: fotografias de Pierre Verger)

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