O
país ainda está em plena crise econômica. Mesmo com o crescimento do PIB
previsto em 5,3% para o ano de 2021, a situação econômica do país ainda está ruim.
Mesmo porque, apesar do aumento na produção de riquezas no pais, o PIB acumula
anos de queda e pouco crescimento:
PIB (Produto Interno Bruto)
Ano Variação em relação ao ano anterior
2015
-3,55%
2016 -3,31%
2017
1,06%
2018
1,12%
2019
1,14%
2020
-4,10%
A sequência de crescimentos baixos e negativos da economia do país, faz com que na prática, mesmo com o crescimento previsto para 2021, ainda estaremos em níveis equivalentes a 2014 ao final deste ano. A fraca atividade contribui para que o número de desempregados no país permaneça acima dos 10% desde 2017, sem tendência de diminuição a curto e médio prazo:
Desemprego
no Brasil
Ano
Percentual da população
2015 6,8%
2016 9,5%
2017 12,6%
2018 12,2%
2019 12,0%
2020 11,2%
2021
14,2% (até março)
Isto
sem contar as 33,5 milhões de pessoas – cerca de 39% da população – que atuam
na informalidade e a parcela da população que, depois de tentar por algum
tempo, desistiu de procurar emprego. Para uma economia que já vinha funcionando
num ritmo lento, a sindemia da Covid foi um fator adicional de desaceleração do
crescimento e aumento do desemprego.
Apesar
disso, o Ministério da Economia anuncia que o país voltou a crescer. Depende do
ponto de vista. Para cerca de 80% da população o tal crescimento é praticamente
imperceptível, pois essas pessoas continuam desempregadas, com salários baixos,
afundadas em dívidas, sem perspectivas quanto ao futuro. E aqui coloca-se a
pergunta: a economia existe para a sociedade ou a sociedade para a economia? O
que representa o crescimento de uma economia; mais transações econômicas ou
melhor padrão de vida para a população? Uma é função da outra? Nem sempre. No
capitalismo neoliberal o aumento das transações econômicas não beneficia
equanimemente ou necessariamente toda a população. A afirmação “a economia
voltou a crescer” não quer dizer, portanto, “o povo vive melhor”.
Os
dados sobre o desemprego indicam que de pouco adiantou a reforma da legislação
trabalhista implantada em 2017 – na prática uma redução de direitos
conquistados pelos trabalhadores ao longo de décadas. O argumento apresentado
pelo então governo Temer, era de que a flexibilização da lei desoneraria os
empregadores, permitindo que contratassem mais trabalhadores. No entanto, mesmo
no período anterior ao surgimento da sindemia, não houve acentuado aumento de
contratações. Em 2021 (até julho), segundo dados do governo, foram contratados cerca de 1,5
milhão de trabalhadores, com um salário médio de R$ 1.855.
Enquanto
a maioria dos países está investindo recursos públicos para reativar a economia
– caso dos Estados Unidos e os países europeus especialmente – o atual governo
brasileiro continua mantendo uma política de enxugamento de despesas,
limitando-se à manutenção de programas sociais já existentes e à extensão do
auxílio emergencial. Ao passo que as maiores economias do planeta promovem
novos investimentos em infraestrutura e em áreas estratégicas, mesmo com o
aumento da dívida pública, o Brasil continua seguindo a velha estratégia
neoliberal de corte de gastos – política que atualmente está sendo criticada
até pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), o maior promotor deste tipo de
política econômica no passado. Vale a pena visitar o site Auditoria Cidadã da
Dívida para entender melhor como e por quê os governos brasileiros ao longo dos últimos trinta anos continuam mantendo a política do corte de gastos públicos. (https://auditoriacidada.org.br/conteudo/para-que-tem-servido-a-divida-publica-no-brasil-por-maria-lucia-fattorelli/)
A
pergunta que nos fazemos é por quanto tempo a equipe econômica do atual governo
pretende sustentar esta estratégia econômica. Como será possível manter
indefinidamente grande parte da população com rendimentos baixos, ao passo que
o custo de vida sobe a cada mês, apontando para uma volta da inflação? A
situação da população em geral só faz piorar: a renda média do trabalhador é de
R$ 995,00 em 2021, 11,3% abaixo do valor de 2020, que era de R$ 1.122,00. Não é
por outra razão que 70% das famílias estão endividadas e que 63 milhões de
pessoas estavam inadimplentes em abril de 2021. Também o número de pessoas em
extrema pobreza aumentou para 12,83% (cerca de 27 milhões de pessoas) da
população. Enquanto isso, cresceu o número de bilionários no Brasil durante a
pandemia e os lucros dos bancos aumentaram em 35,2% durante o primeiro
trimestre de 2021.
Uma
das soluções (mas não a principal e única) que a maioria dos países desenvolveu
para melhor distribuir as riquezas, foi a taxação de grandes fortunas. Sobre
este tema o presidente Bolsonaro declarou recentemente: “Dividir riqueza e renda? Alguém conhece algum empresário socialista?
Algum empreendedor comunista? Alguns querem que eu taxe grandes fortunas. É um
crime agora ser rico no Brasil? A França há poucas décadas fez isso; o capital
foi para a Rússia” (Poder360 2/8/2021). Mesmo temendo, segundo o
presidente, uma “fuga de fortunas”, o país terá que encarar o problema da
crescente pauperização de grandes parcelas da população, incluindo parte da
classe média, que também está perdendo seu poder de consumo.
0 comments:
Postar um comentário