"Abandonar os fatos é abandonar a liberdade. Se nada for verdadeiro, ninguém poderá criticar o poder, porque não haverá uma base para fazê-lo. Se nada for verdadeiro, tudo é espetáculo. A carteira mais recheada garante a pirotecnia mais ofuscante." - Timothy Snyder - Sobre a tirania
A
crise dos mercados mundiais iniciada em 2008, fez com que o meio ambiente
deixasse de ser um dos principais temas nas estratégias de empresas e governos de
todo o mundo. No Brasil, a desaceleração econômica iniciada em 2014 provocou a
queda de investimentos no setor privado e a redução de recursos públicos;
fatores que contribuíram para que a questão ambiental quase desaparecesse das
agendas privadas e públicas.
A
questão ambiental avançou rapidamente nos países industrializados entre os anos
1980 e 1990. Criação de leis locais e acordos internacionais fizeram com que as
atividades de produção e distribuição de produtos se tornassem ambientalmente
mais seguras. Leis sobre gestão de resíduos e tratamento de efluentes; acordos
internacionais regulamentando o transportes de produtos perigosos; tratados
visando banir o uso de certos produtos (agrotóxicos e CFC); protocolos visando
proteger a biodiversidade, os oceanos e limitar as emissões de gases. Em 1987 publica-se
o Relatório Brundtland, conclamando países e empresas a adotarem o
desenvolvimento sustentado.
Ainda
nessa época as grandes empresas multinacionais, seguidas depois por seus
fornecedores, clientes e pelo mercado, principiaram por implantar sistemas de
gestão ambiental em suas instalações. O mercado de tecnologias ambientais se
desenvolvia, propiciando o aparecimento de várias empresas fabricantes de
equipamentos e fornecedoras de serviços nessa área. Surgem os sistemas
internacionalmente reconhecidos de certificação ambiental (EMAS, Série
ISO14000), atestando produtos, serviços, instalações e processos.
No
início dos anos 2000, somam-se à questão ambiental os temas sociais.
Preocupações com a qualidade de vida, os direitos individuais, a educação e
saúde, entre outros, entraram nas agendas das grandes corporações e, como
consequência, em amplos segmentos da sociedade. Nos grandes grupos econômicos –
indústrias, bancos, varejistas e consultorias – já não se falava mais em meio
ambiente, mas na “questão socioambiental” e na “responsabilidade social
corporativa (RSC)”. Grandes empresas tinham departamentos especializados, que
além de se ocuparem dos aspectos ambientais ligados às atividades empresariais,
também geriam ou financiavam projetos socioeducativos. Foi um período em que,
tanto no Brasil como no exterior, o mundo empresarial parecia estar caminhando
rumo a um futuro de melhor convivência com o meio ambiente e de mais
preocupação com os problemas sociais dos países e regiões onde estava
estabelecido. Empresas, consultorias e agências de propaganda, utilizam
frequentemente em suas comunicações a expressão americana “triple bottom line”,
o tripé da sustentabilidade: o social, o ambiental e o financeiro; conceitos considerados
imprescindíveis na estratégia de uma empresa moderna.
Mas,
em 2008 veio a crise do sistema financeiro americano, afetando toda a economia
mundial. Falências, milhões de desempregados, queda no consumo; empresas e
estados em grave situação financeira. Com a crise veio a contenção de despesas,
tanto no setor privado quanto nos governos. Não haviam mais recursos que
permitissem atividades socioambientais. Tratava-se agora de cumprir a lei ambiental
e lutar pela sobrevivência do empreendimento. O mercado das atividades
socioambientais entrou em recessão e, principalmente no Brasil, não se
recuperou mais até agora.
(Imagens: pinturas de Holton Rower)
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