História e cosmologia

sábado, 24 de abril de 2021

"A divisa geral da história deveria ser: Eadem, sed aliter - as mesmas coisas, mas de outra maneira." - Arthur Schopenhauer  -  O mundo como vontade e representação   


O que é a história? O senso comum refere-se a ela como sendo uma sequência de acontecimentos, ao longo de um determinado período de tempo. Fatos que levaram a outros, numa sequência que parece pressupor determinado objetivo, que denominamos “progresso”. Mas, existirá realmente algum tipo de aperfeiçoamento ao longo da história? Somos uma espécie cada vez melhor adaptada ao ambiente em que vivemos, materialmente e espiritualmente, considerando o desenvolvimento como uma crescente capacidade de sobreviver, como o entende a moderna teoria da evolução das espécies?

A ideia de mudança das condições materiais e culturais, o chamado progresso, é relativamente recente na cultura. Falamos aqui exclusivamente no âmbito da tradição ocidental, já que o conhecimento que temos da história das ideias de outras culturas como a chinesa, a indiana ou a africana ainda é bastante limitado. Assim, o conceito de progresso, a noção de que as sociedades mudam em seus aspectos tecnológicos, culturais, religiosos, morais, etc., aparece nitidamente no século XVIII, no ambiente cultural que se convencionou chamar de Iluminismo. O mercantilismo europeu e o começo da revolução industrial na Inglaterra, associados ao início de um processo de globalização, proporcionaram aos intelectuais iluministas um conhecimento mais amplo da cultura e da história de outros povos. A estudo de suas línguas, tradições religiosas e de sua história política, contribuiu para que os eruditos europeus desse período elaborassem uma perspectiva mais ampla do mundo e da história humana. Não por acaso, foi também no século XVIII que os naturalistas iniciaram a classificação biológica das diversas espécies e estruturaram as primeiras ideias sobre a evolução geológica da Terra e dos seres vivos.

O sociólogo americano Robert Nisbet (1913-1993), em seu famoso ensaio Idea of Progress: a bibliographical essay (Ideia de progresso: um ensaio bibliográfico), mais tarde transformado em livro, assinala que a ideia de evolução na história humana já existia na Antiguidade. Nisbet aponta o fato de que o conceito de progresso, na acepção de mudança, já aparece nos autores gregos, como o poeta Hesíodo (século VIII a.C.), o dramaturgo Ésquilo (séc. V a.C.), o historiador Tucídides (se. V a.C.) e os filósofos Platão e Aristóteles (século IV a.C.). O filósofo e poeta romano Lucrécio (séc. I a.C.) fala em progresso em seu poema “Da Natureza”. Escreve Lucrécio no livro V de seu poema:

(...) “As armas antigas eram as mãos, as unhas e os dentes, e as pedras, os pedaços de ramos dos bosques, as chamas e o fogo, logo que foram descobertos. Mais tarde se encontrou a força do ferro, e a do bronze” (...) (...) “Depois, a pouco e pouco apareceu a foice de ferro e caiu em desonra a foice de bronze; com ferro principiaram a fender o chão da terra e a tornar iguais os combates de guerra.” (Lucrécio, pág. 113)

Também o filósofo estoico romano Sêneca (séc. I), escreve em suas cartas aos discípulos que até sua época a humanidade já havia progredido bastante culturalmente e que ainda haveria de avançar muito no futuro.

O primeiro pensador, no entanto, a colocar toda a história humana em perspectiva teleológica, segundo Nisbet, foi o filósofo e bispo católico Agostinho de Hipona (354-430). Considerado um dos principais pensadores da igreja, sistematizou grande parte do que mais tarde viria a ser conhecido como teologia cristã. Agostinho foi, efetivamente, o criador da filosofia da história, fazendo uma junção, segundo Nisbet, “da ideia de crescimento e desenvolvimento grego com a ideia judaica de uma história sagrada”. Em sua obra A cidade de Deus o filósofo de Hipona faz a primeira tentativa de uma interpretação cristã da história, representando-a como arena de combate entre duas cidades: a cidade de Deus e a cidade terrestre. Não se trata apenas de um trabalho de filosofia da história, mas antes uma teologia da humanidade; uma interpretação cristã do destino do homem e do mundo. O filósofo francês Etienne Gilson (1884-1978), escreve com relação à Cidade de Deus:

(...) “A mensagem que o bispo de Hipona trazia, pois, aos homens, era que o mundo inteiro, de sua origem a seu termo, tem por único fim a constituição de uma sociedade santa, em vista da qual tudo foi feito, inclusive o próprio universo.” (Gilson apud Riolando Azzi, pag. 33)  

