"Como marinheiro que tem padecido tantos naufrágios, sei que nunca estes estão mais certos que quando menos se teme a tempestade." - Padre Antonio Vieira - Carta a d. Teodósio de Melo, Vila Franca, 20 de agosto de 1665
1. Origens
Das 26 capitais de estado brasileiras, 17 localizam-se à beira mar ou em zona de influência direta do oceano. Nos cerca de 9.000 quilômetros de extensão da costa brasileira, localizam-se 273 municípios, o que faz com que cerca de 60% da população brasileira (126 milhões) vivam na borda do oceano Atlântico ou em sua proximidade. Por diversa razões históricas e geográficas, as atividades econômicas do país ainda são bastante concentradas em uma estreita faixa de terra, que dista apenas algumas centenas de quilômetros do mar.
A única larga colonização do país feita a partir do interior
ocorreu cerca de 400 anos antes da chegada de Cabral, quando grupos de
indígenas das etnias tupi e guarani se deslocaram do interior para a costa, do
sul do país em direção ao norte. No entanto, desde a chegada dos primeiros
europeus, toda a ocupação do vasto território brasileiro se daria a partir da
grande estrada marítima; o oceano Atlântico. Excetuando a contribuição
indígena, quase toda a população e cultura brasileira – incluindo tecnologias,
leis, religiões e costumes – chegaram ao país através do mar.
Somos
uma sociedade que sempre teve e ainda tem uma estreita ligação com o mar. Nos
últimos cinquenta anos, com o avanço em todo o mundo dos estudos sobre o clima
e os oceanos, aprendemos que esta relação é muito mais próxima do que se
imaginava. Nas últimas décadas do século XX, a humanidade se deu conta de que
sua dependência destes dois fatores é muito maior do que a ciência (e o senso comum)
supunha no passado.
2. Descoberta / Críticas
Ao longo dos séculos XIX e XX gerações de cientistas trabalharam no desenvolvimento de uma teoria que explicasse a variação de temperatura do planeta, por influência da concentração de gases – principalmente dióxido de Carbono (CO²) e vapor d’água – na atmosfera terrestre. O fundamento da teoria previa que diversos fatores astronômicos (ciclos solares, variação orbital da Terra, queda de meteoros), marítimos (fenômenos El Niño e La Ninã de alteração da temperatura do oceano Pacífico) e geológicos (deriva continental e vulcanismo) poderiam contribuir para alterar a temperatura da atmosfera. Explicava-se assim, de certa maneira, os diversos avanços e recuos das glaciações ao longo dos últimos 2,4 bilhões de anos – com cerca de 25 períodos glaciais somente nos últimos 2,7 milhões de anos. As glaciações provocavam o congelamento de grandes volumes de águas marinhas, o que causava um recuo no nível dos oceanos em períodos de congelamento e um avanço das águas em períodos interglaciais, fenômeno que vem ocorrendo no planeta nos últimos 10 mil anos.
Nas
últimas décadas do século XX, cientistas de diversas áreas de estudo fizeram
comparações entre um grande volume de dados relativos ao clima da Terra. Foram
reunidos extensos registros sobre a variação da temperatura da atmosfera e dos
oceanos ao longo de centenas de anos; colheram-se amostras de gelo das geleiras e camadas
de solo do fundo de lagos. O principal objetivo dos estudos era associar a
variação da temperatura da Terra com a presença de gases de efeito estufa na
atmosfera do planeta no passado – detectados em pequenas bolhas de ar presas no
gelo – e seu efeito sobre as plantas, através da presença de maior ou menor quantidade
de pólen acumulado no lodo lacustre. Depois destas e de diversas outras
análises, a maior parte dos cientistas envolvida no assunto, concluiu que
mesmo tendo origens naturais, as mudanças do clima estão sendo fortemente
influenciadas pelas atividades humanas.
(CONTINUA)
(Imagens: pinturas de Charles Alston)
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