"Este é o melhor motivo para estudar história: não para poder predizer o futuro, e sim para se libertar do passado e imaginar destinos alternativos. É óbvio que não seria uma liberdade total - não há como evitar sermos moldados pelo passado -, mas alguma liberdade é melhor do que nenhuma." - Yuval Noah Harari - Homo Deus - Uma breve história do amanhã
Através
de minhas atividade profissionais venho acompanhando o setor de meio ambiente
há muitos anos. Iniciei minha carreira na área em 1992, ano da ECO 92,
realizada no Rio de Janeiro durante o governo Collor. Agora, depois de observar
a atuação de vários governos, pude tirar algumas lições do que foi o desenrolar
da questão ambiental no país ao longo desses anos.
Quando
falo em questão ambiental, refiro-me aos diversos aspectos de como a sociedade
brasileira vem se relacionando com o assunto. Por exemplo, como os altos e
baixos da economia têm influenciado a maneira de como fabricantes e
comerciantes, governos, órgãos públicos e consumidores têm se comportado em
relação ao meio ambiente e sua preservação? De que forma estes mesmos agentes
atuaram com referência à legislação ambiental, à modernização da tecnologia de
prevenção da poluição, em relação às ONGs, aos movimentos ambientalistas e clientes
exigentes quanto às práticas ambientalmente corretas? O quanto a sociedade
brasileira levou em conta os estudos e relatórios publicados por cientistas, reportando
sobre a degradação dos recursos naturais e da necessidade de se implantar novas
práticas em áreas como a mineração, a agropecuária, a agricultura, a gestão dos
resíduos urbanos e resíduos perigosos, o saneamento e o manejo das florestas e
outras áreas de proteção?
Em
termos gerais, levando-se em consideração o que mencionamos acima, pode-se
dizer que de uma maneira geral, tanto os governos quanto a sociedade civil
sempre foram entusiastas no que se refere à preservação do meio ambiente – pelo
menos em teoria. Empresários anunciavam planos de modernização de suas
fábricas, para economizar insumos e reduzir o impacto ambiental de suas
atividades. Administrações federais apresentavam recursos para implantação de
planos de saneamento e infraestrutura. Prefeituras elaboravam projetos de
gestão de resíduos, enquanto empresas privadas comunicavam futura criação de iniciativas
de reciclagem de materiais.
Na
prática, no entanto, as boas intenções derrapavam na falta de recursos
financeiros, conhecimentos técnicos, organização e dificuldades no atendimento da
legislação. Ou seja, parte do que estava planejado não era concretizado a tempo.
Mesmo assim, aos trancos e barrancos, o país avançava. Parte das grandes
diretrizes ambientais, como a redução do desmatamento, a manutenção e o aumento
das áreas de preservação, a implantação de energias renováveis, o aumento da
participação dos biocombustíveis na matriz energética, a criação de uma
política nacional de resíduos e outras iniciativas menores, estavam sendo
implantadas.
Por
essa determinação, o Brasil sempre foi um dos principais articuladores e
interlocutores dos grandes fóruns ambientais mundiais. Desde 1992 tínhamos um
importante papel, por dispormos de um grande estoque de riquezas naturais;
biodiversidade, recursos hídricos, solos férteis, extensa faixa litorânea,
diferentes biomas. E, mais importante, o Brasil transmitia a imagem de que,
apesar das dificuldades, o país – sociedade civil e governo – estavam
empenhados em atingir suas metas socioambientais e contribuir com o mundo em
ações de preservação e redução de emissões.
O atual
governo, no entanto, através das ações de seu ministro de Meio Ambiente,
Ricardo Salles, transmite uma imagem completamente diferente do país – como
mostrou em sua recente participação na COP 25, realizada em dezembro na
Espanha. No ministério promoveu corte de recursos (que já eram escassos) em
diversas áreas, exonerou funcionários, nomeou profissionais não ligados ao
setor, limitou e promoveu descontos em multas ambientais – para supostamente
combater o que chama de “indústria da multa”. Por seu posicionamento de
confronto, o país perdeu os recursos do Fundo Amazônia, que já captou mais de 3
bilhões de reais e financiava ações de preservação na região.
Um
dos principais resultados imediatos destas ações ministeriais, foi o aumento do
desmatamento da Amazônia em 30%, entre 2018 e 2019. Isto sem falar na demora no
combate ao derramamento de óleo em cerca de 900 praias nordestinas, acidente
cujo causador ainda permanece desconhecido. Tais fatos prejudicam a imagem
internacional do Brasil, fazendo com que perca seu lugar entre os grandes
protagonistas mundiais na área ambiental. Tornamo-nos um “anão” na questão
ambiental mundial. A má reputação na área da sustentabilidade poderá
comprometer outros setores da economia, como o agronegócio e a pecuária, o
turismo e os programas de cooperação internacional de pesquisa em
biodiversidade, mudanças climáticas e energias renováveis.
(Imagens: pinturas de Panayotis Tetsis)
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