Em seu texto, Agostinho insere ideias de progresso colhidas em autores gregos e romanos, que séculos depois serão retomadas pelos pensadores iluministas. No entanto, o cerne da visão da história humana e do mundo de Agostinho tem suas raízes no cristianismo. Para o bispo, a criação dos astros, do mundo, dos seres vivos incluindo o homem; o estabelecimento de leis e de um destino final para a história humana e do mundo – a parusia – são obras de um Deus que dá uma sentido à história humana e à do universo. A história do cosmos e humana, nesta compreensão, tem uma introdução, uma ação principal e um final; um drama cósmico, centrado na relação da humanidade com Deus. Ao final, os justos passarão a habitar eternamente na Cidade de Deus, enquanto que os injustos povoarão a Cidade Terrestre. Evidentemente, não são fenômenos históricos, como escreveu o teólogo Riolando Azzi, mas entidades místicas. A primeira, a Cidade de Deus, representa a solidariedade no bem, a outra, a Cidade Terrestre ou do demônio, a solidariedade no mal.

Essa visão de um tempo linear, uma história da humanidade e do universo, tendo início e se desenvolvendo em determinada direção, foi retomada, como já dissemos, pelos filósofos iluministas. Foi, aliás, o filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778), quem criou o termo “filosofia da história”. Muito do que se produziu neste período na literatura, teatro, filosofia, política, economia, ciências e na história, está eivado de conceitos e ideias associados à evolução e ao progresso, mas não sob uma ótica cristã. Para o filósofo idealista alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), influenciado pelos iluministas e considerado um dos maiores filósofos da modernidade, o processo da história é a realização do “Espírito” em direção à liberdade. Em suas aulas sobre filosofia da história, Hegel afirma que existe razão (racionalidade) na história, porque “a razão governa o mundo”; a história do mundo é o contínuo progresso da razão. Lawrence Edwards, filósofo e pesquisador do departamento de filosofia da University College de Londres, escreve em artigo na revista Philosophy Now (Filosofia agora):

O que Hegel quer dizer com “razão na história”? Ele tinha em mente uma explicação teleológica – a ideia de que a história se adapta a uma proposta específica ou desígnio (a ideia também é chamada de historicismo). Hegel compara isto com a noção cristã de providência. A análise histórica, a partir da perspectiva cristã, revela o governo do mundo por Deus e a história mundial é compreendida como a realização de Seu plano. Hegel tem uma ideia bastante particular de Deus, o qual chama de Geist (Espírito), significando espírito ou mente. Uma compreensão filosófica do progresso da história do mundo nos capacita a conhecer este Deus; compreender a natureza e o objetivo do Geist.” (Edwards, 2018).

Ainda sobre o conceito de história em Hegel, completa o filósofo brasileiro Jadir Nunes:

“A filosofia da história universal é, para Hegel, nada mais que a descrição do desenvolvimento do conceito de liberdade e racionalidade desde o interior do estado de natureza e selvageria até o estado civil moderno, passando por uma série de estágios que se sucedem no tempo.” (Nunes, pág. 25)

A filosofia da história de Hegel teve forte influência em todo o pensamento histórico e filosófico posterior. Suas ideias inspiraram pensadores como Ludwig Feuerbach (1804-1872), Karl Marx (1818-1883), Friedrich Engels (1820-1895) e influenciaram praticamente toda a filosofia marxista e não marxista dos séculos XIX e XX. As grandes exceções, são o dinamarquês Sören Kierkegaard (1813-1855) e os alemães Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Friedrich Nietzsche (1844-1900).

Assim, temos que o conceito de história foi influenciado principalmente pela religião e teologia cristã, começando com Agostinho de Hipona com sua obra Cidade de Deus, escrita no ano 410. No século XVIII, ainda sob a influência da tradição filosófica cristã, mas já incorporando novos conhecimentos das ciências que se desenvolviam, filósofos como Voltaire, Condorcet, Rousseau, Lessing, Herder e Adam Smith, entre outros, contribuíram para a criação de uma filosofia da história moderna. O marco seguinte foi a filosofia da história de Hegel, a partir da qual os estudos de história não puderam mais prescindir do conceito de progresso; todavia sem a influência da religião cristã. Depois de Hegel, as ideias que orientariam a história humana no imaginário das classes ilustradas europeias, refletiriam o resultado da ação humana e não mais a interferência de uma divindade. Paz, Progresso e Liberdade, seriam os ideais históricos – quase nunca realizados – que figurariam nos programas de governos, partidos políticos, associações, sindicatos de trabalhadores e sistemas filosóficos dos séculos XIX e XX.      

