"Provavelmente não era coincidência que centros de filosofia natural grega como Alexandria, Mileto e Atenas fossem também centros comerciais. Um mercado movimentado reúne indivíduos de diversas cultura e alivia a monotonia da agricultura." - Steven Weinberg - Para explicar o mundo - A descoberta da ciência moderna"
Há poucas áreas verdes nos balneários
e bairros das cidades do litoral Sul do estado de São Paulo. A falta de
planejamento, quando da abertura dos loteamentos, fez com que atualmente
extensas áreas urbanizadas não disponham de locais arborizados. Durante o
verão, nos meses de forte insolação e calor, a população local e os veranistas ficam
limitados a tomarem sol na praia ou voltarem às suas residências e hotéis. São
raros os locais onde o morador ou o turista possam ficar ao ar livre, descansando
à sombra de árvores.
A legislação municipal que
exigia a destinação de um percentual da área do loteamento à criação de praças
ou bosques não era suficientemente clara, podendo ser burlada. Assim,
imobiliárias e incorporadoras tiveram campo livre para destinar o máximo da
área do terreno à criação de lotes, sem incluir área verde no projeto. O problema aparece em todos os loteamentos
criados na região entre os anos 1960 a 1990; as exceções são apenas os poucos
condomínio de alto padrão.
O resultado é que no verão
os bairros mais afastados da orla marítima apresentam temperaturas mais altas do
que aqueles situados perto da brisa oceânica. Em balneários onde foram
construídos edifícios, a entrada do vento vindo do mar é barrada e também
ocorre aumento da temperatura. Toda esta situação é agravada ainda mais pelo
fato de que em muitos bairros das cidades da região a população não tem o
costume de plantar árvores em frente de suas casas. Sem as sombras
proporcionadas pela vegetação agrava-se ainda mais a situação de calor e a
falta de refrigeração do ar nestas áreas.
Outro fato que ocorre na
região é o surgimento dos loteamentos clandestinos e de invasões de áreas de
proteção ambiental. É na zona intermediária, entre a periferia das cidades e o
início da área sob proteção - geralmente região de Mata Atlântica ou de mangues
- que se dá a ocupação irregular, com a consequente derrubada da floresta e
aterramento do mangue. O fato aparentemente não é percebido pelas autoridades,
se é que não é tolerado. Alguns dos invasores já possuem imóveis em outros
locais e assim que conseguem tomar posse de um lote, vendem-no a outros
interessados. São os chamados "invasores profissionais"; figuras já
bastante conhecidas nos movimentos de ocupação de áreas.
A questão da ocupação e
expansão urbana na região do litoral Sul de São Paulo ainda espera por estudos
mais aprofundados. Pesquisas preveem um aumento da população fixa e crescimento
do turismo. Com isso, a região deverá gerar um volume maior de resíduos
domésticos, de efluentes e precisará de mais rodovias de acesso. Vale lembrar,
no entanto, que grande parte dos municípios ainda não possui aterros sanitários
- o lixo é transportado para um aterro em Mauá -, e que a coleta e tratamento
de esgotos existe a pouco mais de dez anos. As estradas ainda são insuficientes
para escoar o grande número de veículos que transitam na região durante as
férias de verão. A preservação da Mata Atlântica e a garantia do fornecimento
de água potável para a região, por exemplo, são temas relacionados, já que a
água vem das nascentes situadas na floresta.
Enfim, é necessário planejar
a evolução para um turismo mais sustentável, que além de trazer recursos não
comprometa as riquezas naturais ainda existentes no bioma da floresta, dos
mangues e das restingas da região.
(Imagens: pinturas de Natalia Goncharova)
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