Leituras diárias

terça-feira, 26 de novembro de 2024


 

“Os ricos, como ricos, são por si mesmos burgueses; os pobres, como pobres, são por si mesmos proletários. Uma vez definida esta dicotomia quase óbvia, a análise marxiana das classes dá um segundo passo afirmando que, além da inserção efetiva na classe dos ricos ou dos pobres, é necessária a consciência de pertencer a uma ou à outra. No caso dos proletários, é preciso consciência da injustiça sofrida. Vou dar um exemplo puramente hipotético: suponhamos que em um universo de cem pessoas, dez sejam ricas, conscientes de que existem diferenças de classe e também convencidas de estarem em seu direito, porque, dizem, ‘sou mais inteligente, meu pai se esforçou mais do que o seu, tenho mais sorte, porque... porque... porque...; seja como for, sou rico e tenho pleno direito de sê-lo’. E admitamos que haja noventa pobres, setenta dos quais estão convencidos de que é natural sê-lo porque lhes disseram na escola, na fábrica, na igreja. Esses setenta, segundo Marx, são ‘alienados’, ou seja, cada um deles é pobre, mas raciocina como se fosse um alius, um outro – um rico.” (Filosofia Ciência&Vida, pág. 22)

 

Trecho da entrevista do sociólogo, professor e escritor Domenico De Masi (1938-2023) dada à revista Filosofia Ciência&Vida nº 158

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