A ideia de uma constante evolução – ou aprimoramento – ao longo do processo histórico, não é, todavia hegemônica. Pensadores como os já citados Schopenhauer e Nietzsche e historiadores como suíço Jacob Burckhardt (1818-1897), o inglês Arnold Toynbee (1889-1975) e o alemão Oswald Spengler (1880-1936) não partilhavam da ideia de um progresso histórico. Spengler, mais radical, afirma que as civilizações têm fases de nascimento, crescimento, declínio e morte. A historiadora inglesa Marnie Hugues-Warrington escreve em seu estudo 50 grandes pensadores da história:

Os historiadores, afirma Spengler na introdução de Der Untergang des Abendlandes (A decadência do ocidente), em geral vêem a história ‘como um tipo de solitária que acrescenta industriosamente em si mesma uma época após a outra’ (vol I, p. 21). Para eles a história é linear e culminaria na civilização moderna ocidental. A Europa, portanto, é o centro da história e todas as outras culturas têm de girar em torno dela.” (Hugues-Warrington, pag. 319/320)

Mais recentemente, o filósofo político inglês John Gray (1948), é mais um dos que se colocam contra a ideia de progresso na história. Escreve Gray em Seven types of atheism (Sete tipos de ateísmo):

A acumulação de conhecimentos na ciência não tem paralelos na ética, na política, na filosofia e nas artes. O conhecimento aumenta em velocidade acelerada, mas os seres humanos não são mais razoáveis do que sempre foram. Ganhos em civilização, ocorrem de tempos em tempos, mas são perdidos depois de algumas gerações.” (Gray, 2018 – tradução nossa)

Atualmente são poucos os historiadores ou filósofos que ainda propõe um “sentido ou objetivo da história humana”. Excetuando os pensadores de orientação político-partidária ou religiosa, a maior parte dos especialistas não considera que o devir humano coletivo, assim como o individual, tenha qualquer propósito predeterminado. A história da humanidade e a do indivíduo concreto “de carne, sangue e ossos”, como escrevia o filósofo espanhol Miguel de Unamuno, é construída a partir das condições históricas em que se desenrolam. Os objetivos, sejam quais forem, só podem ser imaginados e buscados pelos próprios atores. Outro aspecto é que nos últimos trinta anos se generalizou entre os intelectuais a percepção de que a era das “metanarrativas”, aquelas que tentam explicar e dar uma solução integral à história humana, como o cristianismo, o marxismo-leninismo, o positivismo, o cientificismo, etc., acabou junto com a crença nestes discursos, ao longo do século XX. Como escreveu o filósofo contemporâneo italiano Gianni Vattimo:

Não há uma história singular, somente imagens do passado projetadas de diferentes pontos de vista. É ilusório pensar que exista um ponto de vista supremo e onisciente, capaz de unificar o restante.” (Vattimo, pág. 43 – tradução nossa)

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No ocidente, a visão da história humana e a do universo foi e é linear. Tanto para Agostinho, quanto para Hegel, Marx, as elites culturais europeias do século XIX e a esmagadora maioria dos filósofos, historiadores, teólogos e cientistas contemporâneos, o universo – e com ele a história da humanidade – tiveram um início, um desenvolvimento e terão um fim. Para este fim existem várias versões. Há o fim escatológico da religião, com uma batalha final entre Deus e o Demônio, o Armagedon bíblico, seguido do Julgamento Final e a separação entre salvos e danados. Os detalhes deste drama variam de acordo com as diversas correntes religiosas – judaísmo, cristianismo e islamismo – cada uma com seus grupos sectários, interpretando a narrativa à sua maneira.

A moderna cosmologia, ramo da astronomia reunindo diversas áreas de conhecimento, prevê uma morte térmica (ou energética, segundo a segunda Lei da Termodinâmica) para o universo. A hipótese data do final do século XIX, foi atualizada pelas novas pesquisas e permanece atual. De acordo com os dados mais recentes colhidos pela astrofísica, é bastante provável que todo o universo continuará se expandindo “para sempre”. Neste instante, todas as partes do cosmos estão se afastando umas das outras, devido a uma força chamada de “energia escura”, descoberta nos anos 1990. Não se conhece ainda a origem desta atividade, mas já existem algumas teorias sobre ela. Com isso, ao longo de centenas de bilhões ou trilhões de anos (lembrando que nosso universo tem cerca de 13,7 bilhões de anos) as galáxias, as estrelas e os planetas continuarão afastando-se uns dos outros. Em um futuro bem distante, os próprios planetas se desintegrarão, até que a matéria se desfaça em partículas e estas, por final, também desaparecerão. Seria, segundo alguns astrônomos, como se o universo evaporasse.

