E agora, meio ambiente?

sábado, 15 de junho de 2019
"Perguntou-se ao senhor de Fontenelle moribundo: 'Como vai indo?', 'Não vou indo, estou indo embora.'"   -   Chamfort   -   Pensamentos, máximas e anedotas

Enquanto a juventude europeia e norte americana cobra ações de seus governos contra o aquecimento global e políticos de partidos ligados à causa ambiental passam a ocupar um número maior de cadeiras no Parlamento Europeu, no Brasil a causa ambiental sofre uma sucessão de retrocessos.

Não é de hoje que assistimos a uma crescente animosidade em relação a temas ambientais por parte do governo brasileiro. Assim, apesar dos vários acertos nesta área, Lula em seu governo, pressionado pelo setor empresarial, chegou a afirmar por diversas vezes que o licenciamento estaria atrapalhando o início de diversas obras de infraestrutura. Tais críticas acabaram por precipitar a saída da então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Já o primeiro governo Dilma foi para muitos ambientalistas “o pior da história para o meio ambiente”, como disse em entrevista à revista IHU Online, publicada em 20/01/2014, o geógrafo e diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani. Alteração do Código Florestal, ausência de criação de novas Unidades de Conservação (UC) e aumento do desmatamento na região amazônica, foram algumas das principais críticas ao governo Dilma.

O descaso em relação à proteção dos recursos naturais só aumentou no governo Temer. Começando com a tentativa de aprovar o Renca – projeto de mineração em áreas indígenas, felizmente não aprovado por causa de protestos no Brasil e no exterior –, a fragilização da legislação ambiental, a redução das áreas de Unidades de Conservação e a flexibilização do licenciamento ambiental; foram diversas as iniciativas rumo ao retrocesso. No entanto, como ponto positivo no governo Temer, cabe ressaltar a assinatura da ratificação do Acordo de Paris, pacto mundial de limitação das emissões de gases de efeito estufa.


Na área ambiental o governo de Jair Bolsonaro só vem acentuando a má atuação dos governos anteriores. A começar por declarações do próprio presidente, noticiadas antes da posse: planejava retirar o Brasil do Acordo de Paris. A saída do acordo climático traria a redução de recursos financeiros internacionais, utilizados internamente para implantação e manutenção de projetos ambientais de impacto social e econômico. Uma segunda hipótese é que ao deixar o Acordo, o Brasil poderia ser alvo de sanções econômicas por parte de países pertencentes ao pacto. Felizmente, tal saída não se concretizou, apesar da declaração do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que a “ideologia das mudanças climáticas” havia sido criada pela esquerda globalista.

Outra ideia de Bolsonaro, a de acabar com o Ministério do Meio Ambiente sujeitando-o ao ministério da Agricultura, gerou muitos protestos, fazendo com que o plano fosse abandonado. A indicação de Ricardo Salles, ex-secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo e condenado em primeira instância por fraude na elaboração de plano de manejo em uma Área de Proteção Ambiental em favor de empresas mineradoras, também não ajudou a melhorar a imagem do governo nesta área. Depois disso foram promulgadas uma série de medidas e decretos, que começaram a minar o ministério de Meio Ambiente, limitando sua capacidade de atuação. Com tudo isso, aumentam exponencialmente os índices de desmatamento na região amazônica; saneamento e gestão de resíduos urbanos não avançam; cresce o uso de agrotóxicos. A situação é muito grave.

(Imagens: Isaac Levitan)

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