“Tal como Taylor, Ford buscará abolir todo trabalho que não gere valor. Seu primeiro objetivo será fixar os/as trabalhadores/as nos postos, evitando deslocamentos pela empresa. Daí a ideia de colocar não apenas o objeto de trabalho, mas as ferramentas e máquinas ao alcance da mão dos/as operadores/as. Os postos e bancadas, aliás, seriam arranjados para permitir uma articulação e um fluxo contínuo entre as diversas operações da fábrica, a fim de que, em cada ponto, fosse agregado valor, com um mínimo de perda em termos de tempo e de deslocamento. Disso emergiu a construção de famosa linha de montagem automática na fábrica de Detroit em 1913, uma adaptação à produção de automóveis de um aparato já usado nos matadouros de Chicago no esquartejamento de reses, cujos corpos eram transportados em carretilhas (Fleury, Vargas, 1983). A linha de montagem de Ford constituía-se de um mecanismo de transferência com movimento contínuo dos objetos de trabalho, que eram levados a quase todas as seções da planta, enquanto o produto sofria a intervenção dos/as trabalhadores/as até que pudesse ser finalmente testado e posto no mercado.
Cada
um dos postos de trabalho deveria ter suas atividades reduzidas (tal como no
taylorismo) a um conjunto de tarefas detalhadamente prescritas em termos de
tempo e modo de execução, bem como quanto às ferramentas a serem usadas, ali
presentes já em lotes e permitindo rápido acesso. O número de postos, sua
disposição espacial, as tarefas e o número de trabalhadores/as eram articulados
visando uma intervenção uniforme, a fim de manter todo o conjunto numa cadência
firme e constante e intensificar tanto quanto possível o consumo produtivo da
força de trabalho.” (Pinto e Antunes, págs. 36 e 37).
“Cabe aqui analisar o alcance maior
dessas experiências. O binômio taylorismo-fordismo foi muito mais que um método
de organização do trabalho e da produção. Foi um movimento de reestruturação
produtiva nos Estados Unidos, visando a ampliação da produção e a extensão do
mercado de consumo. E como tal implicou também uma reformulação da própria
sociabilidade, uma retomada de posição das forças capitalistas contra o/a
trabalhador/a coletivo/a organizado/a. O taylorismo-fordismo foi, enfim, uma
resposta às contradições internas do sistema capitalista, buscando gerar um
contingente de trabalhadores/as facilmente substituíveis segundo suas
qualificações. O binômio taylorismo-fordismo deve, pois, ser entendido como um
conjunto de elementos pertinentes à formação de um novo tipo de trabalhador/a,
adaptado a uma nova configuração de produção capitalista. Visou,
subsequentemente, formar uma nova classe trabalhadora e um ideal de “novo
cidadão”, numa nova ordem burguesa. Em particular, a experiência fordista
delineia, assim, uma trajetória que se estende desde a reformulação da
organização industrial e produtiva como um todo, para desencadear ‘num novo
projeto societário dentro dos limites da reprodução do capital’.” (Pinto
e Antunes, pág. 44).
Geraldo Auguto Pinto, Ricardo Antunes, A fábrica da educação: Da especialização taylorista à flexibilização toyotista
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