“Os
ricos, como ricos, são por si mesmos burgueses; os pobres, como pobres, são por
si mesmos proletários. Uma vez definida esta dicotomia quase óbvia, a análise
marxiana das classes dá um segundo passo afirmando que, além da inserção
efetiva na classe dos ricos ou dos pobres, é necessária a consciência de
pertencer a uma ou à outra. No caso dos proletários, é preciso consciência da
injustiça sofrida. Vou dar um exemplo puramente hipotético: suponhamos que em
um universo de cem pessoas, dez sejam ricas, conscientes de que existem
diferenças de classe e também convencidas de estarem em seu direito, porque,
dizem, ‘sou mais inteligente, meu pai se esforçou mais do que o seu, tenho mais
sorte, porque... porque... porque...; seja como for, sou rico e tenho pleno
direito de sê-lo’. E admitamos que haja noventa pobres, setenta dos quais estão
convencidos de que é natural sê-lo porque lhes disseram na escola, na fábrica,
na igreja. Esses setenta, segundo Marx, são ‘alienados’, ou seja, cada um deles
é pobre, mas raciocina como se fosse um alius,
um outro – um rico.” (Filosofia Ciência&Vida, pág. 22)
Trecho da entrevista do sociólogo, professor e escritor Domenico De Masi (1938-2023) dada à revista Filosofia Ciência&Vida nº 158
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