Desaparece o nosso universo, mas poderá surgir um outro; ou outros, segundo as mais recentes teorias da astronomia. Somente baseados nessas conjecturas científicas é que podemos aventurar a hipótese de que o processo de criação, desenvolvimento e destruição do universo – ou de prováveis outros universos, de acordo com a hipótese dos multiversos (múltiplos universos) – possa ser um processo cíclico, que nunca começou e que nunca terminará. As teorias do universo cíclico ou dos multiversos têm sido elaboradas e estudadas por um número considerável de cientistas durante os últimos vinte e cinco anos. A popular teoria do “big-bang” da formação do universo, apesar de ainda bastante aceita e com considerável número de defensores, já encontra muitos detratores, que se perguntam pelo antes e pelo depois.  

Outras civilizações anteriores à nossa também desenvolveram teorias da história e, principalmente, cosmologias de fundamento religioso. O universo para os antigos egípcios, por exemplo, era cíclico durante uma certa fase de sua existência, para depois deixar de existir. A força Maat – palavra que para os egípcios também significava verdade, equilíbrio, ordem, harmonia, lei e justiça – era personificada por uma deusa, que tinha a função de manter o universo e propiciar o renascimento dos deuses, depois das periódicas destruições. Assim, ao longo das inúmeras eras, o universo e os deuses passam por um constante processo de regeneração, para finalmente serem destruídos. Em uma passagem do Livro dos Mortos egípcio, o deus Atum, protetor das almas dos mortos, afirma que um dia dissolveria o mundo ordenado, o qual retornará ao seu estado inicial, inerte, voltando às águas do caos original. Assim, todas as coisas deixarão de existir, exceto o deus Osíris, deus da vida, da agricultura e do além, que sobreviverá junto com Atum. O mito, todavia, não é claro com relação ao destino dos mortos, associados a Osíris. O que chama a atenção nesta narrativa é o constante processo de renovação, provavelmente inspirado nas cíclicas cheias das águas do rio Nilo, que fertilizavam o solo desértico anualmente, propiciando colheitas que alimentavam todo o império.

Os antigos povos da Mesoamérica, como os maias e os astecas, também compartilhavam de uma visão cíclica do universo, com constantes ciclos de criação e destruição. Os sacrifícios rituais humanos eram, segunda sua crença, necessários para manter o ciclo em operação. Também os antigos chineses, os hindus e os gregos, cada cultura com suas características particulares, tinham uma visão cíclica do universo. Esta interpretação do universo também era compartilhada pelos antigos hebreus, pelo menos até antes do Cativeiro Babilônico (até 537 a.C). Durante o exílio, os judeus tiveram contato com a religião de Zoroastro ou Zaratustra (século VII a.C.), de origem persa, bastante disseminada na Babilônia naquele período. O zoroastrismo foi o primeiro monoteísmo ético da história, tendo elaborado conceitos como o livre arbítrio, Céu, Inferno, Julgamento Final e o Fim do Mundo. Estas ideias tiveram grande influência na teologia do judaísmo pós-exílio e, mais tarde, no cristianismo e no islamismo. Ainda hoje, bilhões de pessoas em todo o mundo compartilham crenças concebidas há quase três mil anos na antiga Pérsia, atual Irã. O zoroastrismo ou masdeísmo, foi provavelmente, a primeira religião a engendrar uma perspectiva linear da história humana e do universo. Apesar desta influência, a literatura religiosa judaica guardou por muito tempo uma concepção cíclica da vida, como escreve o Eclesiastes (Kohélet) (ca. Século III a.C.):

Reconheci que tudo o que Deus faz dura para sempre, sem que se possa ajuntar nada, nem para suprimir. Deus procede dessa maneira para ser temido. Aquilo que é, já existia, e aquilo que há de ser, já existiu: Deus chama de novo o que passou.” (Eclesiastes 3, 14-15)

A cosmologia religiosa que parece mais se aproximar da moderna cosmologia científica é a budista. O físico teórico americano Michio Kaku, em recente entrevista ao jornalista Michael Shermer, da revista Sceptic, afirmou que a visão do tempo linear do universo cristão, é compatível com a visão cíclica do universo budista. Kaku, filho de japoneses budistas, foi educado no cristianismo em uma escola presbiteriana. “Nosso universo, segundo a tradição cristã”, diz Kaku, “teve um início”. “Mas, provavelmente, existem inúmeros outros universos, como diz a cosmologia budista.”

