"Minha obra e a sua são extraordinariamente semelhantes, embora eu não faça a menor ideia sobre de que trata sua obra." - Woody Allen - Que loucura!
Todos
nós na vida já encontramos pessoas com grandes aptidões, indivíduos que
poderiam se tornar excepcionais em certas áreas, mas que com o tempo se
renderam à mediocridade e não desenvolveram seu potencial.
Esta
ideia de capacidades não exploradas se aplica tanto a seres humanos quanto a
instituições; tudo aquilo que tem capacidade de fazer algo mais de si mesmo ao
longo do tempo. Transformar seus aspectos positivos ainda pouco desenvolvidos
em algo maior, mais elaborado, valendo-se de potencialidades que lhe são
inerentes.
Trata-se,
porém, de um processo consciente, no qual o indivíduo ou a instituição – um
Estado, uma organização, uma empresa – estão na posição de poderem avaliar seu
estado atual, identificar suas potencialidades e elaborar maneiras de como ampliar,
desenvolver e/ou transformar a si mesmos ou a instituição – a qual, no final
das contas, é um agrupamento de indivíduos com os mesmos objetivos em relação
àquele assunto.
Podemos
traçar um paralelo aproximado entre este processo de transformação psíquica e
cultural pelo qual podem passar indivíduos e instituições (aqui incluindo todos
os aspectos da cultura; como sistemas de crenças, leis e normas, ciência e
tecnologia, etc.) e a evolução das espécies vivas, o neodarwinismo. Mas, bem
claro: trata-se de uma comparação aproximada, já que as mudanças psíquicas
(indivíduo) e culturais (instituições) ocorrem ao longo de um curto espaço de
tempo e se manifestam na pessoa e na instituição. Ao passo que a evolução dos
sistemas vivos se desenrola no decorrer de longos períodos de tempo e é quase
que imperceptível no indivíduo – talvez, eventualmente, a nível molecular e
genético.
São,
portanto, as pessoas e as instituições que podem usufruir de suas potencialidades
para desenvolverem suas aptidões (pessoas individuais) e aprimorarem sua
atuação (instituições, Estados, empresas, processos, etc.)
Este
curto preâmbulo pretende introduzir o tema das oportunidades de desenvolvimento
perdidas pelo Brasil, pela maneira como vimos atuando em relação a diversas
áreas. Para simplificar nossa abordagem, dividiremos estas áreas em três: a) o
agronegócio; b) a questão ambiental e c) o uso extensivo de energias
renováveis.
Sabemos
há muito de que o Brasil é o país com a mais extensa área agricultável em todo
o planeta. Rússia e Estados Unidos também dispõem de vastas planícies
agricultáveis, mas estes países têm como limitação um inverso rigoroso, que
impede totalmente a atividade agrícola. Além de área, desenvolvemos tecnologias
específicas para o cultivo em regiões tropicais e adaptadas aos nossos solos e climas.
Nossa agricultura é uma das mais produtivas em todo o mundo. Em apenas pouco
mais de 30 anos, de grande importador de produtos agrícolas, o Brasil se tornou
um dos maiores fornecedores mundiais de alimentos e insumos para outros setores
ligados à atividade agrícola.
Na
área ambiental, principalmente a partir de 1992 quando o Brasil organizou a
histórica Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
a ECO-92, no Rio de Janeiro, o país se tornou um dos maiores protagonistas
planetários, quando o assunto são os temas ambientais. Dispomos de uma das mais
ricas biodiversidades em nossos variados biomas, das mais extensas reservas de
floresta tropical que abrigam milhares (ou milhões) de espécies de fungos,
bactérias, plantas e animais ainda desconhecidos da ciência. Um valioso ativo
de espécies e substâncias com potencial para a medicina, a tecnologia e para o
próprio desenvolvimento do conhecimento.
São
poucos os países que possuem o potencial de desenvolvimento e uso de
tecnologias para energias renováveis como o Brasil. Não é por outra razão que
nosso parque eólico, por exemplo, foi um dos que mais cresceu nos últimos dez
anos. Apesar de toda a crise econômica, o setor da energia do vento é um dos
que mais se desenvolve a cada ano. Ventos e extensas áreas disponíveis para
instalação de parques eólicos são fatores preponderantes neste desenvolvimento.
Com um índice de insolação bastante alto em todo o país e preços de
equipamentos cada vez mais econômicos, vemos que a energia fotovoltaica também
começa a se desenvolver nos últimos cinco anos. Isto sem falar na energia
hidrelétrica já instalada e ainda suprindo mais de 50% de toda a eletricidade
consumida no país. Energia de biomassa e biogás também são setores de geração
renovável que tendem a crescer ao longo dos próximos anos.
O
ponto que defendemos é que todas estas atividades – agricultura, meio ambiente
e geração de energias renováveis têm muitos pontos em comum e carecem de uma
política com uma visão integradora. A floresta pode conviver com a agricultura
e com a criação de gado, os resíduos da agricultura podem servir de insumos
para a geração de energia renovável (biomassa). Há inúmeras possibilidades de
integração – que seja dada a palavra aos especialistas –, que não abordaremos
neste artigo por falta de suficiente conhecimento. No entanto, o que para todos
que estudaram seriamente o assunto fica claro, mesmo para aqueles que não são
especialistas, é que faltou e continua faltando aos governos brasileiros uma
visão sistêmica. Uma perspectiva a partir da qual será possível identificar
suas potencialidades, elaborar maneiras de como ampliar, desenvolver e/ou
transformar o setor como um todo.
Nesta
história toda o pior que pode acontecer ao Brasil é ter grandes aptidões e
oportunidades, mas com o tempo se render à mediocridade, não desenvolvendo seu potencial como nação devidamente inserida no mundo, com atividades econômicas sustentáveis.
(Imagens: pinturas chinesas do século XIX)
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