"A História será sempre uma grande Fantasia." - Eça de Queiróz - Correspondência
Cerca
de 85% da população brasileira (178 milhões) vivem em cidades que em seu
conjunto (5.570 municípios) ocupam menos de 1% do território nacional. A maior
parte das cidades brasileiras, cerca de 5 mil, é constituída por núcleos
urbanos de pequeno porte, com menos de 50 mil habitantes. As cidades
pequenas-médias, com população variando entre 50 e 100 mil habitantes,
representam cerca de 300 municípios. A maior parte dos habitantes do país, cerca
de 60% da população urbana, habita as 270 cidades com mais de 100 mil
habitantes.
São,
portanto, as pequenas e as pequenas-médias cidades, que constituem a maior
parte dos municípios do Brasil. Todas elas são dotadas de uma estrutura
administrativa – prefeitos, secretários e funcionários, com diversas funções
internas e externas. Há também a Câmara dos Vereadores, com sua própria
estrutura funcional, além de outras empresas e autarquias ligadas à
administração municipal. São órgãos administrativos que para funcionarem
demandam salários, equipamentos, serviços de manutenção, entre outros. Além de
precisarem custear as próprias estruturas, as prefeituras também têm como
principal função manter suas respectivas cidades em funcionamento. É para isso,
aliás, que existem as administrações municipais; e não para criar bem pagos empregos
para alguns cidadãos privilegiados.
No
entanto, a maior parte das prefeituras destas cidades não dispõe de recursos
para se manter. São tantas despesas para tão poucas receitas, que acabaram
minguando mais ainda depois do início da crise. Como é que as cidades de
pequeno porte estão conseguindo sobreviver à quase paralisação da economia que
já afeta o país há cinco anos? Como é possível manter os investimentos
necessários com menos arrecadação de impostos e redução ou cortes nos repasses
estaduais e federais?
A
situação é tão grave que entre 2016 e 2017 quase um quarto dos municípios do
país (24,7%) tiveram redução de população. Na maioria dos casos são jovens, que
não encontrando qualquer possibilidade de trabalho deixam suas cidades à
procura de uma chance nos municípios maiores ou nas capitais. Para os que ficam
nas cidades resta apenas se conformar com a situação, esperando melhoria da
situação econômica do país, já que suas administrações têm poucas condições de
tomar qualquer iniciativa. Sem indústrias, com fraca atividade agrícola, sem
atrações turísticas ou comércio, estes núcleos passam anos a fio aguardando um
lance de sorte, como a vinda de algum investidor, ou a melhoria geral da
economia.
A
maior parte dos municípios brasileiros não tem condições para custear suas
próprias despesas. A arrecadação mais os repasses estaduais e federais, na
maioria dos casos, não são suficientes para manter a sustentabilidade
financeira. Assim, enquanto cresce a população, os recursos permanecem
praticamente iguais ou, como agora na crise, até diminuem. Este é o grande
dilema da maior parte das pequenas e pequenas-médias cidade brasileiras.
Planos
de desenvolvimento baseados na vocação de cada município ou de um grupo deles,
poderiam criar sinergias para o desenvolvimento de certa região e suas cidades,
baseado em uma atividade econômica principal – turismo (ecológico, histórico),
indústria (tecelagem, cerâmica) comércio (artesanato), agricultura (frutas,
bebidas), etc. Os governos regionais poderiam ajudar nesta iniciativa,
oferecendo serviços de consultoria, treinamento e financiamento – recursos dos
quais a maioria dos municípios não dispõe – permitindo às cidades criarem novas
atividades econômicas, receitas e empregos.
Por
outro lado é necessário abandonar definitivamente a criação de novos
municípios. Segundo o estudo do geógrafo Dr. Antonio Adilar Cigolini Território e criação de municípios no
Brasil: uma abordagem histórico-geográfica sobre a compartimentação do espaço,
publicado em 2009, existiam no Brasil 3.974 municípios em 1980. Já em 2001,
este número se elevou para 5.563 governos locais. Assim, num curto espaço de
tempo o território brasileiro passou por um intenso processo de municipalização,
emancipando 40% dos municípios hoje existentes. A criação de novos municípios,
sem qualquer tipo de planejamento, sem possibilidade de serem social e
economicamente sustentáveis, não faz sentido.
(Imagens: pinturas de Neo Rauch)
1 comments:
Ótimas colocações sobre o cenário Brasileiro que só tende a piorar.
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