Ateu, o budismo, a religião de aproximadamente 500 milhões de pessoas em todo o mundo, afirma que o universo não foi criado; sempre existiu e existirá. Não houve uma divindade que, em alguma época tenha colocado todo o cosmos em funcionamento a partir do nada, como diz a tradição judaico-cristã, ou a partir de um caos preexistente, como acreditavam os babilônios, egípcios, gregos e muitos outros povos. Para os budistas existem infinitos universos, que se sucedem interminavelmente, evoluindo e decaindo, em ciclos chamados pelos budistas de kappa. Com relação ao kappa, reproduzimos abaixo um discurso atribuído ao Buda (as palavras não são literais):

Certa vez, perguntaram ao Buda qual a duração de um kappa. Buda respondeu:

Imagine uma cidade, cujas ruas são cobertas com grãos de mostarda. A cada cem anos, um homem vai à cidade, recolher um grão de mostarda. Quando todos os grãos de mostarda da cidade tiverem sido recolhidos, terá passado um kappa.

Imagine uma grande rocha. A cada cem anos, um homem raspa esta rocha com um pedaço de tecido. Depois que a rocha tiver desaparecido, completamente desgastada, terá passado um kappa.” (Baseado em Punnadhammo Mahāthero, The buddhist cosmos)

Muitos conceitos relacionados com o tempo, os ciclos e a duração do universo – os hindus referem-se a este processo como o “Dia de Brahma” – o budismo herdou da tradição religiosa hinduísta, ambiente cultural no qual nasceu. Tema constante de estudo de mitólogos, pesquisadores das religiões, filósofos e cientistas, as cosmologias da Índia atraem e maravilham pela grandiosidade de suas ideias e conceitos, diferentes dos antropomorfismos das outras tradições. Esta a razão pela qual tantos filósofos, escritores, artistas e cientistas ocidentais foram atraídos pelas cosmologias orientais, notadamente a budista. Escreveu o filósofo, escritor e monge budista inglês Allan Watts (1915-1973):

“Você é uma expressão do que todo o universo está fazendo, da mesma maneira que uma onda é uma expressão do que todo o oceano está fazendo.” (Watts, s/d - tradução nossa) 

 

Referências

Nisbet, Robert. The idea of progresso: a bibliographical essay. Disponível em: (https://oll.libertyfund.org/page/idea-of-progress-a-bibliographical-essay-by-robert-nisbet). Acesso em 13/04/2021.

Os Pensadores. Epicuro, Lucrécio, Cícero, Sêneca, Marco Aurélio. São Paulo. Abril Cultural e Industrial. 1973: 319 p.

Santo Agostinho. A Cidade de Deus – Vol I – Prefácio de Riolando Rizzi. São Paulo. Editora da Américas S.A. 1964: 446 p.

Lawrence Edwards. Hegel on history.  Disponível em: (https://philosophynow.org/issues/129/Hegel_on_History). Acesso em 21/04/2021.

Jadir Antunes. História e filosofia da história em Hegel. Disponível em: (http://e-revista.unioeste.br/index.php/temasematizes/article/view/536#:~:text=A%20filosofia%20da%20hist%C3%B3ria%2C%20ao,de%20sua%20realiza%C3%A7%C3%A3o%20no%20tempo). Acesso em 21/04/2021.

Marnie Hughes-Warrington. 50 grandes pensadores da história. São Paulo. Editora Contexto. 2008: 399 p.

John Gray. Seven types of atheism. London. Penguin Books. 2018: 228 p.

John D. Caputo y Gianni Vattimo. Después de la muerte de Dios – Conversaciones sobre religión, política y cultura. Buenos Aires. Editorial Paidós. 2010: 271 p.

Eclesiastes. São Paulo. Editora Ave-Maria. 2013: 39 p.

The quest for a theory of everything (Michael Shermer with Michio Kaku). Disponível em: (https://www.youtube.com/watch?v=cDiN1JSdirs&t=13s). Acesso em 14/042021.

Punnadhammo Mahāthero. The buddhist cosmos – A comprehensive survey of the early buddhist worldview, according to Theravada and Sarvastivada sources. Neebing, Canada. Arrow River Forest Hermitage. 2018: 728 p.

Allan Watts quotes. Goodreads. Disponível em: (https://www.goodreads.com/author/quotes/1501668.Alan_W_Watts). Acesso em 23/04/2021


(Imagens: fotografias de Susan Weiss Rose)

 


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